
À saída da tomada de posse da sua sucessora à frente da Administração Interna, Eduardo Cabrita foi interpelado por um jornalista sobre o futuro. "É o fim da sua carreira política?" A pergunta, legítima e oportuna, causou, porém, um certo espanto ao espectador, visto que uma eventual sobrevivência do antigo ministro nalguma espécie de carreira pública parecia, naquele momento, uma impossibilidade absoluta. Cabrita foi perdendo aos poucos, frente às câmaras da televisão, todo o capital político de que dispunha. Mas o que faz deste caso uma história absolutamente espantosa é que o ministro foi, também, perdendo todo o seu capital humano.
Acaba por sair do cargo com a imagem de uma certa desumanidade, que surpreende todos os que o conhecem bem. A forma fria como falou da morte de um trabalhador, em consequência de um acidente com o automóvel em que se deslocava, marcou, desde o primeiro momento, o destino de Cabrita. Não houve uma declaração de pesar, não houve uma palavra de solidariedade humana com a viúva e com os órfãos, não houve qualquer tipo de amparo nem de contrição. E se começou mal, acabou pior. No último dia, o ainda ministro da Administração Interna reagiu de forma bruta e insensível à notícia da acusação ao seu motorista. "Eu sou passageiro." Uma frase cruel a todos os títulos, e que ficará para a história da política à portuguesa como exemplo máximo da insensibilidade de Estado. Na comunicação em que apresentou a renúncia, Cabrita referiu-se ao que se passou de uma forma que resume tudo: "A viatura que me transportava foi vítima de um acidente." Transformou-se o causador do acidente na coisa acidentada.
PROGRAMAÇÃO - GALA DE SONHO
A Gala dos Sonhos apresentada pela SIC foi um espetáculo extraordinário. A criação da Associação Sara Carreira tem um objetivo altamente meritório, e o espetáculo televisivo fez jus ao valor da iniciativa. Um cenário deslumbrante, uma realização imaculada, atuações musicais que juntaram de forma surpreendente artistas e temas variados. Uma noite de grande televisão. O resultado, acima dos 35 pontos de share, é hoje em dia uma raridade no horário nobre.
INFORMAÇÃO - DUELO NO CABO
Nos primeiros 13 dias com novo panorama no mercado de informação nacional, o balanço é objetivo e deve ser partilhado com os leitores. A CMTV permanece líder destacada. A SIC Notícias ficou em terceiro lugar por 12 vezes. Só num dos dias conseguiu derrotar o canal CNN, cujo arranque lhe tem garantido a medalha de prata, porém em queda desde que começou, resultado natural do esvaziamento da expectativa. As opções de grelha da SIC Notícias não só foram erradas como persistem demasiado tempo. Na SIC, a gestão de Francisco Pedro Balsemão arrisca relegar a informação do cabo para um lugar secundário, o que será um triste desenlace para um canal que marcou a história da última década do século passado.
SOBE - GOUVEIA E MELO
O vice-almirante começa a ser um ator político de relevância, o que pode causar um sismo de intensidade elevada na vida pública portuguesa. Passou a prova de fogo do registo mais intimista normalmente proporcionado pelo Alta Definição com brilhante desempenho, dignidade e ótimo resultado.
Claro que a aproximação da RTP à TVI algum mérito seu terá, mas resulta sobretudo dos erros do canal privado. O desempenho do canal 1 ao domingo, dia do The Voice, ou seja, do formato mais forte do canal, é paupérrimo, com 8,8% de share médio diário. Impensável!
DESCE - PEDRO MOURINHO
O Jornal das 8 da TVI está em dificuldades crescentes, com vários dias em último lugar entre as generalistas. A subalternização, mesmo gráfica, em relação ao modelo CNN foi um erro crasso, e está claramente a ser rejeitada pelo público tradicional da TVI. Voltaremos a este tema.