
No último domingo, dia 2 de março, Demi Moore pisou a passadeira vermelha de acesso ao Dolby Theatre, para a cerimónia dos Óscares, irrepreensível. Com um vestido prateado Armani Privé, nada na sua figura indicava os seus 62 anos. A estrela brilhava em todo o seu esplendor: os braços acenavam tonificados, o pescoço surgia reto, esticado, maçãs do rosto salientes, lábios desenhados e poucas rugas em redor dos olhos. Entre os flashes e luzes, confundia-se com as mais jovens atrizes e qualquer semelhança com a personagem do filme que a indicava aos Óscares - onde perderia o título de Melhor Atriz para Mikey Madison - era pura coincidência.
Em 'A Substância', Demi Moore dá vida a uma estrela em declínio, que decide experimentar uma droga no mercado negro que promete ser um elixir na juventude, com consequências devastadoras. Numa série de entrevistas em que promoveu o filme, ela falou, inclusivamente, do seu lado mais pessoal para garantir que ela própria tinha deixado de ceder à pressão dos tratamentos estéticos para assumir uma imagem mais natural, ainda que muitos a acusem de ter um discurso hipócrita, uma espécie de faz o que eu digo, não faças o que eu faço, uma vez que são vários os relatos que dão conta de uma fixação da atriz pela juventude, o medo de ser passada para atrás numa indústria que vive do belo e castiga as rugas.
Num artigo feito recentemente pelo 'Daily Mail' é apontado o valor de 250 mil euros como uma base do que Moore terá feito entre cirurgias e tratamentos estéticos. Entre os mais conhecidos estão uma mamoplastia, uma cirurgia para levantar as pálpebras, uma operação para retocar o nariz e o famoso lifting facial que fez com que, em 2021, aparecesse no desfile da Fendi praticamente irreconhecível com várias críticas à sua imagem. De lá para cá, terá passado a optar por tratamentos menos invasivos, como preenchimentos faciais, botox e outras técnicas que lhe permitam manter o rosto jovem, mas de uma forma menos artificial.
No meio desse processo, bateria no fundo, no final da sua relação com Ashton Kutcher, tendo revelado durante uma entrevista com Jimmy Fallon, no The Tonight Show, que a sua vida passou a ser tudo menos a de uma sex symbol, partilhando uma fotografia na qual aparece, inclusivamente, sem um dos dentes da frente para explicar como o perdeu. "Eu perdi os dentes da frente. Adoraria dizer que a andar de skate ou algo radical, mas acho importante partilhar que foi devido ao stress", disse a atriz, que ficou bastante vulnerável depois da situação e agradeceu à maravilhosa evolução da ortodontia, que fez com que fosse capaz de recuperar o seu sorriso.
Para Demi Moore tem sido uma batalha aceitar a sua idade. Ela que já fez toda a espécie de nus em cinema e cresceu numa geração em que o papel das mulheres no cinema ainda era, por vezes, muito sexualizado, assume as marcas deixadas por essa pressão. Enquanto todos - homens e mulheres - a consideravam uma sex symbol, a atriz torcia o nariz àquilo que via no espelho, nunca estava satisfeita e admite que muitos dos papéis que aceitou, os mais ousados, foi até para provar a si própria que estava errada, para de alguma forma se empoderar.
“Um dos maiores equívocos que se criou em relação a mim é que eu amava o meu corpo. A realidade é que eu encarei grande parte dos projetos em que tinha de fazer cenas mais ousadas como uma oportunidade de me ajudar a superar as inseguranças com o meu corpo. Foi a mesma coisa com as capas da 'Vanity Fair' - em que surgia nua. Não é que eu tenha gostado. Eu queria libertar-me espaço de escravidão em que eu me tinha me colocado", disse em entrevista Demi Moore, que admite ter feito um processo de auto-aceitação, muito ajudada pela família, que incentiva a amar os seus 62 anos com rugas.
Demi Moore ainda não chegou a esse ponto, não sabe se algum dia lá chegará, mas o facto de ter colocado em causa as cirurgias de bisturi e passado a optar por tratamentos mais harmoniosos abrem portas a uma nova mulher. Ainda não foi no último domingo que a estrela viu a sua carreira premiada com um Óscar, mas este foi sem dúvida um ano em que Moore voltou aos holofotes mediáticos como tendo-se reinventado, mostrando que os seus 62 anos são aquilo que faz deles, com mais ou menos retoques mágicos.