Saíste. E nem um beijo. Simplesmente foste. Tinhas certamente muito em que pensar, a empresa, as preocupações, as contas para pagar, os desafios que te esperam, mas foste sem um beijo. Deixaste um até logo distante, que quando foi falado já não estava aqui.
Eu sei: a culpa é minha. A culpa é minha e desta minha cabeça que não pára de pensar. Que não pára de questionar. Que não pára de querer entender tudo e mais alguma coisa.
CARTA AO PREGUIÇOSO ARREPENDIDO: Meu grandessíssimo burro, como querias tu que a paixão resistisse, que a nossa vida, tal qual a sonhámos resistisse, se simplesmente te deixaste cair na preguiça? Como?
Somos do tamanho do que impedimos em nós para magoar quem amamos. Em mim impeço tudo. Se sei que te pode magoar, paro. Se sei que te pode magoar, respiro, acalmo. E não faço.
A ausência é constantemente o que dói: o que de repente, ou não tão de repente assim, deixamos de ter. Melhor ainda: o que de repente, ou não tão de repente assim, deixamos de sentir.
Queria passar pelos dias à procura de te conhecer. Mas temo já saber tudo o que podes ser — o que quer dizer que se calhar já sei tudo sobre o que podemos ser.
Estou a perder-te, sei que estou, e não consigo mudar, não consigo acordar, o mais perigoso é o tédio, o não saber como sair dali, de um buraco que sabemos que fomos nós que cavámos, e que quando mais nos mexemos mais fundo vai ficando.