Durante anos foi a personalidade menos convencional do mundo aristocrático. Os penteados excêntricos, as roupas chamativas e de estética punk para além de uma "língua solta" fizeram de Gloria von Thurn und Taxis uma figura muito mediática. Nos anos 80 – altura em que ainda não existiam redes sociais nem para lá se caminhava – a princesa alemã não saía da capa das revistas. Havia sempre algum pequeno escândalo que serviam de mote para fazer notícia com a ousada aristocrata.
Mas como é que Gloria se tornou numa personagem tão mediática? Tudo começou quando o seu destino se cruzou com o príncipe Johannes von Thurn und Taxis, 34 anos mais velho. A jovem, nascida no seio de uma família com títulos nobiliárquicos, sonhou em ser atriz. E foi esse sonho que a levou a Munique para tentar a sua sorte na escola de Teatro e nos palcos. Foi na capital da Baviera que conheceu o solteiro mais desejado da Alemanha, na altura. Com uma fortuna avaliada em milhões, o príncipe do jet set parecia não querer um compromisso sério. Talvez por isso corriam rumores de que Johannes estava mais interessado em relações homossexuais do que em jovens mulheres. Não se confirmaram estes boatos, mas uma coisa é certa: o casamento com Gloria, nascida von Schönburg-Glauchau, foi um verdadeiro acontecimento no ano de 1980. E uma esperança para a casa secular Thurn und Taxis que precisava de um herdeiro que assegurasse a sua continuação. Falou-se, por isso, num casamento "arranjado".
CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA
Herdeiro esse que já estava garantido por altura do casamento. Quando os sinos tocaram no dia 31 de maio de 1980, na Basílica de St. Emmeran, em Regensburgo, a noiva – com apenas 20 anos – que desfilou num líndissimo vestido criado por Valentino já ia grávida. Talvez o primeiro grande escândalo em torno de princesa que havia crescido no seio de uma família muito tradicional, católica e muito conservadora. Mesmo com as suspeitas de que esta união não aconteceu por amor a verdade é que Gloria abdicou do sonho de ser atriz e dedicou-se aos três filhos [o casal teve duas filhas, Maria Theresia e Elisabeth, e o tão esperado herdeiro, o príncipe Albert] e ao marido.
Em 1983, já com a sucessão assegurada, Johannes voltou à sua vida boémia. Enquanto isso, Gloria ficou com as crianças. Fechada no palácio de St. Emmeran, em Regensburgo. Só que esta situação tornou-se intolerável para a princesa. Ansiava por viver. Por se divertir e a papel de mãe estava longe de a preencher. Foi nessa altura que abandonou o seu dirndl – traje típico alemão – e se transformou na princesa ‘punk’. Passou a fazer-se notar. Tanto que privou de perto com figuras como Mick Jagger, Prince, Keith Haring, entre tantas outras figuras do mundo artístico e do jet set internacional.
DE PRESENÇA HABITUAL EM FESTAS A EMPRESÁRIA RECATADA
Ela andava de festa em festa e o marido fazia igual. Cada um para seu lado! Levavam um estilo de vida frívolo, boémio e nada regrado. A saúde do príncipe começou a acusar os excessos. Enfrentou graves problemas cardíacos dos quais veio a morrer com apenas 64 anos. Só que antes deste desfecho fatal, Johannes ainda teve a lucidez de "passar" a gestão dos seus negócios à mulher. Foi ela que acabou por salvar o império da família da falência. Com a vida a dar uma reviravolta inesperada, Gloria optou por abandonar o estilo de vida que tinha conduzido o marido à morte precoce. Retirou-se da vida pública, foi estudar administração de empresas, contratou novos gestores e reduziu dívidas. Organizou um leilão de inventário e joias, cujas receitas serviram para pagar parte do imposto sucessório no valor de cerca de 25 milhões de euros.
Com a viuvez, a rebelde e excêntrica princesa deu início a um profundo processo de transformação. Embora ainda conserve parte da sua extravagante personalidade [quando vai à missa dominical usa a sua Harley Davidson], hoje em dia Gloria von Thurn und Taxis é uma mulher com uma imagem clássica, além de ter adotado um estilo de vida mais conservador. Digno de alguém que vive num palácio e gere uma imensa fortuna familiar. Dedicou-se à pintura, escreve livros e faz leituras místicas.
"SUA ALTEZA SERENÍSSIMA, A LOUCA"
Mas a controvérsia continua a fazer parte da vida da princesa. As suas posições ultra-conservadoras e a sua aproximação ao partido AfD - Alternative für Deutschland – a extrema direita alemã tem dado muito que falar. Declarações altamente polémicas valeram-lhe, inclusivamente, epítetos pouco simpáticos como "Sua Alteza Sereníssima, a Louca", como foi chamada pelo jornal ‘Münchener Abendzeitung’.
Muito recentemente, aquela que se assume como ativista católica, tem um nome ligado a um novo escândalo internacional. Gloria von Thurn und Taxis ofereceu a um juiz do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, Samuel A. Alito, bilhetes avaliados em 900 euros para a festa anual no seu castelo, em Regensburgo, e para a abertura do Festival de Bayreuth, principal palco do mundo para a representação das óperas de Wagner. Depois de toda a celeuma gerada em torno deste assunto, a princesa alemã já reagiu e justificou-se ao ‘New York Times'. Gloria von Thurn und Taxis considera o juiz Alito "um herói", já que "ele é a favor da vida numa época em que a maioria segue a cultura da morte". Os cristãos acreditam na vida, realça a princesa. A aristocrata afirma que o juiz Alito e a sua mulher, Martha-Ann, são seus "amigos" e que, depois das festividades no seu castelo, os três participaram juntos no prestigiado festival de música clássica.
