Quando, em 2016, Éder marcou o golo decisivo que deu o título de campeão europeu a Portugal, o jogador ergueu a sua luva branca, com a palavra "Believe" escrita e apontou para um ponto específico na bancada. Na altura, não se sabia quem era o destinatário do gesto, mas ainda com as emoções a quente, no final do jogo, o craque esclareceu, proferindo uma frase que se tornaria famosa e faria correr, nos meses e anos seguintes, muita tinta. "Quero dedicar o golo à Susana Torres, a minha coach de alta performance. Vocês têm que a conhecer", disse aos jornalistas, suscitando a curiosidade em torno dessa mulher que o tinha ajudado na conquista do sucesso
Na altura, os dois eram inseparáveis. Tinham-se conhecido anos antes quando Susana foi ao estádio do Braga, após um jogo, com a filha para pedir uma fotografia com Éder. Ele não só acedeu como ofereceu à criança a sua camisola. Como agradecimento, Susana disse que era coach de alta performance e ofereceu os seus serviços, caso o jogador ou alguns dos seus contactos precisasse. No dia seguinte, já estava em casa do futebolista para a primeira sessão, conforme revela no livro que escreveu com Éder, a quatro mãos, após o Euro 2016, 'Vai Correr Tudo Bem'.
De acordo com Susana, o que encontrou foi um jogador desmotivado, algo perdido nas suas ambições. Começaram então a trabalhar em conjunto e, de acordo com a coach, os resultados começaram a aparecer. "Parecia que ficava desbloqueado depois das sessões. O que antes encarava como um problema transformava-se em desafio a enfrentar nos dias seguintes. Era um sentimento muito bom e libertador", revelou no livro.
Éder como que depositou o seu destino nas mãos de Susana. Confiava na coach como em poucas pessoas, ao ponto de revelar-lhe os seus maiores segredos. Foi então que abriu o jogo sobre a sua história de vida dramática, algo que na altura tentava reprimir. Éder era bebé de colo quando veio da Guiné para Portugal viver com a mãe e com o namorado desta e tudo corria bem até que aos 3 anos de idade, o seu pai, com quem não tinha relação, apareceu em casa. Na altura, só se encontrava o namorado da mãe em casa e, astuto, o pai apresentou-se como sendo um tio que queria levar o sobrinho a comer um gelado. Os dois saíram de casa e nunca mais voltaram. Éder ficou então à guarda do pai e só voltaria a ver a mãe muitos anos mais tarde. No entanto, a falta de condições fez com que, mais tarde, o progenitor o entregasse a uma instituição onde passou a maior parte da sua juventude.
O relato dramático uniu ainda mais Éder a Susana. Passaram a ser inseparáveis. Nascia, além das sessões de coach, uma amizade que levou a coach a acompanhar o jogador em Inglaterra, quando este concretizou o sonho de jogar na Premier League. E era este o estado das coisas quando chega o Euro 2016. Antes do jogo decisivo, o jogador estava no pico da sua autoconfiança e confidenciou a Susana: "Vou marcar o golo da vitória, sinto que é hoje e no que depender de mim isso vai acontecer, prepara-te." "Depois, vou à Flash interview e vou mencionar o teu nome", disse Éder que usava a luva branca na qual Susana tinha escrito "Believe" (acredita). O resto já sabemos. Éder acreditou tanto que deu o título a Portugal, cumpriu a sua promessa e tornou famosa a coach que, segundo o próprio, o ajudou no caminho para a vitória.
ESTALA A GUERRA ENTRE OS DOIS
A segunda parte da história conta-se na atualidade. Em conversa com Joana Marques, na Renascença, Éder Lopes decidiu, pela primeira vez, quebrar o silêncio e falar sobre um assunto que o andava a incomodar há anos. Não queria mais ser ligado a Susana, não fazia sentido. Olhando para trás, denunciava mesmo que a coach se tinha aproveitado do seu sucesso para prosperar. E se durante muito tempo fechou os olhos a essa situação, era tempo de pôr cada coisa no seu devido lugar.
O que ele foi dizer! As frases provocaram a ira de Susana que partilhou um longo vídeo ao contra-ataque.
