
Já foi Tatiana Romanova, numa altura em que tomou hormonas para lhe crescerem as maminhas, assumiu ter sido violado pelo namorado da prima em criança, teve crushes por homens, mas só foi casado com mulheres, viu um vídeo em que aparecia numa orgia com um casal de Famalicão tornar-se viral, já foi preso e desfilou de tanga nos calabouços da Polícia Judiciária. Mais: foi marchand de arte, frequentou a elite de Iorque e tem como companheira a herdeira de um dos maiores diamanteiros americanos. E, claro, foi a sensação de 2004 ao andar aos beijos na boca com Alexandre Frota num reality show. Tudo isto na mesma vida.
Aos 60 anos, José Castelo Branco tem uma história que seguramente serviria de argumento a mais do que um filme e é talvez das maiores figuras de um jet set nacional que tem tanto de aborrecido como de surpreendente. Marcou pela diferença por se assumir como "bicha" num tempo em que tudo era tabu, mas ao mesmo tempo por aparecer como um pai absolutamente comum ao lado do filho Guilherme, o que leva a que muitas vezes se questione quando está, afinal, o marchand de arte em personagem ou a ser absolutamente genuíno.
A pretexto da rubrica '20 anos, 20 histórias Flash!' fomos desenterrar algumas das melhores histórias do 'Conde' - como ficaria conhecido na 'Quinta das Celebridades', reality show da TVI. E das duas uma: se já as conhece, de certeza que não vai deixar de sorrir ao recordar as confusões em ele que esteve envolvido. Se só acompanhou Castelo Branco na segunda metade da sua vida, então prepare-se porque esta é daquelas histórias com bolinha, mas também com uma boa dose de humor porque ao lado do socialite é impossível não se chorar a rir.
O MARCHAND QUE CASA COM UMA "VELHA RICA"
José Castelo Branco começou a dar nas vistas em Portugal em meados na década de 90, numa altura em que negociava arte e aparecia, a espaços, em festas ao lado da então amiga Lili Caneças. Foi nessa altura que, divorciado da mãe do filho, viria a conhecer Betty Grafstein, numa visita que esta fez a Portugal, onde tinha casa em Sintra.
"Eu tinha 32 e a Betty 63, mas só soube a idade dois ou três dias antes do casamento. Pensava que a Betty tivesse uns 50 e tal", conta no livro 'José Castelo Branco: Toda a Verdade', de Ricardo Santos. Na altura, e para resguardar a fortuna da britânica, que tinha sido casada com um milionário joalheiro, os dois assinaram um acordo de separação total de bens. "Estava muita coisa envolvida. A Betty não é uma menina da esquina. Não foi feito um contrato pré-nupcial, mas sim um acordo de separação total de bens e isso abrange muita coisa".
No entanto, quando começou a aparecer nas festas mais badaladas do Algarve ao lado da então sexagenária, Castelo Branco passou a ser olhado de lado, não se livrando da fama de caça-fortunas. Mas, acima de tudo, começou a ser visto. Aparecia então nas revistas cor-de-rosa e as primeiras polémicas despontavam no meio, como que a avisar que aquilo seria apenas o início de um percurso que valeria muitas manchetes aos tabloides e histórias do arco da velha. A primeira teve a ver com uma traição que o socialite não perdoa a Lili Caneças, a quem entretanto virou costas, e se tornou numa das suas inimigas número um... pelo menos na teoria.
"Disse para a Betty não se casar comigo, para ter cuidado, que me tinha tirado da sarjeta. A Betty ficou chocada", recorda.
À conta das divertidas matérias para a imprensa, Castelo Branco e Betty passaram a ser vistos como um interesse acrescido, a fortuna da milionária investigada e a sua coleção de joias passada a pente fino. Há por isso um antes e depois do episódio do aeroporto, em 2003, que catapulta definitivamente o marchand de arte para a fama e lhe muda radicalmente a vida. E a de Betty, claro, que por arrasto passa de uma senhora das melhores famílias a ver o seu nome envolvido em escândalos, polémicas e casos a perder de vista.
DESFILA EM TANGA NOS CALABOUÇOS DA PJ
Castelo Branco e Betty estavam a regressar de uma temporada em Nova Iorque quando no controlo de bagagens são mandados parar e as suas 12 malas passadas a pente fino, principalmente a que continha várias jóias da milionária. Enquanto dizia à mulher para ir para casa que ele tratava do assunto, o socialite ficou a responder à inquirição policial, nomeadamente acerca da veracidade das joias.
"Claro que é tudo verdadeiro, o que é que estava à espera, seu palerma. Tenho lá cara de ter coisas falsas", respondeu ao seu jeito que depois se tornou conhecido um pouco por todo o país.
Foi-lhe então explicado que tinha sido mandado parar na sequência de uma denúncia, que dava conta que Castelo Branco iria chegar a Portugal com o maior diamante negro do Mundo e que, como tal, iria ter de passar a noite no DIAP para averiguaram a veracidade das afirmações.
