
Publicamos na íntegra os comentários do antigo inspetor da Polícia Judiciária, Francisco Moita Flores sobre o caso que está a abalar o País.
"SEM PALAVRAS: Hesitei na foto que deveria publicar com este texto. Apeteceu-me mostrar a brutalidade da morte. Mas contive-me. Sei que este 'post' pode ser visto por crianças ou jovens. Ontem, no Seixal, um tipo degolou a sogra para raptar a filha de dois anos. Julgar-se-ia que numa separação litigiosa, o homem reivindicava a posse da filha. Não! Matou a criança. Fugiu. Quando a cabeça esfriou, decidiu pôr termo à vida. Sei que não há soluções fáceis para esta tragédia. Num mês e uma semana de 2019, foram assassinadas 9 mulheres e uma criança de 2 anos.
Sei que a Justiça tem mão leve, para não dizer desleixada, para a violência doméstica. Sei que os preconceitos, a humilhação, a vergonha, o medo enclausuram as vítimas no seu próprio silêncio. Sei que o álcool e a drogas potenciam esta violência extrema. Sei que a escola não dá prioridade à formação de gente boa, fraterna. Estimula a competitividade, exalta o culto dos sábios em matemática ou geografia, ou noutra disciplina qualquer. Procura formar sábios. Não se preocupa em formar crianças espiritualmente saudáveis.Ignora a educação moral e cívica.
É o mito de Auschwitz, onde grandes cientistas assassinavam cruelmente milhares de presos como cobaias das suas investigações. Grande sábios, homens maus. Enquanto isto, os professores estão amarrados à Escola das fichas, ao trabalho administrativo, impedidos de cumprir a sua função em plenitude: ensinar e formar. E as famílias não estão motivadas. Nem a Igreja. Afinal de contas, nós todos vivemos ou protestamos contra as consequências da violência doméstica. Mas Pôncio Pilatos é quem mais ordena. Lavamos as mãos. Chegado aqui, sabendo tudo aquilo que sei, também não sei nada. Apenas que já morreram 10 mulheres. Uma delas criança."