"Nestes últimos dias, num enquadramento que é tudo menos inocente, o Éder foi convidado a vir da Bélgica a Portugal para participar num programa que tinha propósitos e objetivos muito claros. Toda a gente percebeu que aquilo não foi uma entrevista, mas sim algo cuidadosamente preparado com um único objetivo, atingir-me. Com perguntas previamente elaboradas e pedidos de comentários a certos pormenores, o Éder cumpriu o seu papel no ataque que estava devidamente preparado, acabando por dar respostas, as respostas pretendidas. E lá conseguiram que ele dissesse tudo, menos a verdade. Conseguiram mesmo que ele dissesse que dar-me um pontapé era mais importante que o pontapé do golo da final, pelo qual sempre o iremos lembrar", afirmou Susana Torres, para continuar no seu longo relato de ataque a Éder.
"Pergunto eu, já não como profissional, mas apenas como Susana. Como lembras o tempo em que, por razões que não tinham nada a ver com futebol, te refugiaste na minha casa, morando com toda a minha família, que te acolheu e te apoiou, com quem tu estavas quando recebeste a notícia da tua convocatória para a Seleção? Talvez eu fosse a última pessoa a merecer que ele tivesse feito isto."
Foi apenas o início de uma guerra que está longe de chegar ao fim. Perante o ataque de Susana Torres, Éder decidiu pôr os pontos nos 'is' e explicar que a relação azedou muito mais cedo do que as pessoas pensam, pouco depois do jogo que mudou a sua vida no Europeu de 2016.
"Deixei de trabalhar com a Susana em outubro de 2016, quatro meses depois do Campeonato da Europa, porque percebi que já não tínhamos o mesmo objetivo: eu queria concentrar-me na minha carreira de futebolista e a Susana queria que eu pedisse folgas ao meu treinador para vir a Portugal dar entrevistas para promover o seu trabalho (incluindo o livro para o qual cedi a minha imagem e história, sem receber um cêntimo em troca). Mais uma vez reforço que não me arrependo de nada do que fiz nessa altura. Talvez tenha sido ingénuo. Aquilo a que assisti nos últimos anos foi um aproveitamento da minha história por parte da Susana Torres, apropriando-se inclusivamente daquele golo na final do Euro'2016. Fala dele como sendo dela, quer em entrevistas, quer no seu site onde podemos ler 'um campeonato europeu de futebol conquistado'. É um detalhe, porém, bastante revelador da postura adotada pela Susana Torres", escreveu o jogador num longo comunicado em que descreve, uma por uma, as alegadas mentiras prosperadas por Susana.
"Assisti a tudo isto calado, nos últimos sete anos, e, já que falamos em gratidão, creio que Susana Torres podia ser-me grata também por esse meu silêncio. Acredito até que as invenções tenham vindo a ser cada vez mais exageradas porque a Susana acreditou, conhecendo o meu perfil, que eu nunca a desmentiria. Acontece que, há dias, num programa da Rádio Renascença, fui confrontado com algumas das declarações que a Susana fez sobre mim. Tive, obviamente, que dizer que são falsas. Ser grato é permitir que a outra pessoa minta a nosso respeito? Não creio. Não tenho qualquer interesse em alimentar guerras nas redes sociais, pelo que esta será a primeira e última publicação que faço sobre este tema. A Susana Torres pode continuar a fazer vídeos e a tentar manipular a opinião das pessoas como entender, essa é mais a área de especialização dela, não a minha. Estarei sempre agradecido pelo processo de coaching que fiz com a Susana Torres, num período difícil da minha carreira, mas a Susana como pessoa já perdeu o meu respeito há muito tempo."
Foram os últimos capítulos de uma guerra pública que levou os fãs de Éder à ira, a ponto de explodirem nas redes sociais de Susana, que foi arrasada. É também, para muitos, um motivo para refletir sobre o papel do coaching, tão na moda, na vida das pessoas, e até que ponto é que não pode explorar as suas vulnerabilidades.
Quando Éder e Susana se conheceram, o jogador estava num mau momento de forma, o seu ego, como afirmou "reduzido a um grão de areia" e a coach terá sido uma mão amiga para enfrentar a fase mais difícil. Mas depois houve o reverso da medalha com o craque a perceber que as intenções da coach não terão sido genuínas, quebrando o ciclo vicioso. Agora, a experiência de coaching é algo que Éder quer mesmo remeter ao passado, não esquecendo o que se passou, para o bem e para o mal.
