
Não aparenta, mas Tiago Castro já conta com 40 anos de idade. E nas últimas duas décadas passou por tudo, uma verdadeira montanha russa de emoções que ele tenta não colocar para trás, mas, sim, usar para ajudar outros e até a si mesmo. Sem papas na língua e receios, abre o jogo numa grande entrevista à 'TV Guia' desta semana sobre os seis anos que viveu nos Estados Unidos, como fez as pazes com a personagem que voltou a abraçar em 'Morangos com Açúcar', e claro, não esquece nunca a mulher, Marine Antunes, a quem dá prioridade acima de qualquer projeto profissional.
Foi nos Estados Unidos que a falta de trabalho o levou à depressão e, depois, a um certo vício por medicamentos de prescrição médica?
A minha espiral prende-se com a minha obsessão com a profissão. E isso fez-me levar a um extremo. Não tinha capacidade mental nem emocional para me manter nos EUA, onde de resto estavam a acontecer coisas. Quando vim embora, por exemplo, tinha arranjado um agente que me representava nas duas costas do país, algo que não é fácil. Claro que, na altura, isso ainda me impedia de ser apenas ator. E era essa angústia e incerteza que não me deixava alimentar o sonho... e que acabou por me consumir. Priorizei a minha vida profissional à minha vida pessoal. E não quero cometer novamente esse erro.
Recorda esse anos nos EUA como um período feliz, ou foi sempre este negrume?
Foi uma montanha russa. Num país onde há uma falta de identificação cultural e onde não se tem raízes, torna-se difícil criar grupos de amigos sustentados. Os meus grupos eram os dos trabalhos que arranjava na restauração, onde trabalhava para pagar contas. E quando o restaurante fechava, ou nos despediam porque o patrão preferia lá pôr a filha, ficava no vazio e isso acabou por espoletar um problema de saúde mental.
Apesar de tudo o que passou, voltava a tentar a sorte lá fora?
Só se a minha mulher [Marine Antunes] puder estar comigo. Só nessa condição. Mas não penso nisso.
Nunca pensou desistir e fazer outra coisa?
Não. Nunca me passou pela cabeça. Quando saí dos EUA, senti que falhei. Foi difícil, mas percebi que é a nossa capacidade de lidar com os erros que faz de nós seres que estão dispostos a arriscar.
Fala abertamente de ter passado por uma depressão que quase o consumiu. Sente-se um embaixador, em especial para os jovens, para quem dá palestras?
Falo para ajudar os outros e ajudar-me a mim. Foi na pré-pandemia que comecei a escrever sobre isso, sobre traumas e tragédias que tinha vivido, em formato stand up. E achei que, além de ser comédia, podia ajudar os outros. Hoje, o que procuro passar é que a saúde mental é alimentada com as coisas simples do dia a dia, nas relações básicas. Porque os sucessos passam um ápice. Não é com o sucessos que temos de lidar, mas com tudo o resto. Quando eu estava mal, tinha muito dificuldade em ver a luz ao fundo do túnel. Era quase impossível vislumbrá-la, e ver um futuro leve para mim, alegre. E hoje tenho muita dificuldade em recordar-me dessa fase. Só que não quero esquecer aquele período duro, para eventualmente não cometer os mesmos erros. Para não me deixar cair na rotina do dia a dia e acabarem por acontecer episódios de ansiedade ou depressão. É isso que faço. Ou seja, para além de ajudar os outros, ajudo-me a mim.
Como é que se vigia?
A alimentar a minha alegria (risos). Fiz psicoterapia, que me deu ferramentas para saber lidar com problemas que possam surgir agora. Sei identificar e como ultrapassar.
Esta entrevista a Tiago Castro, o famoso Crómio de 'Morangos com Açúcar', pode ser lida na 'TV Guia' desta semana, já nas bancas de Portugal.