Há mudanças e mudanças de vida. A de Hugo Nascimento foi radical. Nascido e criado em Lisboa, fez carreira de chef com os maiores nomes da cidade. Cresceu. Trabalhou, trabalhou, trabalhou. 14 horas por dia era o normal. Até que um dia, cansado de "correr atrás de coisa nenhuma" achou que já chegava.
Passava férias com Joana, a mulher, em Odeceixe, um paraíso perdido na Costa Vicentina. Ali sentiam a calma que não havia na cidade. Havia um ritual de férias: cozinhar um jantar entre amigos nas Casas do Moínho. "Sei lá, apetecia-me cozinhar", confessa o chef Hugo, sentado, hoje, num dos bancos das mesmas Casas do Moínho, num dos pontos mais altos de Odeiceixe, mas agora num outro papel. Hugo sorri. Das raras vezes que sorri. Mas imaginava o que iria acontecer. Ou se calhar até imaginava. Precisava de paz, de não passar uma hora no trânsito, de ter tempo para os seus - a família. Foi quando decidiu partir. Ficar. Em Odeceixe. "Foi pegar nas coisas e vir embora".
MUDAR DE VIDA
Mas para fazer o quê? Um restaurante, evidentemente. O Naperon nasceu nas Casas do Moinho. Cozinha de autor, feita com produtos biológicos, da região. Peixe que se compra com os pescadores, legumes da horta própria ou das explorações próximas que já conhece perfeitamente. É uma delas que vamos espreitar. Os túneis de folhas verdes, onde até flor de mostarda se descobre. O que isso faz num prato? Maravilhas. Os aromas abrem, os sabores apuram, tudo parece simples.
Para a FLASH! o chef Hugo Nascimento cozinha uma salada de gambas do Algarve, numa cama de folhas verdes. O segredo está na preparação: limão, cebolinho, um acompanhamento de pérolas de mandioca cozidas em caldo de camarão, desidratadas e depois fritas em óleo de amendoim. Para finalizar um molho de vinagrete caseiro. Soberbo!
Foi em Odeceixe que o chef e a família passaram a pandemia. Uma sorte e um azar, assumem. "O restaurante esteve fechado". Abriu no verão passado, depois voltou a fechar e agora está a trabalhar a todo o gás. O espaço teve obras. Abriu para a piscina das Casas do Moinho, o turismo de casinhas enquadradas na paisagem. Sustentabilidade e respeito pela natureza são, ali, palavras de ordem.
E saudades da cidade, não há? "Quando há vou lá como turista! Agora é que aproveito Lisboa, não é quando vivia lá".
Repórter: Luísa Jeremias
Imagem: Diogo Athouguia
Edição: Nuno Santos/Statement
Produção: Statement
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