Antes de acertar nos números mágicos do Euromilhões, Amélia de Jesus era empregada de limpeza e trabalhava para se sustentar a si e aos filhos. Depois de arrecadar 41 milhões de euros [o que sobrou depois de descontados os devidos impostos de um prémio de 51,6 milhões], a euromilionária de Ariz, em Marco de Canaveses, nunca mais precisou de fazer contas à vida.
Ao longo dos últimos anos, as suas excentricidades têm dado que falar. Comprou imóveis, carros de luxo, roupas e joias, proporcionou festas aos seus conterrâneos, ofereceu presentes a uns e a outros… sem nunca olhar a custos. Também mudou a imagem. Gastou 30 mil euros para colocar um bypass que a ajudou a perder 36 quilos dos 83 que pesava.
Agora, a euromilionária volta a ser notícia pelo caixão que comprou. O escritor Luís Osório dedica-lhe um 'Postal do Dia': "Amélia de Jesus não é a mulher mais popular do mundo. Ela dirá que é tudo inveja, mas o povo proclamará o contrário, que o dinheiro lhe subiu à cabeça, que é doida e excêntrica. Sem a conhecer acho-lhe graça. E invejo-a na mesma proporção. Ganhou 51 milhões de euros no Euromilhões e jurou a si própria que agora era a sua vez de brincar."
Continua a discorrer o escritor: "Já chegava de sofrimento. Já chegava de fazer trabalho de empregada de limpeza na Póvoa de Varzim, para onde foi viver após a morte do marido, tinha apenas vinte e três anos e dois filhos para cuidar. Levantou o cheque há uns dez anos e não levou muitos dias a dar corda aos seus desejos. Comprou casas, carros e a roupa que finalmente podia usar, roupa de ricos, perfume de ricos, comida de ricos, hotel de ricos, ouro, mirra e o que havia de melhor."
Diz ainda Luís Osório sobre Amélia de Jesus: "Comprou roupas fidalgas para que a sua mãe pudesse viver os últimos anos com dignidade, ela que fora peixeira a maior parte da vida. Começou a andar num Porsche verde alface, mas pagou a pronto um Austin Martin e um Jaguar – ainda pensou num Bugatti igual ao de Cristiano Ronaldo, mas acabou por não acontecer. Recentemente, Amélia de Jesus, nascida e criada em Marco de Canaveses, e desterrada na bela Póvoa de Varzim, comprou um caixão especialmente pensado para si e construído com muito amor no Brasil. Um esquife de pau santo que veio da Amazónia e lhe custou mais de 200 mil euros – jura que assim conquistará a imortalidade, afinal não há morte que possa resistir a um caixão assim."
E termina: "O povo diz que estoirou tudo, que a massa se evaporou. Inveja certamente. Como a minha. Que todas as semanas faço duas apostas para ver se consigo investir num assim, vindo da mais bela selva, benzido com os melhores fluídos, um bilhete para a eternidade. A Amélia é que a sabe toda. Ri-se com prazer quando lhe dizem que estoirou tudo, que gastou até ao último cêntimo os 51 milhões. Que o caixão foi o seu último cartucho. Ri-se com prazer e responde que tem notas um pouco por todo o lado, mas mesmo que não as tivesse gastou do bom e do melhor, que comeu do bom e do melhor, que andou em grandes carros e que descansará num caixão mais espaçoso e cómodo que o nosso."
