
Hoje conhece o sucesso. Está à frente dos melhores restaurantes da capital, é chef excutivo do Six Sense Douro Valley e é o rosto de um dos programas de maior sucesso da TVI, 'Pesadelo na Cozinha'. Tem um feitio irascível, diz meia dúzia de palavrões em cada frase, é agressivo e violento mas, diz quem o conhece na intimidade, que "tem um coração tamanho do mundo".
Mas a vida de Ljubomir Stanisic nem sempre foi assim. Nascido jugoslavo, a infância de Ljubomir foi vivida na guerra que dividiu o país e opôs sérvios e bósnios. Aos 13 anos foi obrigado a pegar em armas e combater numa guerra que dificilmente compreenderia, foi criança-soldado. Stanisic afirma ter nascido jugoslavo e ir "morrer jugoslavo".
Ljubo, como é tratado por amigos e colaboradores conta como foi obrigado a lutar. "Em 48 horas aprendi a mexer numa bazuca." E acrescenta: "Estou aqui! Sou e fui um guerreiro. Enquanto tu andavas de bicicleta, eu desmontava AK-47".
Para além da experiência de guerra quando criança, a relação com o pai – já falecido – foi péssima. Em entrevista à revista Sábado, Ljubomir diz mesmo que "odiava-o".
Houve um dia em que esse ódio explodiu da pior maneira, na lâmina de uma faca. "Espetei-lhe uma faca quanto tinha 11 anos, porque pôs a minha mãe em coma com porrada. Era um ciumento e um doente do c...", revela o 'chef', dono do Bistrô 100 Maneiras, no Chiado, em Lisboa.
OS PRIMEIROS TEMPOS EM LISBOA
Em 1997, Ljubomir Stanisic vem para Portugal. E o início foi duro, muito duro. O primeiro restaurante que abriu acabou por falir. Ljubo entrou em depressão e instalou-se em casa do amigo Fausto Lopes.
Mas, ao contrário da maioria dos doentes com depressão, o sérvio não conseguia estar quieto. "Quando está em baixo, cozinha 24 sobre 24 horas", recorda Fausto Lopes.
A mãe, Rosa, acompanhou-o, foi ela o principal apoio do jugoslavo nestes primeiros tempos em Lisboa. Depois de saber que o filho estava gravemente deprimido, devido ao falhanço do primeiro restaurante, não hesitou e veio em seu auxílio. "Liguei-lhe. Disse que estava tudo bem... Mas ela, como me conhecia, pegou no carro... Estava na embaixada da Sérvia, na Bulgária, largou o trabalho, perdeu a reforma, dormia comigo no restaurante, em cima das mesas", recorda Ljubomir.
Rosa Stanisic continua em Portugal, com Ljubomir e a irmã. Ambas trabalham com o mais temido 'chef' do país.
O MAIS TEMIDO DOS CHEFS
Ljubomir Stanisic leva os concorrentes à loucura. Vários desistiram de entrar no programa. O próprio chef recusou-se a trabalhar em 2 restaurantes, de tão maus que eram: um no Porto, outro na Margem Sul.
Sobraram 13 resistentes. "Durante os primeiros três dias achavam que estavam a contratar um assassino para os destruir".
Ljubomir é assim mesmo, não mudou nada para programa, não vestiu uma personagem. O mau feitio e a frontalidade estão a conquistar os portugueses e a atemorizar os donos dos restaurantes que pediram ajuda ao programa da TVI. "Não estou a fazer um papel. Aliás, a única condição que impus, quando me convidaram para o programa, foi a de ser como sou".
O bósnio, que já despediu 300 empregados nos seus restaurantes, acredita que é preciso pulso muito firme para que o negócio da restauração corra bem. "Se não fizesse um choque na cabeça das pessoas elas não abriam os olhos. As pessoas estão adormecidas. A p... da vida é monótona. Estão habituados a serem porcos. Faço exatamente o que se deve fazer: abanar as pessoas".
Mas há também histórias de violência, que Ljubo assume, como a história que aconteceu no primeiro restaurante onde trabalhou em Portugal.
A cena passou-se na cozinha. "Sei que o gajo me estava a dizer que não era assim que se cozinhava a carne. Sempre a embirrar comigo, a armar-se em maestro, saca duma faca e começa num monólogo a dizer que os bifes tinham de estar virados para aqui e para ali. Peguei num garfo, virei-me para ele e disse-lhe: ‘Olha aqui a picanha...’. Ele baixa-se, põe a mão na bancada e toma! Uma garfada na mão!"