'
Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

Notícia

Coisas de mulheres

Sabia-se, quando o problema se começou a colocar há duas, três décadas, que seria uma marcha dolorosa e pejada de dificuldades. A cultura patriarcal não se vence, no que respeita à luta pela igualdade de género, com discursos pomposos e lugares comuns que enfeitam o panfletismo e a retórica vazia.
19 de março de 2023 às 06:00
...
violência contra mulher Foto: Pixabay

Passou mais um Dia Internacional da Mulher. No fim de semana seguinte, só a GNR deteve 20 agressores no âmbito da violência doméstica. Pelo meio, o Presidente Marcelo deu uma entrevista sobre os seus sete anos de mandato. Fez análise política, comentou, dissertou sobre vários temas, nomeadamente a Justiça, e nem uma palavra sobre a brutalidade que é exercida contra as mulheres. Nem os entrevistadores tiveram essa preocupação. A violência doméstica continua, na verdade, a ser um tema tabu.

A maior dor de cabeça para as autoridades policiais, a atividade criminosa que lidera as estatísticas do crime, que vitimiza duplamente a vítima, cujos resultados, no domínio da prevenção e da educação para a cidadania andam pelas ruas amargura, não vale uma palavra, uma palavra que fosse, sobre sete anos de liderança da República.

É um dado há muito percebido. As elites políticas desprezam as mulheres naquilo que mais fere a sua dignidade – serem objeto de violência desde a agressão até ao assassinato. Os números de participações rondam as 30 mil por ano. Um número sórdido e ignóbil.

Sabia-se, quando o problema se começou a colocar há duas, três décadas, que seria uma marcha dolorosa e pejada de dificuldades. A cultura patriarcal não se vence, no que respeita à luta pela igualdade de género, com discursos pomposos e lugares comuns que enfeitam o panfletismo e a retórica vazia. Que seria difícil convencer o poder, que se fala no masculino, para a luta seria e consequente contra a violência doméstica. O refrão é sempre o mesmo. Temos mais mulheres licenciadas, mais mulheres em cargos de chefia, mais mulheres na política. É verdade e deve registar-se com apreço. Mas do outro lado da moeda, são 30 mil mulheres brutalizadas (e isto pensando apenas naquelas que têm a coragem de denunciar os abusos), agredidas, em pânico, muitíssimas sofrendo para proteger os filhos, fugidas das suas próprias casas. E assassinadas. O ano passado foram 22.

Sabe-se que só existe um caminho perante a enormidade do problema e a indiferença com que é tratado. Resistir sem calar. Insistindo para que a igualdade de direitos seja a base da educação. Resistir e insistir. Mesmo que as palavras doam.

Saber mais sobre

Vai gostar de

você vai gostar de...

Mais Lidas

+ Lidas