O que se passará nessa noite nos calabouços da Polícia Judiciária de Lisboa, na Avenida Gomes Freire, é determinante para que o país comece a conhecer a verdadeira personagem de José Castelo Branco. O socialite fez da sua estadia na prisão um show. Contaram então os jornais diários que desfilou em tanga perante os guardas que o mandaram despir completamente para o poderem revistar.
"Disseram para tirar as cuecas e eu tive de as baixar. Agarrei assim à frente, fechei as pernas e aquilo fica como se não tivesse lá nada. Tenho apenas um triângulo minúsculo de pelo, fiz a depilação definitiva à brasileira. Eles olharam um para o outro, abriram a boca e disseram: 'Mas você não tem aí nada? Vire-se ao contrário, abra as pernas e mostre os c...'. Ah, que horror! Nem morta! Eu lá tenho c... A uma senhora não se pode fazer isso", respondeu, provocando a gargalhada geral.
Foi uma noite como os guardas da Polícia Judiciária devem recordar-se de poucas, em que não houve um segundo de silêncio, com os outros prisioneiros a assobiarem e a gritarem incessantemente pelo nome de Castelo Branco.
O socialite acabou por ser libertado no dia seguinte e o Ministério Público concluiu, após uma detalhada investigação, que as denúncias não tinham cabibmento, mas os dados estavam lançados. O marchand de arte tinha-se tornado assunto nacional, despertado atenções e, numa altura em que os reality shows começavam a despontar em Portugal, isso viria a dar-lhe muito jeito.
A 'QUINTA' E A RELAÇÃO ESPECIAL COM FROTA
Corria o ano de 2004 quando José Castelo Branco foi convidado para participar no reality show 'A Quinta das Celebridades' a troco de cinco mil euros por semana. Estávamos na ressaca do primeiro 'Big Brother' que tinha tornado célebres personagens tão inusitadas como o mítico Zé Maria das Galinhas, mas o socialite quis quebrar essa linha e o programa foi o palco para mostrar quem verdadeiramente é.
E a verdade é que desde o primeiro dia deixou os espectadores colados ao ecrã, quer pelas roupas excêntricas que usava, quer pela relação especial que foi construindo com o musculado brasileiro, conhecido da indústria porno, e que estava disposto a fazer tudo pelos seus cinco minutos de fama: Alexandre Frota.
Foi um visionário dos reality. Conta Luísa Jeremias no seu livro 'Planeta Cor de Rosa' que quando ainda ninguém ousava quebrar as regras de conduta deste tipo de programas, já José Castelo Branco tinha arranjado forma de ter um telemóvel à revelia da produção e ligar para o exterior só para saber o que as pessoas estavam a achar da sua participação.
No fundo, o que ele queria era entreter, dar espetáculo. E conseguiu. As massagens a Frota, a cumplicidade, tornou-se num assunto nacional e o beijo que acabaram por dar no reality show foi absolutamente viral numa altura em que a palavra começava a dar apenas os seus primeiros passos.
No entanto, casado com Betty na altura, Castelo Branco é perentório ao garantir que nada de extraordinário aconteceu entre eles. "Claro que havia uma relação, mas as pessoas perceberam que não tinha nada a ver com sexo. Nunca aconteceu nada entre mim e ele. Houve, sim, um certo platonismo. O Frota fazia jogo duplo e eu fechava os olhos. Ele conseguia seduzir-me e não tinha nada a ver com sexo. Vi uma vez a pilinha dele. Ele mostrou-ma quando estava a tomar banho e abriu a cortina. Perguntou se eu queria entrar, eu disse que não. Na 'Quinta', a única coisa em que ele foi mais longe foi com um beijo na boca, um 'chocho'", recordou no livro 'Toda a Verdade'.
No entanto, o que se passou para lá das câmaras com Frota haverá de persegui-lo por toda a vida. E se até aí, José Castelo Branco já se começava a afirmar como uma figura proeminente do jet set português, a participação no primeiro reality show, que venceu foi o passaporte direto para a fama, polémicas e dissabores, que o socialite sobre sempre gerir com humor e vestido de uma personagem que se tornou amada, odiada, mas nunca indiferente aos olhos dos portugueses.
O PRIMEIRO CASAMENTO COM MARIA ARLENE
Antes de saltar para a fama, José Castelo Branco viveu praticamente como um anónimo em Lisboa. Depois de ter passado a infância e parte da juventude em Moçambique - onde admitiu mais tarde ter sido marcado profundamente ao ter sido violado pelo marido da prima e crescido com um pai distante, sem demonstração de grandes afetos - veio sozinho para a capital.
