
O último ano foi penoso para Tony Carreira e Fernanda Antunes que, em tribunal, foram obrigados a ouvir de perto todos os horrores da noite em que perderam a filha mais nova, Sara, com apenas 21 anos. Foi um longo processo, com muitos avanços e recuos, que debilitou ainda mais o casal, que afirmou por mais do que uma vez que quando este chegasse ao fim era um assunto encerrado.
"Só peço humanidade. Não quero vinganças, não quero que vão para a cadeia. Quero que se ponham no meu lugar", afirmou Tony após uma das primeiras audiências em tribunal lamentando o facto de os arguidos não terem procurado a família para uma coisa tão simples como um pedido de desculpa.
"Quando isto acabar quero que sigam a sua vida. Não estarei em sede de recurso novamente aqui. Não há nada que possa fazer para que a minha filha volta, mas procurava a verdade. E não a tenho, porque preferiram as estratégias de advogados. O 'não me lembro'", acrescentou.
Tal como havia prometido, Tony não apresentou recurso e depois do longo processo, estaria agora numa fase de trabalhar no processo de luto, assim como Fernanda, quando foi surpreendido por uma decisão de Ivo Lucas.
Condenado a dois anos e quatro meses de prisão com pena suspensa e um ano de inibição de condução, por homicídio negligente na forma grosseira, o ator da SIC, que conduzia o jipe de Sara na noite da tragédia, em dezembro de 2020, pediu agora que o julgamento seja repetido, por considerar que há incongruências no processo. O advogado do ator já deu entrada com o recurso no Tribunal da Relação de Évora e caso a absolvição não seja o desfecho, pretende pedir a nulidade e repetição do processo. Entre os pontos destacados para apelar à inocência de Ivo Lucas está a velocidade a que o cantor conduzia e determinação que a colisão do jipe que o ator conduzia terá tido na morte de Sara, uma vez que depois deste embate ainda houve outro carro que colidiu com o veículo acidentado.
BATALHA JUDICIAL PODERÁ ARRASTAR-SE POR ANOS E caso o Tribunal da Relação confirme a sentença, o que espera Ivo Lucas, Tony Carreira, Fernanda e os restantes arguidos caso o ator venha a conseguir a anulação e consequente repetição do processo? Um longo e moroso caso, semelhante ao que assistimos até aqui, em que o veredito só foi conhecido mais de três anos após a morte de Sara Carreira. Tirando as peritas e os depoimentos na polícia, tudo começará do início. Todos os intervenientes no processo serão notificados e haverá várias sessões de julgamento em que os arguidos e testemunhas irão relatar novamente tudo o que aconteceu no final de dia em que Sara Carreira e Ivo Lucas regressavam do Porto para Lisboa e tiveram o acidente fatal.
BATALHA JUDICIAL PODERÁ ARRASTAR-SE POR ANOS
E caso o Tribunal da Relação confirme a sentença, o que espera Ivo Lucas, Tony Carreira, Fernanda e os restantes arguidos caso o ator venha a conseguir a anulação e consequente repetição do processo? Um longo e moroso caso, semelhante ao que assistimos até aqui, em que o veredito só foi conhecido mais de três anos após a morte de Sara Carreira.
Tirando as peritas e os depoimentos na polícia, tudo começará do início. Todos os intervenientes no processo serão notificados e haverá várias sessões de julgamento em que os arguidos e testemunhas irão relatar novamente tudo o que aconteceu no final de dia em que Sara Carreira e Ivo Lucas regressavam do Porto para Lisboa e tiveram o acidente fatal.
Ora, isto significa um esmiuçar da dor para os pais da jovem, que durante o processo, várias vezes não aguentaram a dureza dos depoimentos e abandonaram combalidos a sala de audiências. O gesto de Ivo Lucas posiciona-o cada vez mais numa situação de rutura com o clã, que já tem vindo a apontar o dedo ao rosto da SIC pela forma como se comportou para com eles, ao longo de toda esta batalha judicial. Por exemplo, Fernanda admite que Ivo lhe pediu desculpas, mas que há algo que nunca conseguirá perdoar ao jovem.
Ora, isto significa um esmiuçar da dor para os pais da jovem, que durante o processo, várias vezes não aguentaram a dureza dos depoimentos e abandonaram combalidos a sala de audiências. O gesto de Ivo Lucas posiciona-o cada vez mais numa situação de rutura com o clã, que já tem vindo a apontar o dedo ao rosto da SIC pela forma como se comportou para com eles, ao longo de toda esta batalha judicial.
