
Deixem-me falar-vos hoje de uma das repórteres mais versáteis com quem já trabalhei. Ela mudava de registo de forma quase instantânea, e cobria notícias em sucessivos diretos sobre os mais variados temas e acontecimentos. Política, desporto, ocorrências. Sempre com o mesmo profissionalismo, empenho e qualidade. As matérias sucediam-se nas jornadas de trabalho da Marta, repórter de exterior por excelência, e a todas dava resposta competente.
A Marta Louro cresceu numa família que lhe passou os valores do trabalho, da coragem e do sacrifício em prol de um bem maior. Agarrou as oportunidades de construir uma carreira sempre que lhe surgiram. Reentrou no jornalismo, após ganhar a vida na agricultura, e reentrou com a energia inicial. Documentava-se, informava-se, preparava-se, porque sabia, talvez intuitivamente, que o melhor improviso treina-se, e que nada se conquista sem trabalho. Partilhava conhecimentos com colegas da sua geração, incentivava-os, num sinal do bom caráter que era o seu. Ajudava de forma altruísta quem a procurava.
A Marta Louro era uma jovem jornalista da CMTV que morreu num estúpido acidente de mota quando regressava à redação, no fim de uma manhã de trabalho. A Marta merece todas as homenagens.
PROGRAMAÇÃO - DIFÍCIL MAIO
Além do problema da monocultura de 'Big Brother', já aqui diagnosticado e que só tenderá a agravar-se, a TVI fecha abril com duas dificuldades novas. Uma é o novo 'Jornal da Uma', que virou a agulha para temas de crime, sociedade e quotidiano, e reforçou os diretos de ocorrências. Trata-se de uma opção que tem um problema: o mesmo canal tem um jornal popular à uma e um outro noticiário que se pretende mais elitista, às 20. Para dificultar ainda mais, trata-se de um canal que depois surge associado à marca internacional CNN no cabo. Definitivamente, não bate a bota com a perdigota. Os ziguezagues desta esquizofrenia informativa têm deixado o espectador desorientado. Vai ser preciso escolher o caminho que querem trilhar. Outra dificuldade: a nova novela das 7 da tarde, a 'Rua das Flores', é pobre, sem argumento nem personagens que consigam aguentar o horário. Acabará por mudar de faixa horária para ser mais bem defendida, talvez para a hora de almoço. Quanto mais tempo demorar a mudança, maior será o problema da estação às 7 da tarde.
INFORMAÇÃO - FUTEBOL DE LUXO
Agora que está a acabar o campeonato, é tempo de balanço de mais uma época de futebol. Este ano, a Sport TV fez um enorme esforço na produção e realização dos jogos. Nota-se um cuidado maior a evitar repetições desnecessárias que cortam a emoção do jogo em direto. O espetáculo envolvente das bancadas regressou, com o fim da pandemia, e isso reduziu a exposição dos bancos, a que muitos realizadores recorreram quando o vazio da assistência pouca margem de manobra deixava. Para o ano, a crise e a inflação vão afastar ainda mais portugueses dos diretos do futebol, um produto cada vez mais de luxo no contexto português.
Acaba o mês a subir com o final de duas novelas planeadas para o mesmo dia, e os programas do day time com conteúdos vencedores. Mais uma vez, o trabalho de planeamento e de gestão de grelha é suficiente para controlar o ataque da TVI.
Estava plenamente convencida de que abril seria o seu mês. Falhou o assalto à liderança, e sobretudo arranjou um problema novo no horário das 19 horas. Volta a ter à sua frente um futuro difícil para a estação.
A RTP1 está à beira de baixar a fasquia dos 10 pontos percentuais de média mensal, algo que provavelmente irá acontecer no verão, visto que este ano não há grandes eventos desportivos. O serviço público atravessa uma crise sem par na história dos média em Portugal. Veremos se o novo ministro está à altura de galvanizar os melhores espíritos em defesa da RTP.