Foi o consumar da descoberta que há muito já tinha feito sobre si próprio. Sentia-se diferente, gostava de usar roupas de mulher e maquilhagem quando ainda poucos ousavam fazê-lo e, curiosamente, foi como inspiração feminina que acabou por despontar numa Lisboa, que abria portas a bares gay e a todo um novo universo para a época.
Começou então a desfilar e a atuar como Tatiana Romanova, tomou hormonas para lhe crescerem as 'poitrines', como chamava às maminhas, e provavelmente assim teria continuado [e até talvez mesmo fizesse a operação para mudar de sexo] não tivesse conhecido a sua primeira mulher.
Apesar de na altura já ter tido relacionamentos com homens, Castelo Branco sempre garantiu que estas paixões eram sempre baseadas num "amor platónico". Por isso, quando após um desfile como Tatiana, conheceu Arlene, que viria a ser a sua primeira mulher e mãe do seu filho Guilherme, o socialite não excluiu esta relação.
"O primeiro orgasmo que tive foi com a minha primeira mulher [...] Na verdade, não sei o que teria acontecido se tivesse continuado [como Tatiana]. Será que me teria operado e mudado de sexo?". Não chegou a saber porque apaixonou-se por Maria Arlene, então assistente de televisão no programa 'Arca de Noé', de José Fialho Gouveia, com quem acabou por se casar em 1981.
Foi o início de uma longa relação de quase dez anos que o fez 'enterrar' Tatiana no passado, moderar as roupas de mulher e experienciar as alegrias da paternidade com a chegada do filho Guilherme.
Seguiram depois caminhos opostos, mas ainda hoje José Castelo Branco garante que o une à ex-mulher uma bonita amizade.
O VÍDEO DAS ORGIAS E FESTAS DE SEXO COM FUTEBOLISTAS
Qualquer figura pública portuguesa que já tivesse envolvida em metade das histórias de José Castelo Branco teria o seu nome arrastado pela lama, seria ostracizado pelo público, e provavelmente desacreditado por todos, mas o marchand de arte soube sempre resistir. Talvez seja a capacidade de dar sempre resposta a tudo o que lhe perguntam, a maior parte das vezes com humor, e de nunca se esconder dos problemas, mas a verdade é que polémicas e polémicas depois cá está ele, mais popular do que nunca.
Um dos mais controversos episódios aconteceu em 2011 quando foi divulgado que José Castelo Branco aparece a participar numa orgia, num hotel de luxo, com o empresário de Famalicão João Ferreira e a mulher deste. Foi um escândalo sem precedentes, com as imagens do momento em que o socialite aparecia alegadamente a ter sexo anal a caírem na internet.
O caso chegou mesmo a tribunal e, como seria de esperar, foi todo um show perante o juiz. O socialite quis ver as imagens para saber se era mesmo ele que estava a ter sexo no vídeo e confirmar se teria tido "aquele orgasmo". Foram páginas e páginas de notícias, que no entanto não abalaram o casamento com Betty, que às tantas já parecia ser à prova de bala.
"Foi uma coisa que me sangrou muito, interiormente. Sofri horrores com essa porcaria, com esse nojo. A Betty e eu chorámos e vomitámos quando vimos o vídeo. A Betty só dizia que aquilo era mesmo nojento. Mas nem tudo era mau. Havia uma coisa boa: 'ao menos, as pessoas podem ver que és mesmo um homem. E que tens um grande pénis'", explicou-se mais tarde José Castelo Branco, que sempre negou um envolvimento consciente na órgia.
Até porque nessa altura da vida já estava longe dos tempos promíscuos quando chegou a Lisboa, em que garante ter participado em festas de sexo com antigas glórias do futebol, nomeadamente do Benfica.
"Cheguei a estar num quarto cheio de jogadores da bola, a agarrarem-se uns aos outros e depois queriam comer-me. Dei uma de dominadora, deixei-os fazer tudo e depois disse que não me podiam tocar. Nesse quarto eram seis futebolistas de topo, dois deles do Benfica", referiu no livro biográfico sem revelar as identidades.
Excêntrico, mordaz, engraçado e também pai e agora avô de família, há poucas coisas que José Castelo Branco não tenha feito e poucos dedos que não lhe tenham sido apontados, mas ele mantém-se à tona. Mais mês menos mês, há sempre uma nova polémica a colocá-lo no topo dos sites, nas capas de revistas - a última foi uma dívida de Betty ao Fisco - mas o marchand sobrevive como uma lenda. Recordar a sua história é sempre deixar partes de fora: os empregados que o acusam de maus-tratos, o dia em que foi apanhado a roubar um perfume no aerorporto e detido, a troca de insultos com André Ventura e tantas outras 'aventuras' que se fosse qualquer outra pessoa a fazê-lo poderíamos ter dificuldade em acreditar que fosse verdade. Assim, encolhemos os ombros, abanamos a cabeça e dizemos simplesmente: é mais uma do Castelo Branco.