Foi no verão passado que Simone de Oliveira, desesperada por não conseguir chegar à fala com Vítor de Sousa, lançou o alerta: o ator, de 79 anos, como que se havia isolado do mundo, não atendendo telemóveis, abrindo a porta de casa ou respondendo a qualquer tentativa de contacto de algum amigo mais próximo, sendo que tal se deveria a uma forte depressão.
"Ele não atende ninguém. Está com uma depressão de tal modo que não fala com ninguém, não vai à rua, ninguém sabe o que se passa, ninguém sabe o que é que aconteceu", descrevia a veterana atriz e cantora, que atualmente vive na Casa do Artista (Lisboa), em declarações à 'Nova Gente', acrescentando que chegou mesmo a pedir a um médico para lhe ir bater à porta.
E se seria expectável que, depois do pedido público de ajuda, pudesse haver uma reação por parte do conhecido ator, a verdade é que desde então pouco se alterou. Inicialmente, Vítor de Sousa tentaria descansar os mais próximos, deixando uma mensagem pública, passada através do amigo Germano de Campos.
"Meus amigos, meus colegas minha família... Reconheço que tenho sido injusto refugiando-me num silêncio que a mim próprio me dói", começa por escrever.
"Sei que tenho estado ausente nos últimos tempos e senti que era altura de dizer algo, pois muitos há que se preocupam comigo", continua.
"A verdade é que estou bem dentro das maleitas naturais que a idade nos traz. Agradeço as inúmeras mensagens de amor, apoio e carinho de todos. Um abraço fraterno e até breve!", remata.
No entanto, depois disso, Vítor de Sousa continuou fechado ao mundo e a braços com as mesmas questões de saúde que o têm apoquentado, num estado de alheamento que não descansa aqueles que o rodeiam. A FLASH! chegou à fala com Simone de Oliveira, que se mostrou angustiada com a situação do ator, que continua sem responder a qualquer contacto. "Nada se alterou e a situação é preocupante. Ele não atende nem abre a porta a ninguém", lamentou.
Segundo uma outra fonte, houve também tentativas de contacto para que o ator pudesse inscrever-se para passar a residir na Casa do Artista, e desta forma recebesse um maior acompanhamento, não estando totalmente sozinho, mas também essas tentativas saíram goradas
A TRISTEZA PELA PARTIDA DA MÃE
Entre os amigos, a preocupação com o ator, de 79 anos, é imensa, e o caso não é para menos. Vítor de Sousa tem um longo historial de batalhas contra a depressão que o próprio não esconde. Em entrevista à 'Sábado' nomeou vários desses períodos que o atiraram para um lugar escuro.
"Houve uma fase muito má. Estava sem trabalho, com um desgosto de amor e tive uma depressão. Pensei que se tomasse meia dúzia de comprimidos e um gin tónico, morria. Claro que não morri, mas foi feio. Estava em casa com a minha avó, ela a passar a ferro, e quando a minha mãe chegou eu estava inanimado na cama dela. Não se faz! Lembro-me da minha mãe espreitar pelo vidro da enfermaria, feliz, mas a fazer um gesto de descompostura", partilhou, acrescentando que, durante a vida, voltaria a viver períodos difíceis.
O momento em que o seu nome foi associado ao Caso Casa Pia foi duro. No entanto, quando anos mais tarde foi confrontado com a morte da mãe, o seu mundo desabou.
"Estava sozinho em casa quando ouvi o meu nome ser anunciado na televisão. Não sei como surgiu. Acho que tinham de arranjar nomes. Fiquei aflitíssimo e nunca tinha visto aquele Carlos Silvino. Mas o que foi o caso Casa Pia comparada com a morte da minha mãe? Nada... Estava em Portimão para atuar e recebera um bilhete dela a dizer que, pela primeira vez, não ia à estreia de uma peça minha. Já não falava, por causa de uma esclerose lateral amiotrófica e eu pagava mais de 1.500 euros para ter alguém sempre a acompanhá-la. Foi um enorme esforço financeiro, ela merecia tudo, mas nunca lhe disse que passava dificuldades – ela pensava que eu pagava 500 euros. Soube da morte às 6h e fui a correr para a rua, chorei ao pé da praia. Queriam cancelar o espectáculo, mas rejeitei. A lotação estava esgotada."
É a mulher a quem deve tudo, até porque numa tenra idade o criou sozinho. Tanto que Victor só viria a conhecer o pai já muito tarde, numa altura em que já tinha mais de 40 anos, quando este lhe pediu que fosse sua testemunha num acidente. Conta o ator que marcaram encontro nos Restauradores e desde então estiveram juntos mais um par de vezes até o pai morrer.
"Cumprimentei-o e não senti nada, nem um arrepio. No fim da conversa, dei-lhe um beijo e fui-me embora. Queria pedir-me desculpa por me ter abandonado mas eu não via razões para aquele senhor, que não conhecia de lado nenhum, me pedir desculpas depois de 40 anos. Fui de uma frieza pura. Depois disso, almoçávamos juntos, de vez em quando."
Já depois da morte da mãe, em quem assume pensar todos os dias, Vítor de Sousa acabaria por ser assolado por um problema de saúde que o confrontou novamente com episódios depressivos.
"Foi uma diverticulose [infecção nos intestinos] que me fez emagrecer 10 kg. Achei que tinha um cancro que me estava a destruir e entrei em depressão. Tinha medo de estar sozinho, desenvolvi uma grande mania da perseguição, doeu-me muito. Quando adormecia, chegava a pensar que já não acordaria."
Uma vida de altos e baixos que agora volta a ser motivo de preocupação para os mais próximos de Vítor de Sousa, que reforçam o alerta de preocupação.