
Xana Abreu, mais conhecida por Xana Toc Toc, é simbolo de magia, cor, alegria e muita animação.
Mas a vida da artista foi pintada de tragédia, abandono e violência.
Foi no 'Alta Definição', de Daniel Oliveira que pela primeira vez a mãe da atriz Marta Peneda falou da sua infância e do drama que viveu quando se transformou em Xana Toc Toc.
Foi ainda muito pequena, com apenas um ano que a jovem foi abandonada pelo pai. "Eu não era bem vinda para o meu pai", conta a cantora que refere que foi isso que a mãe "sempre" lhe disse.
Sentindo-se abandonada a artista lembra-se de ter "escrito desde cedo" cartas para o pai, embora não soubesse a quem as entregar. Quando esta tinha 6 anos, este voltou "mas apenas por um dia". Dessas 24 horas lembras-se de terem "jogado às damas" e de ser muito feliz, "mas no fim do dia ele foi-se embora" deixando uma mágoa que durou até aos 17 anos, quando ele tentou nova reaproximação. Mas na altura Xana rejeitou.
Ainda pequena, e depois do pai ter partido, Xana Abreu já vivia outro drama, com a mãe, que ela garante que "nunca" lhe disse a amava. Por isso mesmo a cantora revela que cresceu carente, pois a mãe "em parte" culpava-a pelo pai as ter deixado.
A carência vinha também pela falta de liberdade que a mãe lhe impunha. Rigida, a progenitora batia-lhe "bastante". "Todos os dias a minha mãe me estendia a mão", revela triste. "Achava que ela não gostava de mim e que ela me culpava por o meu pai se ter ido embora". Pior se sentia porque a mãe tinha o hábito de dizer: "Se eu não posso ser feliz tu também não vais ser."
Presa, diz que era uma árvore na sua janela a sua grande amiga "porque ela simbolizava liberdade", conta "porque a minha mãe tomava-me como posse", diz sobre a falta de liberdade que ela lhe impos até sair de casa. Por isso mesmo e das poucas vezes que vinha à rua a artista conta que se "transformava" e sentia "livre", algo que terminava assim que chegava a casa.
Por isso mesmo saiu de casa cedo, aos 16 para o Algarve com os amigos - embora tenha voltado ao fim de três meses –, e na universidade quando foi viver para casa do namorado, altura em que descobriu sofrer de uma "depressão grave depois de um dia ter ido parar ao hospital" e onde chegaram a achar que "era uma toxicodependente" que estava ali a curar-se, conta relembrando a frieza com que os médicos a trataram.
Esta depressão foi tomando conta da sua vida a ponto de se ter tornado "apática" e de as pessoas a terem chamado por isso "de madriona", mas Xana revela que foram anos muito debilitantes, só melhorando com a chegada da filha, Marta Peneda.
Mas o pior sucedeu quando o sucesso lhe bateu há porta há dez anos. Xana Abreu passou a ser Xana Toc Toc. Numa altura em que o seu disco ocupou durante 40 semanas o primeiro lugar do top nacional de vendas, a artista descobria que tinha um cancro galopante. "Disseram-me que era monstruoso e que tinha pouco mais de uma semana de vida embora tivesse que esperar um mês e meio para ser operada".
Contudo um outro médico acabou por a salvar, isto numa altura em que a estrada a chamava. Foi operada, fez tratamentos e depois partiu para os concertos. Revela que deu concertos "sem cabelo, de peruca", por causa da quimioterapia "muito agressiva" e que durante os dez anos que foi a preferida da pequenada sofreu "muito". Os concertos eram o pior de tudo, pois embora adorasse e não quisesse desiludir os mais pequenos, "muitas vezes entrava no palco com vertigens" e "doente" por causa dos tratamentos.
Seria operada uma segunda vez, e agora, apesar do sucesso, prepara-se para deixar o legado a outra pessoa. "Estou cansada de trabalhar e cansada de fingir que estou saudável", revela a artista que tem 73 por cento de incapacidade física por causa do cancro agressivo porque passou.
Diz-se feliz pelo que conseguiu "mas que chegou a altura" de cuidar de si pois tudo o que passou deixou-lhe uma saúde "frágil" que ela tenta ultrapassar com um sorriso.