
Está mesmo decidido a participar na maratona de Nova Iorque?
Já me meti em várias corridas, mas esta é a corrida rainha, é a maratona... As minhas ambições são parcas: apenas o pódio e lutar contra os quenianos (risos). Não. É uma loucura que já tenho há muito tempo, sempre gostei de correr e confesso que nos últimos quatro anos tinha tentado inscrever-me sem sucesso: ora eram precisos tempos oficiais, ou o dorsal era muito caro, assim como a estadia, até que este ano pela primeira vez juntei a vontade, a disponibilidade profissional e o facto de ser patrocinado pela New Balance, e lá vou eu. Tudo se conjugou. Além disso, estou a fazer um esforço a nível pessoal e profissional para não fazer má figura.
Já tinha feito algumas corridas?
Sim, a São Silvestre, algumas provas na zona ribeirinha e o ano passado fiz a meia-maratona e não correu mal. Agora meti-me na maratona com o objectivo real de chegar ao fim. Até lá, espero não ter lesões e que não me aconteça nada (risos). Tenho três meses para me preparar.
Como está a ser isso feito?
Estou com a GFD (grupo de fisioterapia do desporto), que me dão um plano adequado de treinos e onde faço fisioterapia, pois já apareceram alguma pequenas lesões. Treino seis vezes por semana, para além de fazer musculação e fisioterapia. Só há descanso um dia por semana. Estou a correr por vezes 20 quilómetros por dia. Tudo isto levou-me a condicionar um pouco a minha vida profissional, ou seja, não estou a fazer televisão. Está a ser duro, mas acho que vai ser uma prova de superação.
Portanto, o seu objectivo é chegar vivo ao fim?
Sim (risos). Daí o esforço nos treinos, porque não quero sofrer, embora acho que seja impossível ao longo de 42 quilómetros.
Sente-se em forma?
Ainda não. Três semanas antes da prova espero estar!
Tinha o hábito de se manter em forma antes desta aventura?
Corria. E sempre tive cuidado com a alimentação. De há uns anos para cá, tenho mais cuidados, mas por causa da minha filha, Beatriz. Mas não é fácil deixar de comer um bom cozido à portuguesa. Talvez deixe é de comer uma vez por semana (risos). Hoje, tento não cometer avarias, mas quero comer bem. Evito fritos, gorduras, faço um bom pequeno-almoço com fruta, como produtos hortícolas, dou primazia ao peixe e como muitas vezes por dia. E quando tenho um "ratito", evito a tal feijoada.
PODER CIRCULAR POR TODOS OS CANAIS
Deixou há mês e meio de gravar 'Amor Maior'. Como foi a experiência?
Faço um balanço muito positivo. A única coisa que me deixou de pé atrás neste Raul foi a pouca incidência…
... Considera que foi um papel menor para si?Aceitei o papel por ser um grande desafio, por ser diferente do que já tinha feito até então. Não esperava era tão pouca incidência. Mas acontece. Só era bom porque me preparava a 100 por cento para todas as cenas. E tratei-o como protagonista.
Achava que merecia um protagonista?Eu comecei há uns anos a deixar esses papéis por opção. Porque fazer de protagonista em novela obriga muitas horas de trabalho e pouco tempo para preparar e mais facilmente o trabalho não tem o nível de exigência que tu esperarias. O último que fiz foi na RTP1, 'Água de Mar'.
Alguns colegas seus dizem que deixaram de fazer protagonistas porque eles são sempre chatos, iguais…Não concordo. Acho é que é violento para qualquer actor. E há actores que se deixaram seduzir por isso. Não dou importância a isso. Gosto é de fazer personagens interessantes. Por exemplo, nas Poderosas, embora não fosse protagonista, era como se fosse, e era muito interessante o tipo de trabalho que se desenvolveu em torno daquele homem. Acho que esse tipo de crítica, de serem todos iguais, é uma bengala para justificar que não se teve tempo de preparar o trabalho. Embora preparar 30 cenas por dia, todas bem, seja, como todos sabem, impossível.
