
Depois de ter sido "obrigada" a mudar de casa, deixando para trás um apartamento de luxo numa das zonas mais elitistas de Lisboa, onde pagava uma renda de 8500 euros, trocando o enorme apartamento por um mais "modesto" cuja renda ascende a 4500 euros, mudança que aconteceu após ter visto o seu ordenado na SIC cortado, Júlia Pinheiro enfrentou outro pesadelo.
A apresentadora da SIC, muito próxima da mãe, revelou que a progenitora sofreu, no dia 3 de março, um severo AVC, mas que apesar de tudo, está a recuperar.
Foram momentos dramáticos que agora recorda num texto que escreveu no seu blogue.
"Quando a vi, alheada e perdida numa maca, já na ambulância, cravou-se uma garra no meu coração. Não parecia ela, a mulher altiva que me educou. Estreei-me por respeito aos que acreditaram em mim e estreei-me porque era preciso fazê-lo. Por mim e pela minha Mãe! Acredito que ela ainda irá ver a filha a cumprir o sonho", diz, referindo-se à vontade que tem de a mãe a ver em palco, na peça 'Monólogos da Vagina', que está em cena no Teatro Armando Cortez, em Lisboa.
"A minha mãe tem uma idade provecta. Bateu os oitenta com galhardia, autónoma, senhora da sua vida e do seu nariz. Nunca foi dependente de ninguém. A liberdade de movimentos e de escolhas são a sua religião. No dia 3 de março, sofreu um AVC severo", continua no longo texto que escreveu.
"Quando a vi, alheada e perdida numa maca, já na ambulância, cravou-se uma garra no meu coração. Não parecia ela, a mulher altiva que me educou. Estava desprotegida e perdida no nevoeiro de um cérebro afetado, locomoção comprometida e sem reconhecer ninguém. Foi um dia de pesadelo. Por não saber se havia futuro, por não saber se esse futuro seria aceitável para a formidável mulher que me deu à luz.
Não me permiti chorar, andei pelos corredores de dois hospitais públicos, onde só vi profissionais competentes e atentos às necessidades da minha mãe e de todos os outros pacientes que não paravam de chegar à Unidade de AVCs do Hospital São Francisco Xavier", acrescenta.
"Nesse fim de semana, cumpria as primeiras três semanas de ensaio para a peça Monólogos da Vagina e, após as primeiras horas de aturdimento, liguei ao meu encenador Paulo Sousa e Costa, para me desvincular do projeto. Estávamos na fase mais crítica da construção do espetáculo, era impensável fazer um programa de televisão em direto, todos os dias, ensaiar todos os dias e acompanhar a minha Mãe nos Cuidados Intensivos.
Os dias passaram como um comboio veloz, não tenho imagens de nada. Apenas do olhar inquisitivo da minha Mãe, na cama do hospital, a ternura da minha família e colegas de trabalho e da imensa paciência da minha nova tribo, os amigos do Teatro que não aceitaram que eu saísse do projeto, aturando o meu olhar triste, a minha falta de energia e todas as dúvidas por continuar esta teimosia que parecia impossível: sonhar com as Tábuas.
Na noite da estreia dos Monólogos da Vagina, estreei duas vezes. Apresentei-me em palco pela primeira vez, apesar de emocionalmente não ter condições para o fazer. Estreei-me por respeito aos que acreditaram em mim e estreei-me porque era preciso fazê-lo. Por mim e pela minha Mãe! Acredito que ela ainda irá ver a filha a cumprir o sonho e que, embora mais limitada e se calhar ajudada por todos, vai aplaudir a nossa mútua vitória. Está viva! Está melhor! A mulher altiva já regressou. Já refila, argumenta e, quando se sente muito cansada, dá-me a mão e agarra-a com muita força. Como quando eu era pequenina. E ambas ficamos mais confortadas. Amo-te Mamã", remata.