O relógio corria depressa e cada minuto que passava era um mau augúrio para a esperança de encontrar com vida os seis passageiros desaparecidos desde a madrugada de segunda-feira, altura em que um tornado arrasou o iate do bilionário britânico Mike Lynch, que se encontrava ao largo Porticello, Palermo, na ilha italiana da Sicília.
Num momento de puro terror, o mastro do iate (com 70 metros de altura, e um dos maiores do mundo) quebrou, provocando um desiquilíbrio no barco, que naufragou muito rapidamente, com as autoridades a darem conta que a embarcação afundou uma velocidade estonteante, e que não terá demorado mais do que sessenta segundos a ir ao fundo.
Dos 22 passageiros a bordo, 12 eram convidados de Lynch, enquanto os restantes 10 eram membros da tripulação. 15 conseguiram salvar-se com a ajuda de pessoas que se encontravam em outros barcos nas imediações, enquanto o cozinheiro do iate, Recaldo Thomas, nascido no Canadá e residente em Antígua, foi encontrado passadas algumas horas sem vida.
Uma das sobrevientes é a mulher de Mike Lynch, Angela Bacares, que se encontra numa cadeira de rodas, a recuperar dos severos ferimentos que sofreu no acidente. Desde a madrugada de segunda-feira que vivia entre um estado de profundo horror e esperança de que um milagre lhe devolvesse com vida o marido e a filha, de 18 anos, que estavam entre os desaparecidos da tragédia. Não aconteceu e esta quarta-feira, dia 21 de agosto, chegaram as notícias mais trágicas: os óbitos de Mike Lynch e a filha Hannah foram confirmados pelo jornal 'The Telegraph', que está em condições de avançar, com base em informações reveladas pela Proteção Civil da Sicília, que os mergulhadores já conseguiram encontrar cinco dos seis desaparecidos na tragédia, ainda que apenas os corpos do bilionário e da filha tenham sido já identificados, uma vez que, devido ao grau de dificuldade da operação, nem todos conseguiram ser resgatados até à superfície.
Pai e filha estariam presos numa cabine de luxo do superiate, de onde não conseguiram sair para se salvarem. Depois de muitos esforços, os mergulhadores conseguiram finalmente penetrar nesta zona do barco, que se encontrava a 50 metros de profundidade, confirmando o pior dos cenários e que se afigurava como cada vez mais provável: cinco dos seis passageiros que ainda estavam desaparecidos não conseguiram encontrar forma de sair do barco onde se encontravam, ironia do destino, a celebrar o facto de Lynch, conhecido como o 'Bill Gates do Reino Unido', com uma fortuna avaliada em 11 biliões de dólares, ter sido ilibado num processo de fraude.
Angela Bacares contaria depois da tragédia como tudo aconteceu. Por volta das quatro da manhã, a mulher do bilionário acordou com o iate a inclinar de repente, deixando-a com uma sensação de que algo não estaria bem. Por essa altura, Bacares prontificou-se a ir ver o que se estava a passar e deixou a cabine onde se encontrava com o marido, ainda que o tivesse feito apenas por precaução, pois estava longe de imaginar que alguma coisa de verdadeiramente trágica estava perto de acontecer.
É nesse momento que os vidros do barco se estilhaçaram, causando o terror entre os membros que se encontravam na embarcação. Angela conta que caminhou então sobre os vidros em momentos de horror até se conseguir salvar. Nos dias que se seguiram, aguardou por notícias "num estado de choque e profunda tristeza."
Até agora, continuam por identificar os restantes corpos resgatadados, estando ainda oficialmente desaparecidos o presidente do banco Morgan Stanley International, Jonathan Bloomer, e o advogado Chris Morvillo, assim como as mulheres dos dois, Judy Bloomer e Neda Morillo.
O MILAGRE DE CHARLOTTE, QUE SALVOU A FILHA DE UM ANO
Charlotte Golunski é uma das sobreviventes da tragédia que aconteceu no Bayesian, o superiate milionário de Mike Lynch. A mulher britânica contou ao jornal italiano 'La Republica' que acordou a meio da noite com relâmpagos e um forte trovejar e que, de repente, enquanto estava na cama com a filha, de um ano, o barco virou abruptamente. A partir daí, as memórias sucedem-se a um ritmo alucinante.
Charlotte conta que, naquilo que foram dois segundos de puro pânico, perdeu a filha no mar para depois a conseguir agarrar novamente.
"Perdi a minha filha no mar durante dois segundos e depois abracei-a rapidamente, no meio da fúria das ondas", relatou, acrescentando que se tentou manter à tona com todas as suas força "com os braços esticados para cima" para evitar a bebé se afogasse.
"Estava tudo escuro. Na água, não conseguia manter os olhos abertos. Gritei por socorro, mas tudo o que conseguia ouvir à minha volta eram os gritos dos outros", contou Charlotte, que se terá conseguido salvar porque estava na zona do convés ao invés das cabines. Conseguiu entrar com a filha num barco salva-vidas, então insuflado.
Uma história de superação no meio da dor que marcou o dia desta quarta-feira quando uma maior agitação em Porticello denunciou que havia descobertas no mar, que trouxe as piores notícias para os amigos e famílias das vítimas. "Estavam no lugar errado à hora errada", lamentou Salvo Cocina, responsável pela Proteção Civil da Sicília, que acompanhou as manobras de busca e o cenário de horror que arrasou Porticello na madrugada de segunda-feira, quando eram esperados chuva e ventos fortes, mas não a tempestade que arrasou o iate do bilionário Mike Lynch, de 59 anos, cuja festa no mar acabou em tragédia.