Não tem casa [exclusividade], circula por todas as estações. É mais fácil assim?Tem prós e contras. Desde que deixei de ter contrato com a TVI, nunca tive tanto trabalho na vida.
Procuram-no mais?Sim, e permite-nos trabalhar outro tipo de projetos, com pessoas e realizadores diferentes. Se estamos parados no mesmo sítio, na mesma estação, e falo por mim, uma pessoa acomoda-se, trabalha menos. Senti que, quando fiquei sozinho, sem contrato até, tinha convites mais estimulantes. E atirava-me, pois sentia que tinha que provar e lutar, mostrar que tinha valor. Isso é estimulante. Os únicos que ganham com um contrato são os canais que ficam com um actor para determinado papel que precisam.
Mas, para quem tem uma filha com quatro anos, a segurança não é melhor do que diversidade?Com uma filha, há uma pressão maior, mas sinceramente tenho tido mais trabalho. Por isso, se calhar, o truque é não pensar mesmo e não me acomodar (risos). E assim os convites não param de surgir.
BEATRIZ E PAULA Com uma filha tão pequena, o que mudou em si?
Com uma filha tão pequena, o que mudou em si?
É um pai presente?Chego a prejudicar a minha vida profissional para estar com a minha filha. Não quero dizer daqui a uns anos: eu não vi, eu não estive tempo suficiente com ela, que podia ter ido a mais reuniões na escola, de lhe ter dar mais banhos, mais sopa, contado mais histórias, dado mais abraço. Faço tudo isso. Sou pai a 110 por cento.
É difícil?É o papel mais difícil que vou ter. Porque, no teatro e na televisão, podes corrigir erros mais tarde, mas, na educação de uma criança, não é que os não possa corrigir, mas fica lá a cicatriz para sempre e reflecte-se nos traços de personalidade.
Esperava ser assim como pai?Esperava ser pior, que fosse correr pior este mistério. Talvez porque eu invisto muito do meu tempo. Mas é muito difícil criar outro ser. Sinto-me uma espécie de Deus sobre o percurso de vida, que depende de mim. Todas as falhas que cometo reflectem-se nela. É uma aprendizagem contínua.
Tira dias para estar com ela?É sagrado! Com banhos, pijamas, histórias e muita música. Há sempre tudo isto. É quase uma religião a que obedecemos, eu e a Paula [Lobo Antunes] cegamente. E depois fazemos imensos disparates. E confesso que, às vezes, a Beatriz tem um bocadinho vergonha de nós (risos). Ela já me chegou a dizer: "Agora menos pai, agora quero dormir. Já está bom." E isso quer dizer que somos pais que a preenchemos muito e que tudo está a correr bem.
Está com a Paula Lobo Antunes há 12 anos. Há um segredo para essa longevidade?O nosso segredo foi, e é, termo-nos conhecido na altura certa e mantermos até hoje algum mistério.
Ainda hoje?Sim, sim… e depois rimos e choramos muito juntos. Não temos vergonha de fazer disparates. Alimentamos muito a relação, às vezes com coisas básicas, como sustos um ao outro. Mas acho que mantemos a nossa relação porque sabemos trabalhar juntos, em separado, porque cozinhamos um para o outro coisas diferentes, porque nos estimulamos intelectualmente e encontramos na monotonia uma calma necessária.
Há romance?Mantemos as portas abertas a tudo.
Quer dizer que tiram tempo só para os dois?Obrigatoriamente. Ainda agora, no Verão, nos festivais de música, aproveitámos para estar os dois para depois, como casal, podermos voltar para a nossa filha mais descansados e com mais estímulos. Além disso, fazemos férias em família e só os dois. Temos boas redes familiares que ajudam. E a Beatriz também gosta de estar distante de nós, e isso é bom de ver. Ver que ela gosta de ser independente e que tem boa auto-estima. E depois é muito engraçado porque, quando ela volta, os abraços são ainda mais satisfatórios.
AGRADECIMENTOS: Bar do Guincho, Desporto GFD.PT e Holmes Place