Costureira, 'marketeira', chef, estrela de televisão.... A vida incrível de Luísa Villar, a mãe de Salvador e Luísa Sobral
Aos 61 anos, Luísa Villar prepara-se para regressar à luta. Conta o que sofreu com a pandemia e recorda os tempos em que não tinha cabeça para trabalhar, por causa da doença do filho.
Luísa Villar já foi várias coisas. Durante 18 anos trabalhou em comunicação e marketing, depois seguiram-se anos como consultora em conteúdos de televisão. Entretanto, criou a Associação Link, uma empresa que fazia a ponte entre instituições de solidariedade e as empresas, e ficou conhecida pela criação da iniciativa Arredonda. Foi costureira, abriu portas a experiências gastronómicas para turistas e escreveu um programa de televisão, que já vai para a terceira temporada. Ah, e um livro que esgotou a primeira edição, 'MesaLuísa'.
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O livro de Luísa Villar, 'Mesa Luísa'
Agora, aos 61 anos, Luísa Villar prepara-se para regressar à luta. Vai ser avó pela quarta vez e está já a preparar o seu novo livro. "Terá também receitas, porque acho que é à volta da cozinha, e da mesa, que se passam as coisas. Em Portugal, ainda há a tradição de estar à volta da mesa, ainda que não seja no dia a dia. E acho que as recordações, sobretudo as da infância, têm sempre a ver com os bolos, com o cheiro a sopa. Nas nossas recordações há sempre o cheiro, memórias de comida, por isso acho muito fácil ligar a comida às pessoas e à sua personalidade", explica à The Mag a autora de 'MesaLuísa'. O nome do livro já publicado é também o do espaço no Páteo Ribeira, em Lisboa, onde oferece experiências gastronómicas e do programa de culinária que tem na SIC Mulher.
OS TEMPOS DE COSTUREIRA E A DOENÇA DO FILHO SALVADOR
"Este espaço é como eu", diz Luísa Villar a rir, referindo-se ao espaço, que tem há 12 anos, junto ao Mercado da Ribeira, em Lisboa, e onde nos recebeu para esta conversa. "É por isso que gosto tanto dele. Já passou por muito, mas acho que este espaço tem alma, tem uma energia super especial, de tal maneira que a minha filha vem para cá compor", diz referindo-se à filha, a cantora Luísa Sobral. "Sinto-me mesmo bem aqui, às vezes venho para aqui só ler. É a minha segunda casa, aliás os turistas acham que vivo aqui, mas eu também não digo nada", confessa, lembrando que o local começou por ser o seu escritório como consultadora, ao mesmo tempo que criou a Associação Link, que, entretanto, também teve de deixar.
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Or irmãos Salvador e Luísa Sobral
"Também não me apetecia continuar a costura, porque a costura nem me pagava a renda."
"Era muito complicado. É muito difícil trabalhar responsabilidade social. Exige muito de cabeça boa, porque estamos o dia inteiro a ouvir coisas terríveis. Não há boas notícias, é tudo muito pesado. E tem que se estar bem para se poder ajudar e eu não estava bem nesse momento, por isso não podia ajudar os outros. E então achei que não conseguia e parei. Foi aí que fiz aqui um ateliê de costura, porque tudo o que é manual é bom para a cabeça e assim estive três anos. Tive problemas pessoais. O meu filho ficou doente e eu também já não tinha cabeça para estar a trabalhar. Aqui passei os três anos mais complicados da doença do Salvador em que tinha de ir todos os dias, umas horas, para o hospital", confessa, lembrando os problemas cardíacos do filho, Salvador Sobral, que obrigaram mesmo o vencedor do Festival da Eurovisão a ser submetido a um transplante de coração.
"O meu filho ficou doente e eu também já não tinha cabeça para estar a trabalhar. Aqui passei os três anos mais complicados da doença do Salvador em que tinha de ir todos os dias, umas horas, para o hospital"
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Salvador Sobral na Eurovisão
Nessa altura, foram os vestidos de noiva, e os outros, que a salvaram. "Dividia-me com o meu marido nas visitas ao hospital e com a costura tinha mais liberdade. Eu não podia ter reuniões, sabia lá, nunca se sabia".
Só que quando tudo parecia estar bem, Luísa sentiu a resposta: "Quando ele ficou bem tinham passado três anos, e esse tempo afastada em comunicação e marketing é morte. Estava enterrada, já ninguém se lembra sequer do nosso nome. Esta vida é um bocadinho triste, mas é a verdade. E calhar também não me apetecia, é verdade, mas de repente uma pessoa fica sem jeito", recorda.
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O cantor continua no Hospital de Santa Cruz.
Foi então que teve de encontrar uma nova vida. "Lembro-me que estava com os meus filhos a pensar no que ia fazer. Também não me apetecia continuar a costura, porque a costura nem me pagava a renda. É impossível, porque ninguém paga nada para ter um vestido. Vão à Zara e compram um por 20 euros. Não me vão pagar a mim 200 por um vestido".
Luísa dá exemplos. "Para ter uma ideia: eu cobrava 800 euros por um vestido de noiva e demorava três meses a fazê-lo, agora imagine. A costura era mesmo para a cabeça, porque não dava para viver, e, entretanto, também tinha de pagar esta renda, e uma coisa é quando a pessoa está stressada com um problema grave, tudo o resto é indiferente. Mas agora, quando o problema está resolvido começamos a pensar. Não podia ter aquele espaço, pagar uma renda e aquilo não ser rentável e até foram os meus filhos que me deram a ideia. Diziam: ‘Tens um espaço ao pé do mercado, falas quatro línguas, adoras falar e cozinhar porque é que não fazes aquelas coisas que fazemos quando vamos viajar, aquelas experiências gastronómicas’. E eu só lhes perguntava: Acham? E eles diziam que era uma boa ideia, que ia ser feliz a fazer isso.", recorda Luísa.
