
Aos 34 anos, este professor universitário de Direito não suspeitaria que estaria nas "bocas do Mundo" mediático e político. É que André Ventura, além de multifacetado comentador da CMTV, adepto ferrenho do Benfica, é agora, candidato à Câmara Municipal de Loures, pelo PSD. "Tenho uma vida um bocado agitada, reconheço", diz o jovem professor de Direito, nas universidades Nova e Autónoma de Lisboa.
Nos últimos dias tem estado no centro da polémica depois de ter dito que os ciganos vivem acima da lei e de subsídios.
Em entrevista à revista TV Guia, garante que já foi ameaçado de morte, mas estes episódios estão relacionados com as posições que toma ao defender o Benfica.
Em breve irá surgir a sua nova obra, A Culpa É do Benfica, mais uma "alfinetada", bem no seu jeito provocador, à polémica em torno do futebol português. "Se olhar ao que aconteceu nas duas últimas épocas, verá que há um permanente atirar de culpas ao Benfica de tudo o que corre mal no Sporting e no FC Porto. O Sporting não consegue ganhar, mesmo com o novo presidente [Bruno de Carvalho], por culpa do Benfica, tal como o Porto está no estado financeiro em que está – e não consegue ganhar um campeonato há quatro anos – por culpa do Benfica… Ou seja, os males do Mundo são culpa do Benfica…"
Para o autor – que tem já três romances no currículo, fora obras técnicas de Direito –, as conquistas do seu clube são facilmente decifráveis: "Os outos clubes não têm tido o mérito que o Benfica tem demonstrado. É tão só isso. O resto, são acusações inócuas, que escamoteiam insuficientes internas".
Quanto a bruxos e "cartilhas", ri-se, afirma que o padrinho de casamento, Rui Gomes da Silva (ex-vice-presidente das águias e associado a um eventual contrato com um ‘bruxo’ guineense), lhe "garantiu ser uma assinatura falsa", e que recebe, tal como outros comentadores televisivos ligados ao Benfica, o polémico dossier: "Sempre recebi e pedi informações ao Benfica, e orgulho-me muito disso. Porque o comentário desportivo tem, cada vez mais, um carácter profissional, e como, por via da minha actividade docente, não tenho tempo para analisar tudo, peço essa informação a quem a tem. Mas tenho uma completa independência face ao Benfica, e não recebo um tostão do clube."
PRECAUÇÕES DE SEGURANÇA
Tal como não rejeita a "alguma responsabilidade que possa ter" no exacerbado clima que se vive no futebol nacional. "Sempre assumi as minhas responsabilidades na vida, e sinto que, até pelo meu estilo, no programa – e como o futebol é emoção – isso possa ter um impacto negativo. E não escondo que penso nisso… Mas procurei sempre, e continuarei a fazê-lo, não ultrapassar o limite do razoável.
Daí que, desta experiência televisiva, tem conhecido o lado mais perverso do mediatismo e da popularidade. "Recebo ameaças, sobre a minha integridade física… De morte, mesmo. E levo-as muito a sério", garante.
Quem não aprecia sobremaneira esta situação é a mulher, uma benfiquista discreta que teme pelas consequências destas ameaças públicas. "Ela é uma grande benfiquista, acho que essa era uma das condições para o casamento", explica, divertido, hesitando quando questionado se casaria com alguém que não fosse do mesmo clube: "Não sei… Mas também acho que ninguém, que não fosse do Benfica, aturaria o meu amor aso clube… [risos]"
E recorda dois episódios "de grande risco pessoal", que o levaram a adoptar "algumas precauções": "A primeira foi no [CC] Colombo, quando subia a escada rolante. Fui insultado por um grupo de pessoas, que ainda me perseguiu e me queria agredir, mas consegui escapar. Já o segundo foi à porta de uma das universidades em que dou aulas, quando percebi que, em redor do meu veículo, se tinham reunido alguns indivíduos, que estavam, claramente, à minha espera. Nesse dia, deixei o carro na faculdade e fui de táxi para casa…"
FUTEBOL E POLÍTICA
André Ventura não esconde que estes aspectos negativos da sua actividade televisiva podem ser contraproducentes na sua candidatura nas próximas eleições autárquicas (1 de Outubro). Candidato pelo PSD, o comentador da CMTV diz que avaliou "os prós e contras" desse novo desafio, mas considera-se um "optimista e realista".
E nem a nova celeuma que "aqueceu" as redes sociais, aquando do lançamento da sua candidatura a Loures (já que reside no Parque das Nações, que, em parte, pertence àquele concelho), sobre a "declaração de amor eterno" a Sintra (onde nasceu e cresceu), o demoveu. "As pessoas serão inteligentes para conseguirem distinguir a minha vertente clubista e prestação televisiva das minhas propostas concretas para o concelho. Acredito seriamente nisso. Mas, não nego, que haja esse risco…"
André reconhece que não lhe "resta" outra solução que não seja "fazer um esforço redobrado para provar" a sua independência. "Como presidente da Câmara, teria todo o gosto em negociar com o Sporting ou outro clube qualquer, na defesa dos interesses do município", sublinha.