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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

Notícia

O golpe

Provocou uma grande inquietação a notícia que dá conta que duas crianças brasileiras terão sido tratadas no hospital de Santa Maria, alegadamente através de uma "cunha" do presidente da República.
14 de novembro de 2023 às 12:01
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Marcelo Rebelo 
de Sousa

Provocou uma grande inquietação a notícia que dá conta que duas crianças brasileiras terão sido tratadas no hospital de Santa Maria, alegadamente através de uma "cunha" do presidente da República, cujo valor dos medicamentos ascende a quatro milhões de euros. A notícia é de tal modo espantosa que escrevo com alguma desconfiança quanto à sua fidelidade.

A ser verdade, repito, a ser verdade, estamos perante uma sucessão de crimes, de atalhos administrativos, de manipulação de dados que revela como o Serviço Nacional de Saúde é corroído pelo compadrio, pelo clientelismo que se apropria dos bens públicos a seu bel-prazer.

Mesmo admitindo, por absurdo, que Marcelo Rebelo de Sousa tenha metido a tal "cunha" não seria possível ministrar tais medicamentos sem uma corrente discreta de cumplicidade que vai desde a tutela política da Saúde, passando pela administração (ou administrador) do hospital e que desemboca no médico (ou médicos) que aceitou a ‘cunha’ para a decisão farmacológica.

É muita gente para se aceitar, de imediato, o abuso de poder, agravado pelo desaparecimento dos documentos que suportariam este ato clínico. Muita a gente para encobrir este eventual atropelo.

Fico satisfeito por saber que as duas crianças se salvaram, independentemente das falcatruas que terão sido realizadas. Não é possível ficar satisfeito, apenas muito incomodado, por saber que existem outras crianças portuguesas a quem o mesmo medicamento tem sido negado devido ao brutal preço que comporta.

É uma ferida muito grave na confiança dos utentes do SNS, criando a ideia de que a balança da justiça divide os doentes entre filhos e enteados. Por isto mesmo, é um paliativo, à boa maneira de Pôncio Pilatos, aceitar que o inquérito agora decidido pela administração do hospital consola a revolta daqueles que precisam de acreditar que as instituições não protegem caciques.

Os danos que provoca na credibilidade pública exige a intervenção da Polícia Judiciária e do Ministério Público para que o País seja esclarecido sobre os factos que estão a gerar esta polémica. Sem partidarites, nem paixões. Doa a quem doer. 

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