O momento era de celebração. Mike Lynch, um bilionário britânico conhecido como 'Bill Gates do Reino Unido', por ter sido o primeiro a destacar-se no mercado da tecnologia naquele país, tinha acabado de ser ilibado de um caso de fraude e convidou um grupo de amigos e colaboradores fiéis a brindarem à vitória na Justiça com uns dias a bordo de um super iate, avaliado em 16 milhões de euros.
Com seis luxuosas cabines e outras áreas de lazer, o Bayesian - assim se chamava o malogrado iate - estava ao largo de Porticello, Palermo, na Sicília, em Itália, com os convidados a desfrutarem de um animado passeio sem imaginarem os momentos terror que estariam prestes a viver.
Aconteceu na madrugada da última segunda-feira. As previsões meteorológicas não eram animadoras e esperava aos convidados de Lynch, um magnata com uma fortuna avaliada em 11 biliões de dólares, uma noite de chuva forte, mas nada que lhes devesse tirar o sono. Depois do jantar, recolheram às suas cabines e quando, por volta das quatro da manhã, sentiram o primeiro abanão no barco, ficaram vigilantes, mas não em pânico.
Quem o conta é a mulher do próprio Lynch, Angela Bacares, resgatada com vida, enquanto o marido continua desaparecido, numa corrida contra o tempo que, por esta altura, as autoridades italianas acreditam ser sinal das piores notícias para as seis pessoas que continuam sem ser encontradas.
De cadeira de rodas e a recuperar dos ferimentos que sofreu, Angela disse ao 'La Repubblica' que ela e o marido acordaram por volta das quatro da manhã quando o barco “inclinou” de repente. Apesar de não terem ficado em pânico, a companheira de Mike Lynch revelou que, por precaução, se levantou para ver o que se passava, até que, de um momento para o outro, os vidros se estilhaçaram causando o caos a bordo.
A partir daí, todos os sobreviventes são unânimes, tudo aconteceu muito rapidamente. Os peritos falam em seis minutos fatais, entre o momento em que o mastro do iate quebrou, causando um desiquilíbrio no barco - é um dos maiores do mundo, com 70 metros de altura - e a embarcação afundou, com um violento tornado a ter provocado o acidente.
15 das 22 pessoas que seguiam a bordo conseguiram saltar para o mar e foram socorridos pela tripulação de outros navios, que estavam na proximidade. As autoridades italianas foram prontamente alertadas para a tragédia que acontecia no mar e desde então começou uma verdadeira corrida contra o tempo na tentativa de resgatar com vida as seis pessoas que, até ao fim desta terça-feira, 20 de agosto, continuavam desaparecidas, entre elas o anfitrião da festa, Myke Linch, a sua filha, Hannah, de 18 anos, Jonathan Bloomer, presidente da Morgan Stanley, e a mulher, Judy, o americano Christopher Morvillo e a mulher, Neda.
Supõe-se que não tenham tido tempo para saltar para o mar e tenham ficado presos dentro da cabine. "Achamos que eles ainda estão dentro do barco, essa é a nossa convicção", disse o porta-voz da guarda-costeira italiana, acrescentando que estão a ser feito todos os esforços, numa verdadeira luta contra o relógio, uma vez que à medida que as horas passam é pouco provável que se consiga encontrar alguém com vida. Por esta altura, os mergulhadores que tentam encontrar os seis passageiros desparecidos, já tentaram abrir uma brecha no casco para chegar à cabine, mas até ao momento sem sucesso.
Até agora, há a lamentar uma morte oficial, a do chefe de cozinha, nascido no Canadá e residente em Antígua, foi encontrado passadas algumas horas sem vida.
Dos 22 passageiros a bordo, 12 faziam parte do grupo de Lynch, enquanto os restantes 10 eram membros da tripulação.
OS MILAGRES DENTRO DA TRAGÉDIA
Num cenário de verdadeiro terror, há 'milagres' a serem registados. A história de Charlotte e da sua filha de apenas um ano, que sobreviveram à tragédia, é a que mais tem sido replicada. A mulher conta que enquanto as duas dormiam, o iate virou abruptamente e de, repente, deu por si dentro de água.
"Durante dois segundos perdi a bebé no mar, depois voltei a segurá-la imediatamente na fúria das ondas. Segurei-a com força, bem agarrada a mim, enquanto o mar estava tempestuoso. Muitos estavam a gritar. Felizmente, o barco salva-vidas encheu-se e 11 de nós conseguiram entrar nele", contou, em estado de choque, relatando os momentos de terror até se conseguir salvar. "Estava tudo escuro. Na água eu não conseguia manter os olhos abertos. Gritei por socorro, mas tudo que conseguia ouvir à minha volta eram os gritos dos outros."
Quem presenciou a cena não consegue agora esconder o horror. Fabio Cefalu, um pescador de Porticello que testemunhou o desenrolar da tragédia, disse que, de repente, caiu uma tromba de água, com um tornado a arrasar tudo à sua volta durante 12 minutos. Era noite cerrada e pouco ou nada se via, mas há registos de vídeos do momento do tornado que deixam visível a sua violência.
"Estavam no lugar errado à hora errada", lamentou Salvo Cocina, responsável pela Proteção Civil da Sicília, que acredita que o desfecho para esta história dificilmente seja com um final feliz.
