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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

Notícia

Sporting em cacos

Aquilo que se passa em Alvalade é, tão só, a micro-manifestação da construção de uma organização totalitária. Ficar-lhe indiferente, é abrir as portas a aventuras bem mais perigosas.
10 de junho de 2018 às 07:00
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Bruno de Carvalho

A profunda crise que está a destruir o Sporting, e muito possivelmente o vai mergulhar numa letargia de décadas, é muito mais do que um acontecimento desportivo. Do centro deste psicodrama fica evidenciada a fragilidade do sistema democrático e da ausência de mecanismos rápidos que consigam repor a ordem jurídica.

Vejamos os factos: neste momento, os órgãos sociais do Clube, com excepção da Direcção, estão demissionários, ou seja, disponíveis para que haja um momento regenerador com a possibilidade de eleições, vistas sempre, quer numa associação quer num país, como instrumento decisivo para interromper crise, situações de ilegalidade, rupturas que criam instabilidade.

No Sporting, bastaram seis elementos da Direcção não se quererem demitir para que o grave problema criado com os incidentes em Alcochete, e as suas sequelas, para lançar o caos. E a construção de um processo vertiginoso de tirania onde o Presidente em exercício, substitui a Assembleia Geral, o que é ilegal, o Conselho Fiscal, o que também é ilegal, decide de marcar Assembleias Gerais de sócios, o que é ilegal, e assume o papel de um déspota, indiferente a gritos, àquilo que são os activos que jurou defender, tornando o clube num projecto de poder pessoal. Esta vertigem de atropelos à lei, pode ser vista como um problema dos sócios. Mas não verdade, não é. Qualquer tirania, qualquer ditadura começa assim: afastando quem controla, irradiando que não apoia, ignorando que protesta, perseguindo quem pensa de forma diferente.

Aquilo que se passa em Alvalade é, tão só, a micro-manifestação da construção de uma organização totalitária. O primeiro caso, após o 25 de Abril, em que assistimos impávidos, e até divertidos, à violação de direitos constitucionalmente garantidos. Como reage o Estado a este afloramento de um mini-poder fascista? Assobiando para o lado. Não é uma questão de poder político mas é uma questão de cultura cívica e política. Ficar-lhe indiferente, é abrir as portas a aventuras bem mais perigosas.

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