Afinal, quem é a figura mais excêntrica do social português acusada de violência doméstica contra Betty Graffstein? Pela sua imagem assumidamente feminina há quem se pergunte: é homem ou mulher? Graças aos tratamentos estéticos e cirurgias plásticas também a sua idade é uma incógnita. Em 2002, numa reportagem da revista 'Visão', a jornalista Rosa Ruela assegurava que no Bilhete de Identidade [à época ainda não havia o Cartão de Cidadão] Castelo Branco ia fazer 45 anos no dia 8 de dezembro desse ano. Quer isto dizer que, afinal, não tem 63 anos como fez crer recentemente no programa 'Dois às 10' da TVI, onde foi entrevistado por Cristina Ferreira e Cláudio Ramos. Completará, portanto, 67 anos ainda este ano.
Nesse mesmo Bilhete de Identidade também o nome não corresponde. José Castelo Branco é na verdade José Alberto Vieira. O apelido mais sonante foi "repescado à avó Cândida, casada com um Castelo Branco e tia do escritor Orlando da Costa [pai do ex-primeiro ministro, António Costa]", lê-se na referida reportagem. Na infância, vivida na cidade de Tete, em Moçambique, era carinhosamente tratado pela família e amigos como Zé Beto. Nascido no seio de uma família católica e tradicional da classe média, com raízes na Europa, África e Índia, José cedo começou a dar sinais da sua "diferença".
BULLYING NA ESCOLA: "BETO MARIA MENINA E BETINHA"
Muito ligado à sua mãe, Nini, o menino teve uma "superproteção", como contou Castelo Branco numa entrevista a Manuel Luís Goucha, em 2022. Assume que essa proteção tê-lo-á "prejudicado". Assumiu ter vivido os primeiros anos de vida dividido entre a felicidade e a infelicidade. Aos 4 anos entrou para a pré-primária onde terá começado a "ouvir aos gritos a crueldade das crianças". Com trejeitos mais efeminados do que os seus colegas da escola, terá sofrido ‘bullying': "Chamavam-me ‘Beto Maria Menina’ e ‘Betinha’", recordou na mesma entrevista ao programa ‘Goucha’ em que também assumiu que fugia do colégio por ser tão maltratado pelas outras crianças. A somar a isso ainda havia a irmã Clarisse que lhe dava "palmadas de palmatória" por o ver diferente. "Não me deixava dançar ballet e eu tinha tudo para ser bailarino."
Deu asas a esse seu prazer anos mais tarde quando vem para Portugal. Inspirado pelos ventos de mudança do 25 de abril, Zé Beto, que vivia num pequeno apartamento em Santo António dos Cavaleiros, na periferia de Lisboa, transformou-se na glamourosa Tatiana Romanov [Romanova como se passou a escrever na imprensa nacional]. Entre plumas e purpurinas, Castelo Branco reencontrou-se na noite lisboeta. Vestido de mulher fazia desfiles de moda por exemplo para Ana Salazar e para a sua marca ‘Maçã’ e à noite exibia-se em ambientes ‘gay’. "Arranjava-se de uma forma andrógina, na linha do Boy George", recordou o falecido jornalista e cronista social Carlos Castro à ‘Visão’ em 2002. "Fazia furor por causa da sua figura lindíssima."
TATIANA ROMANOVA: "FIGURA LINDÍSSIMA"
Uma figura que não passava despercebida a ninguém, mas que ainda assim não conseguiu singrar no mundo do espetáculo: "Nunca passou de uma mulher linda que não singrou no mundo do espetáculo, onde como ator de travesti foi presença efémera", opinou Domingos Machado, também conhecido como Belle Dominique, em declarações ao ‘Correio da Manhã’. Carlos Ferreira, por sua, que deu corpo à famosa Guida Scarllaty, que foi dono do Scarllaty Clube, em Lisboa, onde José Castelo Branco atuou em três galas diferentes de Carnaval como convidado e não como contratado com cachet, também recorda os idos anos 80 quando Tatiana Romanova tentava fazer carreira no palco.
"Nessa altura, de Tatiana, ele já tinha tendência para a aristocracia, mas pouco mais fazia que manear as ancas altivamente e sacudir o rabo na tentativa de aliciar algum espectador desprevenido. Adoro o Zé, que é um amor, educado, mas vive no século errado. A coquetice dele está desfasada no tempo", garantiu em 2004 ao mesmo jornal. Por fim, também Débora Cristal, outra grande figura do travestismo em Portugal, de seu nome Fernando Santos, relembrou que "Zé era uma personagem incrível, porque encarnava o que havia de mais chique". "O Zé nunca fez espetáculo, mas usou a Tatiana porque gostava de se vestir de mulher e deslumbrar. Como homem é uma ‘lady’ e para todos nós foi uma surpresa quando apareceu casado e com um filho".
"A TATIANA ERA MODELO! NUNCA FOI DRAG QUEEN"
Sobre essa fase da sua vida, José Castelo Branco não tem qualquer dúvida: É um capítulo encerrado. "Não nego nada porque não há nada a esconder. Foi uma ‘onda’ que passou", disse à ‘Visão’. Já mais recentemente – em 2020 – cansado que digam que foi 'drag queen', decidiu fazer uma partilha nas redes sociais e "colocar os pontos nos is" em relação a 'Tatiana Romanova'. "Aos 15 anos nasceu a Tatiana Romanov, nome que adotei durante o meu período de manequim. A Tatiana era modelo! Nunca foi drag queen como alguma imprensa diz...", escreveu o socialite.
Apesar de Castelo Branco nunca ter feito qualquer operação de mudança de sexo, assume que Tatiana era... "trangender" (transexual). "Tatiana uma das primeiras manequins transgender. Obviamente que era em segredo, evitava revelar que era um homem! (...) A Tatiana brilhou em Portugal e em Paris, desfilou várias vezes para o YSL...", continuou. É nessa partilha que Castelo Branco faz uma revelação surpreendente, admitindo que já tomou hormonas para ter peito de mulher. "Até tinha umas maminhas com as hormonas que tomava. A Tatiana foi o início do José Castelo Branco! Eu não sou um boneco! Nunca fui! E o facto de me apresentar como mulher nunca me fez gay!", atirou, insistindo mais uma vez que é heterosexual.
"NASCI HOMEM E VOU MORRER HOMEM!"
"Não julguem a pessoa pelo o pacote! É isso que mais fazem!!! Sofri muito nessa altura! Vivi em pensões! Mas nunca andei por caminhos escuros! Foi a Tatiana que me pagou as contas! Nunca tive problemas de identidade sexual! Nasci homem e vou morrer homem! Quero é que as pessoas parem de ter rótulos! O Sol nasce para todos! Como tal não vivam amarrados aos fantasmas da sociedade que condena! Porém mantenham sempre a dignidade e a vossa honra!", concluiu José Castelo Branco que tantos anos depois da "morte" de Tatiana Romanova continua a vestir-se e a maquilhar-se como se fosse uma mulher.
