É para muitos uma história de superação e de inspiração a da maestrina Joana Carneiro, de 47 anos, agora convidada por Marcelo Rebelo de Sousa para ocupar o lugar de António Damásio no Conselho de Estado, cargo que ocupa desde quarta-feira.
Casada com o cirurgião José Gonçalves, a maestrina passou por um longo calvário até conseguir engravidar e, durante vários anos, sentiu na pele o pesadelo de ter sofrido vários abortos espontâneos. Hoje, já reconciliada do passado, Joana Carneiro falou, no âmbito das conversas 'E Deus Nisso Tudo', que acontecem na Igreja do Campo Grande, em Lisboa, organizadas por Maria João Avillez, sobre o longo caminho até conseguir engravidar.
"Foi muito difícil ser mãe. Perdemos muitos bebés. Eu perguntava ao meu marido: 'Porque é que isto nos acontece? Nós fazemos o Bem...' e ele respondia: 'tu acreditas em Deus ou não?', eu respondia que 'sim', 'então espera'", revelou a maestrina, que só aos 42 anos viria a conseguir levar uma gravidez adiante. Até lá, afirma ter sofrido de preconceito por parte da sociedade e, principalmente, por parte de outras mulheres. "A discriminação das mulheres existe, mas acho que a discriminação das mães é ainda maior. Eu nunca me senti discriminada como mulher, mas como mãe já".Depois dos vários abortos, foi aos 40 anos que Joana Carneiro acabaria por engravidar, sendo que, de repente, se viu a braços com uma família numerosa, com o nascimento dos trigémeos José Joaquim, Maria do Rosário e Maria da Conceição. Dado o pontapé de saída, o quarto filho, João, acabaria por vir ao mundo apenas 15 meses depois.
A família numerosa obrigou a um ajuste de rotinas profissionais e Joana acabou por abdicar de alguns desafios que obrigassem a viagens intercontinentais. No entanto, na Europa manteve os trabalhos, viajando muitas das vezes com os quatro filhos."Nós temos uma gestão familiar muito especial... Temos como propósito passar o máximo tempo possível juntos e os meus filhos viajam a maior parte das vezes comigo. Tive quatro filhos em 15 meses e a mudança foi radical. Houve um reset e uma adaptação do meu contributo enquanto artista", explicou a maestrina.
FAMÍLIA LIGADA À POLÍTICA
Joana Carneiro é filha do antigo ministro da Educação, Roberto Carneiro, e da sua mulher, Maria do Rosário Carneiro, sendo oriunda de uma família numerosa, com oito irmãos.
Enverdou cedo no mundo da música, tendo-se tornado num dos nomes portugueses mais sonantes, tendo já dirigido várias orquestras. O seu percurso de sucesso já a levou a receber várias distinções, como a de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique, pela mão de Marcelo Rebelo de Sousa, que agora a chama para integrar o seu lote de consultores.
Agora, e depois da renúncia do neurocirurgião António Damásio por razões pessoais, Joana Carneiro assume o desafio de integrar o Conselho de Estado.
"O Presidente da República recebeu a renúncia ao cargo de conselheiro de Estado do Prof. Doutor António Damásio, por razões pessoais, tendo decidido designar para aquelas funções a maestrina Joana Carneiro", lê-se na nota publicada no site da presidência da República, que elenca os novos conselheiros de Estado: Leonor Beleza, Lídia Jorge, Joana Carneiro, António Lobo Xavier e Luís Marques Mendes.
