
Marcantonio del Carlo não tem nacionalidade portuguesa, apesar de viver em Portugal desde que deixou Itália aos 15 anos, ou seja, há mais de quatro décadas, e de ser uma figura com vastas contribuições para a ficção nacional.
A explicação está relacionada com um imbróglio burocrático kafkiano causado por o ator de 57 anos ter nascido na Rodésia, estado localizado no sul de África, que existia no território equivalente ao do Zimbabué nos dias de hoje, e, por isso, ser impossível obter o certificado criminal rodesiano, que integra a lista de documentos obrigatórios para obter a nacionalidade.
Este é um desejo que o intérprete tem há muito tempo e que até o levou a fazer um repto a Marcelo Rebelo de Sousa: "Se o professor Marcelo ouvir isto, não preciso de uma medalha, preciso mesmo é da nacionalidade", disse numa entrevista ao Observador ainda neste ano.
Agora, contudo, parece ter encontrado uma nova esperança para alcançar o seu desiderato, e, para isso, contou com a ajuda de Mila Ferreira, a cantora que também exerce a profissão de advogada. Marcantonio, cujo nome no registo é Marcanthony, começou por se munir de documentação relativa aos primeiros anos do seu percurso escolar em terras lusas, em Leiria, Santarém e Lisboa, dando assim entrada com um novo pedido de nacionalidade no dia 25 de outubro.
"O meu processo deu finalmente entrada de forma legal e sem cunhas. Apenas muito carinho e profissionalismo", começou por escrever nas redes sociais, acrescentando: "Desta vez o processo foi lento, complexo, mas a fundamentação legal e histórica relativa à minha via em Portugal desde sempre tem outro cunho. O mérito é da Mila Ferreira que, mais que uma advogada competente, se tornou uma amiga. Quero agradecer às escolas secundárias de Leiria, Santarém e Lumiar, que me descobriram em arquivos bafientos e esquecidos. A paciência e o carinho deles foram extraordinários."
"Agora, segue para o Porto onde a decisão será tomada. Dizem-me que vai levar tempo, talvez até um ano, mas para quem esperou tanto, como eu, não desesperar, apenas deseja ‘un lieto fine’ ["um final feliz", em italiano], isto porque eu vou continuar a ser toscano de gema. Apenas espero passar a ser também português de casca", completou.