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O que esperar do regresso de José Eduardo dos Santos a Angola e o "segredo dos deuses" que vai salvar Isabel dos Santos

Especialistas explicam o que pode pôr fim às disputas políticas, como fica o impasse nos casos de corrupção e o que está a acontecer dentro da casa de luxo do ex-presidente angolano. Revelamos tudo.
Amarílis Borges
Amarílis Borges
30 de setembro de 2021 às 23:16
Isabel dos Santos e o pai, José Eduardo dos Santos
Isabel dos Santos e o pai, José Eduardo dos Santos
Regresso de José Eduardo dos Santos
Regresso de José Eduardo dos Santos
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Regresso de José Eduardo dos Santos
Regresso de José Eduardo dos Santos
Regresso de José Eduardo dos Santos
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José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos e Isabel dos Santos
Isabel dos Santos e o pai, José Eduardo dos Santos
Regresso de José Eduardo dos Santos
Regresso de José Eduardo dos Santos
Regresso de José Eduardo dos Santos
Regresso de José Eduardo dos Santos
Regresso de José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos e Isabel dos Santos

José Eduardo dos Santos já regressou há mais de duas semanas a Luanda, depois do autoexílio em Barcelona, mas, até agora, da sua mansão no bairro do Miramar, só há silêncio. Ninguém sabe exatamente quais são os planos do ex-presidente de Angola. Estará a tentar recuperar o seu papel na História ou tentar restaurar o papel dos filhos na sociedade e na economia? Enquanto o ex-presidente de 79 anos de idade não quebra o silêncio, a tensão cresce.

A passar os dias isolado de todos na casa de luxo que mandou construir para quando deixasse o palácio presidencial, Zé Du, como também é conhecido, recebe a visita de poucos amigos e só terá saído daqueles muros para ir ao noivado do filho José Avelino Gourgel dos Santos.

"A rotina dele tem sido estar na piscina da propriedade e jogar, que é o seu exercício. Às vezes fica com um dos filhos. Não sai para comer com os amigos", disse uma fonte próxima à ‘The Mag’, pedindo para não ser identificada. Nas redes sociais, circula um vídeo antigo que dizem ser o ex-presidente a jogar basquetebol, como refere a nossa fonte.

Além da saída que fez para ir à festa de noivado, o ex-presidente não voltou a ser visto. "Inicialmente, quando estava tudo mal [nas relações entre José Eduardo dos Santos e o atual presidente, João Lourenço], ele não tinha tropas na casa. Agora já vês quatro ou cinco oficiais", disse ainda a mesma fonte. O resto é o segredo normal à volta do ex-presidente.

"O José Eduardo usou a vida toda uma tática, a do silêncio, ele evita falar seja do que for. É muito difícil percebermos. Normalmente, em política tentamos perceber até nos sinais, em alguns gestos ou em algumas atitudes o que é que está por trás, mas com o José Eduardo dos Santos é quase impossível isso acontecer", explicou o jornalista e diretor da Rádio Essencial, Emídio Fernando, em declarações à ‘The Mag’. 

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Sem medos, milionária Isabel dos Santos apanhada a andar de metro

A opinião é partilhada por outro jornalista, Nok Nogueira, diretor do jornal ‘Isto é Notícia’. José Eduardo dos Santos "é uma pessoa que para o contexto sociopolítico angolano não regressou, está igual, o regresso dele não fez mossa na imprensa pública". O tratamento que tem sido dado ao assunto é de "total indiferença". "Ele está cá, mas está num autêntico bunker em silêncio", acrescentou.

Do lado de fora, também não passa despercebido o que tem sido feito com a imagem dele. "Oficialmente, o partido não felicitou o seu regresso nem conseguiu ir recebê-lo no aeroporto. O José Eduardo dos Santos passou à história", disse Nok.

Um sinal de um "MPLA muito agitado internamento", como afirmou Emídio. O partido tem o congresso agendado para daqui a dois meses e as próximas eleições estão marcadas para o próximo ano.

"Faz-se uma série de conjeturas aqui em Angola. Uma delas admite que José Eduardo dos Santos tenha regressado e que vá fazer uma interferência no congresso do MPLA em dezembro, e que essa interferência passará por exemplo por ele apoiar alguém candidato a secretário-geral [...] Isso é uma conjetura, não há dados sobre isso. Na História do MPLA, isso nunca aconteceu. Outra coisa é aquilo que não se pode esconder, a agitação interna que tem o MPLA".

