
Vamos lá ser sinceros: quando foi a última vez que viu uma novela a sério, daquelas mesmo boas, daquelas que não se conseguem largar, das que prendem, com umas personagens fabulosas, com interpretações daquelas em que ficamos malucos... quando foi? Se eu fizer um esforço, um bom esforço, posso recuar uns dois a três anos até encontrar alguma coisa que me tivesse agradado a sério na SIC ou TVI – os canais que investem a sério no género. Porque, desde então... tem sido uma pobreza franciscana. Ainda a pandemia não tinha começado (em 2020) e já a 'Golpe de Sorte' e de 'Terra Brava', foi o deserto. Na TVI, o desastre seguiu-se à adaptação de 'Quer o Destino'. Há quanto tempo foi isto? É fazer as contas. Quais as razões para a imaginação ter "secado", para o desinvestimento no género "novela" – que ainda é o principal produto de entretenimento na TV generalista portuguesa – acontecer? crise se instalara. Maus temas, pouco investimento, um deixar andar. Na SIC, depois de
Pessoalmente só consigo encontrar uma explicação: tomou-se o público como estúpido. Ou, pior, como analfabeto – esquecendo que os produtos mais vistos nos canais nacionais são os noticiários de horário nobre. Ao imbecilizar o espectador, ao acreditar que ele quer é rir e divertir-se e ver núcleos alegadamente cómicos e piadolas fáceis, nada como transformar o género novela – que nada mais é do que contar uma boa história em capítulos, como num livro, que devem prender de um capítulo para o outro – numa versão longa de sitcom, ou seja, numa comédia básica, sem grande história, que tanto pode começar assim como ao contrário, que não caminha para lado nenhum, mas tem como principal objetivo entreter e despertar o sorriso fácil no espectador. Com esta opção há um duplo assassinato: do género novela, e do género comédia – o mais difícil, complexo de escrever e de interpretar em televisão e que tem por obrigação ser inteligente.
Assim, aguardo com ansiedade boas notícias para esta rentrée televisiva. Espero haver discernimento para investir em qualidade – em que género for – e, sobretudo, deixar de tratar o público como se este fosse burro. Não é. A prova é que faz crescer o streaming e o cabo e que castiga as generalistas. Afinal, quem é o burro nesta história?