
Comemorou-se mais uma efeméride do 25 de Abril – este ano com maior alegria e sem máscara – e os partidos políticos fizeram o balanço dos 48 anos de democracia, relevando aquilo que houve de bom e aquilo que, no entender de cada um, foi perda de tempo e desastre financeiro e social. Porém, como vem sendo hábito, nenhum deles se preocupou com os comportamentos desviantes ou criminosos que atravessam a sociedade portuguesa.
Na verdade, somos um dos países da Europa mais seguros. Com menor atividade criminosa e, com exceção do álcool, sem sinais significativos de tormenta no que respeita a comportamentos de desvio.
Porém, se olhar mais de perto esta evidência, percebe-se, numa leitura de longo prazo, que esta insignificância estatística não é resultado de políticas de segurança ativas e consequentes, sendo apenas um indicador do nosso estado de desenvolvimento. Ou de subdesenvolvimento.
Sutherland, um sociólogo que marcou a criminologia, homem da célebre Escola de Chicago, após estudos comparativos entre países, chegou à seguinte conclusão: o nível médio de criminalidade de cada País é semelhante para todos aqueles que se encontram no mesmo estado de desenvolvimento e que aumenta conforme as sociedades enriquecem, continuando a corresponder a outras médias em relação a Estados em situação semelhante.
Isto é, a atividade criminosa é um precioso indicador dos níveis de desenvolvimento, sendo de menor importância social e política naqueles que estão mais atrasados. Projetando este princípio para Portugal, conclui-se que o nosso subdesenvolvimento, o nosso atraso no que respeita à complexidade económica e social, é a condição primeira para que a atividade criminosa seja irrelevante, fazendo parte da mesma magreza de indicadores que avaliam a produção de riqueza, os salários, o rendimento per capita, o grau de escolaridade e todos os outros que nos colocam na cauda da Europa. Este é o paradoxo das sociedades contemporâneas. Quanto mais riqueza, mais crescerá o crime. Na verdade, a nossa Liberdade é a dos pobrezinhos. E não há sinal à vista de que seja de outra forma.