Para Nok Nogueira, um cenário em que o ex-presidente volta a assumir um papel político é difícil. "O José Eduardo dos Santos está muito debilitado. Pessoalmente, não acredito que ele vá aparecer no congresso do MPLA. A imagem dele na imprensa pública teria de passar por uma certa reabilitação comparativamente àquela que ele tinha quando era presidente. Não se começou a fazer essa reabilitação da sua imagem. Por outro lado, o próprio estado de saúde dele. Não acredito que ele apareça com aquela imagem tão debilitada que apresenta atualmente. A não ser que haja uma grande surpresa", analisou o jornalista. 

O PAPEL DOS FILHOS NA SOCIEDADE E NA ECONOMIA 

Nos últimos dois anos e meio, de autoexílio, muito pouco se soube do ex-presidente de Angola. Tinha ido para Barcelona por questões médicas, vivia numa mansão de seis milhões de euros em Pedralbes e passou a visitar a filha Isabel dos Santos  regularmente no Dubai, após a morte do genro, Sindika Dokolo. Uma dessas visitas, em março deste ano, coincidiu com uma viagem de João Lourenço à mesma cidade, mas ninguém confirma que terão mesmo conversado. 

Um dos pontos que não passa ao lado do homem que esteve 38 anos no poder neste seu regresso a Luanda são exatamente estas disputas da Justiça com os seus filhos mais velhos, José Filomeno dos Santos - condenado a cinco anos de prisão no caso da transferência ilegal dos 500 milhões de dólares e a aguardar o recurso - e Isabel – investigada no escândalo Luanda Leaks, envolvendo o desvio de milhões de dólares do erário público angolano.

"Não acredito que o José Eduardo dos Santos tire algum dividendo [em caso de conversas com o MPLA], a não ser que esteja a pensar nos filhos, na possibilidade de os filhos não serem perseguidos como têm sido. Essa é a única possibilidade", argumentou Emídio.

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No Dia do Pai em muitos países do mundo, Isabel dos Santos recorda o marido

"Ele tem imunidade, mas alguns dirigentes, a começar pelo filho José Filomeno dos Santos e pela filha Isabel dos Santos, que estiveram muito próximos dele durante estes últimos 20 anos, foram eles que tomaram conta do país de facto", completou. E é urgente abrir as portas ao investimento no país, após cinco anos de crise económica e da fome que estrangula o país.

"Estou convencido que eles vão recuar" na forma de combate à corrupção. "É impraticável a forma como isso tem sido feito. Não se pode chegar numa empresa e entregar aquilo" a outros.

"Durante estes anos todos as pessoas enriqueceram de uma determinada forma, facilitaram, e agora de repente retiram isto tudo, mas não estão a retirar individualmente, estão a retirar a quantidade de empresas e quantidade de trabalho e empregos que deram. Esse é o grande problema que Angola atravessa. Isabel dos Santos empregava milhares de pessoas. São estas pessoas que estão a ficar no desemprego. Mesmo sem haver julgamento, sem haver sequer decisões da PGR, João Lourenço está a pegar nos imóveis e nas propriedades daquelas pessoas que alegadamente receberam dinheiro ilícito e entrega a alguém", acusou Emídio. "E esses trabalhadores destas empresas é que são os mais prejudicados."

O clima de incerteza tem aprofundado a falta de financiamento estrangeiro. "Quem é o empresário estrangeiro que vem investir em Angola a pensar que daqui a seis meses, por qualquer decisão do presidente ou de quem que seja, a empresa afinal é do Estado?"

Nok Nogueira acredita que "esta questão dos filhos do ex-presidente da república não vai ser resolvida em hasta pública. Isto vai ficar nos segredos dos deuses porque também não é cultura do MPLA revelar as suas jogadas. Só vamos saber a quantas andamos lá por volta de fevereiro, quando a pré-campanha intensificar", defendeu Nok Nogueira. 

A ‘The Mag’ tentou contactar o porta-voz do MPLA, Albino Carlos, o porta-voz da Procuradoria-Geral da República de Angola, Álvaro João, a empresária Isabel dos Santos e a ex-deputada Tchizé dos Santos mas não obteve resposta até ao fim desta edição.

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