A atriz e produtora Paula Marcelo, viúva do mítico ator Camilo de Oliveira, celebra esta sexta-feira, dia 6, 50 anos, o primeiro aniversário, em 33 anos, sem a presença do homem que marcou a sua vida.
Em entrevista exclusiva à TV Guia, no dia dos seus anos, Paula Marcelo abre o livro sobre este momento de viragem na sua vida; revela como os amigos a salvaram e conta todas as novidades que 2017 trará. "Renascer nunca é fácil. Dou um passo de cada vez. Vou vivendo o dia-a-dia", confessa, dedicando palavras de amizade a quem a tem apoiado: "Os meus pais, a minha família e os meus amigos sempre foram, e vão continuar a ser, o meu grande apoio. Tenho essa felicidade. Sempre estiveram ao meu lado, mesmo nos últimos anos de doença do Camilo, sempre!"
A sobreviver nos últimos meses "com o dinheiro que ganho e com algum dinheiro das poupanças que sobraram", Paula Marcelo mostra-se agradecida pela forma carinhosa como alguns amigos a estão a ajudar. "Não procurei nada. Felizmente, as coisas têm vindo ao meu encontro. Nem tive oportunidade de ir à procura. Tive a felicidade de ser contactada", declara, revelando como tudo seguiu o seu curso natural: "Nas entrevistas que dei à imprensa, disse que estava disponível para trabalhar e as coisas foram-se proporcionando. Tenho que agradecer ao Celso Cleto que, logo após o falecimento do Camilo, não me abandonou. Não tinha lugar em algumas produções dele, mas colocou-me sempre na produção ou na assistência de encenação. Não me deixou parada sequer."
O amigo Celso Cleto acabou por ser o "porto seguro" no momento em que a actriz perdeu o marido de uma relação que durou 26 anos de vida em comum, de uma paixão que começou há 33 anos, quando Paula tinha apenas 16. "O Celso esteve sempre ao meu lado. Disse-me logo para eu não me preocupar. Foi dos primeiros telefonemas. Ele sabia antes que as coisas não estavam bem. Foi visitar o Camilo ao hospital, nunca nos abandonou e quis marcar um lugar para eu estar ocupada", remata.
Chamada por Filipe Lá Feria
Seis meses após o desaparecimento do actor, de 91 anos, a viúva Paula Marcelo recebeu uma notícia que a faz voltar a ter esperança. "Tive um convite que foi uma dádiva neste Natal: poder começar o ano a trabalhar. Agradeço a Deus todos os dias. O Filipe La Féria mandou-me chamar para fazer parte do elenco do musical Amália, que vai ser reposto a partir de 9 de Fevereiro. Perguntaram-me se estava disponível? Claro que para o Filipe estarei sempre disponível, como estarei para o Celso. Como estarei para todas as pessoas que estão ao meu lado a apoiar-me", avança.
Todavia, o puzzle profissional de Paula Marcelo está, semana após semana, a compor-se aos poucos. Ela será a personagem Hilda, uma das ajudantes da fadista, no musical Amália, mas também já teve um convite do conhecido actor Joaquim Nicolau para uma participação especial num episódio de uma série policial que este está a gravar para a RTP1. "Vivo um dia de cada vez. A televisão é uma forma mais rápida de chegarmos a um público e acabam por pagar um pouco melhor e há uma continuidade um bocado maior. O que vier virá, mas confesso que também gosto muito de fazer teatro e dá-me muito gozo trabalhar em grandes produções, nomeadamente com o Filipe La Féria", declara.
A atriz revela, à TV Guia, estar a sentir "uma reviravolta" na sua vida e considera que agora só tem um objetivo: "Recomeçar a viver e seguir em frente." Para atingir essa meta, conta com a ajuda da irmã e do cunhado que se mudaram para a sua moradia, na Parede. "O empréstimo da casa tem de ser pago ao banco. É uma casa muito grande e foi uma mais valia a minha irmã vir viver comigo. Na altura em que comprámos a casa, o Camilo já tinha muita idade e não podia pedir um empréstimo e por isso foi pedido no meu nome", esclarece.
Em tribunal por causa da pensão
Um dos dramas pelos quais a atriz está a passar prende-se com o direito à pensão de sobrevivência a que terá direito por morte de Camilo, pouco mais de 200 euros mensais. O processo não é tão linear quanto se pode pensar, pois o ator, recorde-se, nunca se divorciou de Maria Luísa Reis Oliveira, uma enfermeira aposentada, de 87 anos, que é a sua primeira esposa oficial. Questionada sobre se já houve contacto com esta pessoa, Paula Marcelo revela tudo: "Ela nunca me procurou, nem eu a ela. Não a conheço sequer. Conheço as duas seguintes, mas esta nunca a vi. Segundo a minha advogada, terei de ser chamada a tribunal e expor o meu caso."
"Quais foram as últimas palavras que ele lhe disse antes de morrer?", perguntou a TV Guia. "Gosto muito de ti!", responde Paula Marcelo, assumindo, com carinho, o que lhe disse, antes de este fechar os olhos: "Também gosto muito de ti!" A atriz guarda a satisfação do marido ter mantido "o olhar de um homem feliz até ao último suspiro" e dele conserva a memória de um lutador: "Até à última hora acreditou que iria recuperar. Não sabendo o que tinha. Sabia que não estava bem, mas até à última queria fazer fisioterapia, tomar vitaminas e sais minerais e nunca parou de me dizer que, na vida, é importante saber tomar boas decisões. Saber escolher. Saber calar. Saber escutar e calar". Questionada, no dia em que celebra 50 anos, se se sente capaz de voltar a amar?, Paula Marcelo respondeu assim: "Não consigo responder a isso... Estou centrada no meu trabalho, no meu dia-a-dia. Sou uma mulher de fé, acredito muito em Deus."
Seis meses após a morte do marido, Paula Marcelo arranjou uma forma de compensar a sua ausência física. "É difícil interiorizar que o Camilo já cá não está. A forma que encontrei foi a de pensar que fez uma grande viagem e que, neste momento, está bem melhor. É a isso que me agarro. Chega a um ponto em que vivíamos com o medo da constipação, o medo de cair, de imensas coisas de que o tentámos proteger e que vivíamos com um medo constante. Ele tinha tanto medo daquele momento! De morrer... Acho que toda a gente tem. E o fim aconteceu", descreve, acrescentando mais detalhes sobre como está a fazer o luto do marido: "Agarrei-me a essa ideia de que ele foi fazer uma grande e boa viagem. Está lá, a fazer um grande espetáculo com todos os que já partiram. Onde está, está bem melhor", sublinha, emocionada.
