
A lei que proíbe o aborto no estado norte-americano do Texas a partir das seis semanas de gravidez, que entrou em vigor no início do mês, tem estado na ordem do dia, com várias personalidades a manifestarem a sua indignação perante aquilo que, a seu ver, é uma tentativa dos órgãos texanos de controlarem o corpo das mulheres. Ademais, a nova legislação incentiva a que os residentes possam denunciar qualquer pessoa envolvida no processo, incluindo os motoristas que transportem a mulher até à instituição hospitalar, oferecendo uma recompensa financeira.
Uma das vozes contestatárias sobre esta situação é a de Uma Thurman. A atriz, protagonista de filmes como ‘Pulp Fiction’ ou ‘Kill Bill’, assinou um texto no ‘The Washington Post’ onde revela ter abortado durante a adolescência e que essa decisão acabou por fazer com que pudesse construir uma família de forma responsável – Uma é agora mãe de três filhos, dois com o ator Ethan Hawke, incluindo a jovem atriz Maya Hawke, e uma filha com o gestor financeiro Arpad Busson.
"Esta lei é mais uma ferramenta discriminatória contra aqueles que são economicamente frágeis e, frequentemente, contra os seus parceiros. As mulheres e as crianças de famílias abastadas retêm todas as escolhas do mundo, e têm poucos riscos. Estou indignada que a lei coloque cidadão contra cidadão, criando novos vigilantes que predam contra as mulheres menos favorecidas, negando-lhes a escolha de não ter filhos, para as quais não estão preparados, ou extinguindo-lhes as esperanças para o futuro familiar que desejam", afirmou a atriz de 51 anos.
A natural de Boston contou, assim, a sua história: "Nos últimos anos da minha adolescência, eu fui acidentalmente engravidada por um homem muito mais velho, eu vivia de forma pobre e não sabia o que fazer. Queria manter o bebé, mas como? Telefonei à minha mãe, que estava no hospital, o meu pai foi para o pé dela para discutir as minhas opções e decidimos como família que eu não poderia proceder com a gravidez. Abortei numa clínica em Colónia, na Alemanha, e quando o procedimento foi concluído, o médico olhou para mim e disse-me que tinha mãos bonitas e que o lembrava da sua filha. Aquele gesto de humanidade é um dos momentos mais empáticos que já experienciei."
"Existe tanta dor nesta história, foi o meu segredo mais sombrio até agora. Partilho-o com vocês a partir da casa onde criei os meus filhos, que são o meu orgulho e alegria. O aborto que fiz enquanto adolescente foi uma das decisões mais árduas da minha vida, aquela que mais angústia me causou e que me entristece ainda hoje, mas foi fulcral para a vida repleta de felicidade e amor que vivi. Escolher não seguir em frente com aquela gravidez permitiu-me crescer e tornar-me na mãe que queria e precisava de ser", relatou Uma Thurman, rematando, "para todas as mulheres e raparigas do Texas, eu digo: eu vejo-vos. Tenham coragem. Vocês fazem-me lembrar as minhas filhas."