E foi assim que começou o projeto 'MesaLuísa', criado a pensar nos turistas que procuram conhecer a gastronomia portuguesa.
O PROGRAMA DE TELEVISÃO E O LIVRO
Esta conversa com os filhos aconteceu em fevereiro de 2018. "Eles disseram que devia ter tudo pronto para maio, quando viesse a Eurovisão, porque era uma ótima maneira de divulgar e eu disse ok". Luísa conseguiu que fizessem as obras em dois meses. "E, no inicio de maio, fiz aqui três almoços experiência com grupos diferentes, para me darem o feedback e, entretanto, arranquei quando veio a Eurovisão, e o meu filho fez-me uns vídeos a dizer que cantava bem, porque comia muito bem, e foi muito bom, porque tive muita gente durante essa semana", conta Luísa, lembrando o início do seu negócio que parecia lançado.
Só que esses tempos duraram pouco. "A pandemia foi uma desgraça completa. De repente, voltei ao ponto zero e pensei: vou ter que entregar o espaço, porque não tenho como pagar a renda. Além disso, já não era só a renda, porque para ter uma coisa como esta aberta tenho que ter uma série de seguros. Temos também o Turismo de Lisboa que nos cobra umas quotas, e que continuou sempre a cobrar durante a pandemia e, portanto, era complicadíssimo".
Foi nessa altura que se lembrou de tentar a televisão. "Pensei que se conseguisse fazer o programa já tinha dinheiro para pagar a renda e, depois, logo se via", explica Luísa adepta, como a própria diz de "vamos resolver o dia de hoje e depois logo se vê o dia de amanhã".
A verdade é que foi assim que nasceu 'MesaLuísa' na SIC Mulher. A autora enviou o "programa-piloto" para os três canais, mas foi Daniel Oliveira que lhe respondeu, de imediato, a mostrar interesse.
"Pensei que se conseguisse fazer o programa já tinha dinheiro para pagar a renda e, depois, logo se via"
"Na geração da minha filha ninguém cozinha, são os maridos que cozinham, e eu pensei que era engraçado fazer um programa de televisão em que traduzia estas receitas para as miúdas que não sabem o que é assar um pato", explica, salientando que a primeira temporada lhe deu "seis meses de oxigénio" para pagar as despesas. "E depois fiz uma segunda temporada que me deu mais, e ainda bem, porque até quarta, dia 23 de fevereiro nunca mais tive nenhuma reserva", confessa, confiante no futuro.
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As receitas de Luísa Villar
Pelo caminho surgiu o convite da editora Leya para fazer um livro de receitas. "Primeiro disse que não podia fazer, as receitas não eram minhas", conta, adiantando que face à insistência pediu para pensar. "E depois surgiu a ideia de fazer um livro sobre as mulheres do século XX e as suas receitas. São mulheres completamente diferentes das de hoje. Acho que nós nunca pensamos o caminho que essas mulheres tiveram de fazer para chegar ao que somos hoje. Ainda há muito para fazer, mas não tem nada a ver com o que elas lutaram por ser alguém, elas tinham ali um trajeto complicadíssimo se queriam ser diferentes. Em 1930 ainda que não fossem felizes tinham de parecê-lo. Se fosse mãe de família tinha de ser feliz, pelo menos para os outros, depois podia ser a pessoa mais infeliz do mundo, mas aparecia sempre com um sorriso, e de fato muitas delas eram donas de casa e era isso que queriam", conta sobre a pesquisa que a inspirou para escrever 'MesaLuísa', livro de receitas e histórias.
"A pandemia foi uma desgraça completa. De repente, voltei ao ponto zero e pensei: vou ter que entregar o espaço, porque não tenho como pagar a renda"
AVÓ PELA QUARTA VEZ
Em comum a todos os projetos existe em Luísa um gosto enorme pela cozinha. "Cozinhar é relax. Adoro cozinhar nas férias e a maioria das pessoas não consegue perceber isso. Estou na praia e estou a pensar no que vou cozinhar e é a coisa que mais adoro. Adoro experimentar coisas e depois nas férias somos muitos. As minhas cobaias são os meus filhos, o meu genro e a minha nora, e amigos deles. Já o meu marido tudo o que faço ele acha ótimo", revela a comunicadora, explicando que a filha é vegetariana, há 16 anos, assim como a nora, a atriz francesa, Jenna Thiam.
Salvador Sobral e a namorada na Eurovisão
Já o marido, Salvador Braancamp Sobral, com que está casada há 38 anos, e o genro são o oposto: adoram carne e bacalhau. Já o filho, Salvador, "é muito equilibrado". "Se ontem comeu peixe, hoje tem de comer carne. E depois tenho os meus netos que comem tudo. Qualquer coisa que faça comem", diz referindo-se aos netos de cinco anos, três, e de um ano e meio. "E agora vem aí outro" conta, feliz com a quarta gravidez da filha. "Adoro ser avó, é espetacular, porque bate-nos numa altura em que temos muito mais disponibilidade e outra cabeça, salientando: "E cozinho imenso para eles, adoro, adoro".
Com o filho, Salvador a viver entre Lisboa e Paris, porque a nora é atriz "e trabalha muito lá", sempre que o casal está em Portugal, junta-os ao marido, à filha, ao genro e aos netos e fazem todos uma refeição. "Tentamos, uma vez por semana, estar todos juntos e quando eles estão ao domingo juntamo-nos, e é aí que também faço experiências.", conclui.
