
Nunca Marisa Cruz tinha revelado tanto sobre o seu passado. Este sábado, em entrevista a Fátima Lopes, a atriz de 'Corda Bamba', a nova novela da TVI, abriu o livro da sua vida e fez revelações que têm tanto de bombásticas quanto de surpreendentes
"A minha vida não foi fácil, mas hoje em dia com 45 anos eu percebo. Durante muitos anos andei muito revoltada. Perguntava-me: ‘Porque é que isto me acontece a mim? Por que é que eu nunca tive uma família normal?’",
Foi trabalhar para o mundo da moda muito nova, tinha 15 ou 16 anos. Apesar de esse nunca ter sido o seu sonho. "Não me sentia bonita, era muito magra e muito alta. Quando me propuseram concorrer à Miss Portugal achei aquilo ridículo", recorda.
Aliás, Marisa Cruz confessa que nunca teve "tempo para sonhar". "Queria ser veterinária, depois bailarina. Não cheguei a uma fase de chegar a esse luxo de pensar naquilo que queria ser."
Nasceu em Angola de onde veio muito cedo. O único irmão de pai e mãe já nasceu em Portugal. Foram separados muito novos. Ela ficou a viver com a mãe e ele foi adoptado por outra família – haveriam de reencontrar-se 40 anos depois.
A partir desse momento a vida da atriz transformou-se num "reboliço", sem infância. "Nunca tive aquelas memórias do Natal. A minha vida sempre foi aqui e acolá. Ficávamos num sitio, depois íamos para outro. Em casa de amigos, pensões. Em mais velha tive de ajudar a minha mãe. Fui trabalhar com ela. Trabalhei em limpezas, cafés. Fiz um pouco de tudo. Não tinha margem nenhuma para sonhar, só sobreviver. Fui cuidadora da minha mãe e dos meus irmãos. Não tive infância", lamenta.
Disse muitas vezes às amigas que ia tirar um curso mas apenas concluiu o 9.º ano de escolaridade. Abandonou o ano escolar a meio várias vezes. A vida obrigou-a a isso. Teve sete irmãos. Tomou conta de cinco durante anos, ainda miúda com 12 ou 13 anos. Foi uma época de pobreza e dificuldades: "Não tínhamos quase o que comer e eu tinha de inventar com o que tinha. Eu e os meus irmãos temos uma boa relação. Fisicamente estão longe de mim. Eles têm noção que fui uma mãe para eles."
Do pai tem poucas memórias. Morreu quando Marisa tinha 8 ou 9 anos de idade. Soube-o de forma bruta, imprópria para uma criança. "Foi um bocado traumático. É um dos momentos da minha vida que eu me recordo infelizmente. Foi a meio de uma discussão da minha mãe e do meu padrasto. Ele olhou para mim e disse-me. Saí a chorar."
Do pai guarda uma das poucas vezes que o visitou na prisão: "Tive muito pouco contacto com ele. Eu visitei o meu pai, num sitio que não tenho de ter vergonhas. Ele estava preso. Não sei muito bem porquê. Lembro-me de o ter visitado com a minha mãe e dele me oferecer um fio de ouro."
Hoje sente-se amada, rodeada de pessoas que gostam dela. Os filhos, João e Diogo, fruto da relação com o antigo jogador João Vieira Pinto, são a coisa "mais maravilhosa" que lhe aconteceu. "Eles são o melhor de mim. Quero que eles se orgulhem da mãe que têm. Quero dar-lhes o melhor de mim. Quero crescer com eles, quero acompanhá-los."
Depois de todas as dificuldades, agora já se permite sonhar: "Sonho com coisas normais da vida. Uma família. Sonho em alimentar a família que eu tenho. A torná-la feliz. Crescer como pessoa. Cometo erro de exigir demais aos meus filhos e depois paro. Eles têm de se sentir amados. É a minha luta, tentar dar-lhes o que precisam para serem crianças felizes."