
Nascida numa das famílias mais poderosas do Estado Novo, Maude Queiroz Pereira, 74 anos de idade, irmã do falecido empresário Pedro Queiroz Pereira, enfrenta a acusação de fraude fiscal. Em 2013 vendeu as suas ações nas empresas da família ao irmão por 62 milhões de euros e o Fisco alega que estão em dívida sete milhões de euros em impostos não liquidados e remeteu o caso para o Ministério Público, como noticiou o 'Correio da Manhã'.
Em causa está a mudança da residência fiscal para Londres, em 2013, depois do divórcio com o empresário João Lagos e por guerras de família com o irmão e com a mãe, que a afastaram das empresas de família. O Fisco pretende saber se esteve no País mais de 183 dias. Caso se confirme, Maude passa a ser considerada residente. Com a taxa de tributação aplicada em Portugal - 28% - deveria ter pago sete milhões pelas mais-valias.
A defesa de Maude Queiroz Pereira alega que não, que, para além das 19 viagens de avião consideradas pelo MP, haverá pelo menos outras três deslocações para Espanha, de automóvel, e mais viagens de avião, que, 11 anos depois, já não tem os respetivos comprovativios, tal como é avançado pela 'Sábado', que teve acesso ao processo.
NO SEIO DE UMA DAS FAMÍLIAS MAIS PODEROSAS DO ESTADO NOVO
Quem é, então, Maude Queiroz Pereira? Discreta e reservada, nasceu em 1950 no seio de uma das famílias mais poderosas do País. O avô, Carlos Pereira, foi presidente da Companhia das Águas de Lisboa (agora EPAL) e tratava Salazar por "meu bom amigo". O filho, Manuel Queiroz Pereira, fundou a Cimianto, "que passou a fazer as grandes tubagens para transportar essa água. E é assim que começa a fortuna dos Queiroz Pereira", refere uma fonte próxima da família, citada pela 'Sábado'.
Os pais conheceram-se no intervalo de uma ópera no Teatro São Carlos. Manuel Queiroz Pereira já com 39 anos, viúvo e com um filho, Maud, solteira, com apenas 22. Casaram e foram pais de quatro filhos, sendo Maude a segunda. A família instalou-se na Avenida das Descobertas, Restelo, naquela que era considerada "a melhor casa de Lisboa". Quando regressaram da lua de mel, os pais de Maude foram surpreendidos com a generosa oferta do amigo Ricardo Espírito Santo, avô de Ricardo Salgado, que lhes decorou a casa, de forma luxuosa.
A casa era cuidada por empregados fardados e as crianças cumpriam normas rigorosas, fruto de uma educação rígida de Maud. Dos quatro irmãos, apenas Maude se licenciou. Estudou História de Arte em Itália e fez um curso de arquitectura de interiores na Fundação Ricardo Espírito Santo. Por esta altura, a família era proprietária do Hotel Ritz, onde Maude teve escritório durante mais de 20 anos. De acordo com a 'Sábado' foi ela quem liderou as renovações do hotel em 1998.
A GUERRA COM O IRMÃO PEDRO QUEIROZ PEREIRA
Enquanto isso, o irmão Pedro Queiroz Pereira – falecido em 2018, a bordo do seu iate em Ibiza, na sequência de uma queda de dois metros – transformava as empresa de família num dos colossos empresariais do País, com a Navigator a representar 1% do PIB português, a ocupar a terceira posição entre as maiores exportadoras. Antes de entrarem em guerra, Maude e Pedro tinham grande estima um pelo outro e defendiam-se mutuamente. Mais tarde, acabaram de costas voltadas, com Maude a acusar o irmão de a ter afastado da gestão das empresas e de ficar com o controlo do Grupo de forma ilegal. Por esta altura, a empresária tinha o apoio dos Espírito Santo, durante muitos anos sócios e amigos da família. De acordo com o irmão, ela tinha perdido o apoio dos acionistas e da mãe.
De acordo com a 'Sábado', que teve acesso ao testamento da matriarca Maud Queiroz Pereira, falecida em 2011, Pedro foi o principal beneficiado na parte da herança que a mãe podia dispor. A relação entre mãe e filha era, há vários anos, distante.
DOIS CASAMENTOS E TRÊS FILHOS
Maude Queiroz Pereira foi casada duas vezes. A primeira com António Miguel Teles da Silva – 1970 – de quem, tem um filho, Martim. E a segunda – 1978 – com o antigo tenista e empresário João Lagos, de quem tem dois filhos, Tomás, falecido em 2023, e João. Quando se casou com João Lagos envolveu-se nos negócios do marido, nomeadamente no Estoril Open e fez parte da organização do Dakar, cuja prova acompanhou duas vezes de helicóptero, ao lado da piloto Joana Lemos.