"Ninguém está a ter respeito pela minha filha. Abandonaram-na, deixaram-na. Para mim, acabaram com a minha vida, mas o que é que posso fazer? (…) Todas as pessoas pedirem desculpa não vai mudar a vida delas, o que é que vai acontecer? Nada. O que acontece é que a minha filha, aos 21 anos, não teve o direito de ser feliz nesta vida, de poder estar aqui", explicou à 'TV7 Dias' no decorrer do processo.
Foram meses particularmente dolorosos para estes pais enlutados que, para honrar a memória da filha, se sujeitaram à 'tortura' de ter de ouvir como foram as últimas horas de vida de uma das pessoas que mais amavam.
O DRAMÁTICO RELATO EM TRIBUNAL
Em tribunal, os arguidos Cristina Branco, Ivo Lucas, Paulo Neves e Tiago Pacheco relataram a sucessão trágica dos acontecimentos que levaram à morte de Sara, aos 21 anos, e que começam com o arguido Paulo Neves que seguia na A1 a uma velocidade abaixo da lei, em torno dos 30 km/h, de acordo com as perícias e alcoolizado.
É neste carro, que seguia então em marcha lenta e sem sinalização, que a fadista Cristina Branco viria a embater, desencadeando toda a sequência dos acontecimentos. "Tenho um lapso temporal. A minha memória imediatamente a seguir de sair da portagem é de pôr a mão no peito da minha filha e de travar e avisar: vamos bater", reiterou em tribunal.
A cantora deixou o carro imobilizado no meio da A1 e foi para a berma com a filha, onde acionou os meios de socorro, altura em que o carro conduzido por Ivo Lucas viria a embater contra o seu.
"Eu estava ao telefone com o 112, abraçada à minha filha, foi a minha filha que viu esse momento e não eu. A minha filha começa a gritar e eu olho e vejo um carro a sobrevoar as nossas cabeças".
Se os principais arguidos acabaram por alegar lapsos de memória para não detalharem em tribunal o que aconteceu, Marco Baptista e a namorada, a veterinária Margarida Costa, que foram as primeiras pessoas a chegar ao pé de Sara, já sem vida, no jipe acidentado, recordaram, toldados pela emoção, esses momentos que jamais irão esquecer.
Margarida Costa e o namorado estavam a regressar de uma viagem à Serra da Estrela quando se depararam com os acidentes, que conseguiram contornar, parando o carro na berma para prestar auxílio. É quando a veterinária se aparecebe da presença de Ivo Lucas, em tronco nu, a deambular completamente desorientado.
"O rapaz estava muito desorientado a chamar pela namorada. Eu disse que vou ajudar, não levei o telemóvel, estava muito escuro, olhei para dentro do carro, não estava nada, e continuei à procura no meio dos destroços. Eu quando estacionei o Ivo estava mais perto da berma, estava muito desorientado", recordou a testemunha, que se depara então com Sara Carreira no interior do jipe. "O meu instinto foi espreitar para dentro do carro e não a vi, quando fui ver mais perto é que vi. Foi nessa altura que chegou um senhor que era bombeiro e o meu namorado, o bombeiro estava ao telefone com o 112 e eu estava a descrever a vítima. Fui logo ver se tinha pulso e não tinha. O senhor ao telefone estava a receber instruções e nós fazíamos conforme ele nos dizia. Ela estava muito presa ao cinto, não conseguíamos ver muito mais. Eu estava a tentar ver na carótida se tinha pulso, mas o corpo já estava frio".
Nessa altura, Margarida e o bombeiro recebiam indicações por parte dos meios de socorro, com quem estavam ao telemóvel, para cortar o cinto de segurança de Sara e colocar o seu corpo numa posição lateral de segurança.
"Vimos novamente o pulso e depois cortámos a camisola o suficiente para chegar ao pescoço para ver se tinha pulso, e não tinha. Ficamos lá ao pé dela, até alguém dizer algo em contrário e até chegar auxílio", descreve a médica.
Momentos difíceis que os Carreira poderão agora ter de voltar a ouvir numa altura em que Ivo pede a repetição do processo, agudizando uma dor que nunca irá sarar para o clã.