106 minutos, 2 personagens e um cenário a preto e branco. É este um dos filmes mais marcantes do ano, escrito, produzido e filmado totalmente durante a pandemia. ‘Malcolm & Marie’ conta a noite do casal formado por Malcolm, um cineasta que percebe que conseguiu o seu primeiro sucesso após a receção entusiástica do público ao seu último filme, e Marie, a sua namorada com formação de atriz, que lutou contra o vício das drogas quando era jovem.
O argumento está longe de ser consensual nas habituais plataformas de avaliação de filmes, por parte de público e crítica. As opiniões dividem-se, principalmente no que concerne a qualidade dos diálogos e o ritmo da ação, existindo também reparos à diferença de idades entre as duas personagens principais. No entanto, sobre John David Washington e Zendaya Coleman, o par que constitui totalidade do elenco, o parecer é muito mais elogioso.
Por um lado, Washington, filho de Denzel, já havia recolhido impressões positivas nos últimos anos, devido aos papéis em filmes liderados por realizadores de prestígio, como BlackkKlansman, de Spike Lee, ou Tenet, de Christopher Nolan. Por outro, Zendaya vinha de uma filmografia mais magra, ainda menos enquanto protagonista em longas-metragens, com o maior destaque a vir pelo desepenho na série da HBO, ‘Euphoria’, na pele da jovem Rue Bennett, pela mão do mesmo diretor de ‘Malcolm & Marie’, Sam Levinson, com o qual se tornou a mais jovem de sempre a vencer o Emmy de melhor atriz.
Zendaya é mais um produto da Disney, como Miley Cyrus, Selena Gomez e Bella Thorne (com quem contracenou no seu primeiro grande papel em ‘Shake It Up’), e isso talvez tenha colocado uma barreira mais alta nos esforços de convencer o público de que poderia ter sucesso em papéis desta natureza. Efetivamente, em entrevista ao E!, a ex-estrela de séries juvenis, considerou que "é como ver uma irmã mais nova no ecrã, sabes que cresceram, portanto é difícil para as pessoas perceberem que já sou adulta na vida real, mesmo que ainda interprete uma adolescente na televisão", referindo-se ao papel de ‘Euphoria’. Mas a californiana assegura que o impacto dos anos que trabalhou na Disney não é negativo para a sua carreira: "Eu estou grata pelas minhas raízes na Disney. Foi aí que comecei e aprendi muito com essa experiência."
À atriz não agradou a divergência de opiniões entre a qualidade do filme e a da sua atuação, e explicou, em entrevista ao New York Times, o porquê: "O que acho interessante é que sinto que uma parte da nossa autoria foi apagada. Nós também somos parte dos créditos do filme, eu, o John David Washington e o Sam Levinson em partes iguais", rebatendo também as críticas que o filme recebeu por ter um realizador branco a debruçar-se sobre a experiência de duas personagens negras, "ele escreveu o filme para nós, e acho que se vais escrever algo, tens de compreender as experiências das personagens sobre as quais escreves."
Com uma porção significativa das quase duas horas a conter discussões, muitas vezes acaloradas, entre o casal, abriu-se igualmente um debate em relação à toxicidade da relação de Malcolm e Marie, ao que a atriz respondeu que "nenhum de nós acha que eles estão numa relação saudável", acrescentando que o objetivo era o de "explorar essas inseguranças e as partes mais negras de nós que muitas vezes vêm à tona por causa das relações que temos."
O papel em ‘Malcolm & Marie’ já valeu a Zendaya dois prémios (Prémio NextGen, da Critics Choice Association Celebration of Black Cinema e Prémio Virtuosos, do Festival Internacional de Cinema de Santa Barbara), com possibilidades em aberto para mais dois no próximo mês, incluindo o prestigiado prémio de melhor atriz no Critics’ Choice Movie Awards. O filme, esse, pode ser visto em Portugal através da plataforma Netflix.
