
Manuela Moura Guedes, 64 anos de idade, regressou hoje à TVI, a convite de Cristina Ferreira. Durante a conversa com a apresentadora e administradora do canal de Queluz de Baixo, a antiga pivô do 'Jornal de Sexta' comentou aquele que será o momento mais difícil da sua vida profissional, tendo afetado a jornalista emocionalmente.
Com a habitual frontalidade, Manuela Moura Guedes não foi meiga nas críticas e não poupou ninguém: administração e colegas jornalistas. "Eu não tenho muito respeito pela classe jornalística em Portugal", atirou a antiga jornalista.
Mas vamos ao caso. A 3 de setembro de 2009, a administração da Medial Capital – então proprietária da TVI - anunciou que o 'Jornal de Sexta', habitualmente apresentado por Moura Guedes, ia ser suspenso depois de ter sido criticado em abril do mesmo ano pelo então primeiro-ministo José Sócrates.
O chefe do Governo de então considerava que existia uma linha editorial antagonista do Governo, criticou o 'Jornal de Sexta', chamando-lhe um jornal "travestido". Segundo Manuela Moura Guedes, o noticiário que iria para o ar no dia seguinte incluía novos dados sobre o caso Freeport. Como consequência, a direção do canal demitiu-se, a redação repudiou o "atentado à liberdade de imprensa".
A jornalista ficou de baixa médica desde 28 de setembro de 2009. A 17 de outubro de 2010, Moura Guedes chegou a acordo com a TVI e rescindiu contrato com a estação. Desde então, Moura Guedes fez algumas incursões televisivas como o 'Quem Quer Ser Milionário', na RTP1, ou mais recentemente a fazer comentário como 'Procuradora', na SIC. Esta terça-feira, Mora Guedes diz que a fase televisiva "está fechada".
A mágoa da antiga jornalista não é para com a televisão mas sim "com a maneira como se gere este meio tão poderoso, especialmente na informação" e assume já ter "tido algumas experiências más". Um desses maus momentos é precisamente o episódio 'Jornal de Sexta'. "Nunca irá ser resolvido porque uma injustiça é uma injustiça, principalmente quando uma pessoa tem a certeza que fez tudo o que era correto, com a sua equipa", refere.
Mais do que a televisão ou de quem manda nela, Manuel Moura Guedes revela-se magoada com os colegas de profissão. "Não tenho muito respeito pela classe jornalística em Portugal, não tenho porque eles moldam-se ao que está instituído. Na altura estavam completamente moldados ao poder. Quando aconteceu tudo aquilo, a própria redação não fez nada", acusa.
Se pudesse viajar no tempo, a reação seria diferente. "Se fosse hoje eu teria batido o pé. Mas eu fiquei tão em estado de choque que dei de barato. Teria dito não. Não é uma administração que manda numa direção de informação", defende a antiga pivô da TVI.
Agora, não há lugar a arrependimentos. Manuela fez o que a profissão lhe exigia: trazer os acontecimentos para a "luz do dia". "Os acontecimentos dão-se e às vezes vêm ter connosco, a um jornalista. A nossa função é pô-los à luz do dia. Só há uma coisa a fazer que é dá-los a conhecer. Do que é que eu tenho que me arrepender? Eu só tinha uma coisa a fazer, eu e todos os jornalistas que trabalhavam comigo. Não fiz nada de extraordinário, nada. Este País é que é estranho. Dar notícias, apontar aquilo que está mal é o normal de um jornalista. Fiz o normal."