
A guerra era antiga e André Ventura tinha em Augusto Santos Silva uma das suas maiores vozes críticas, que nada deixava por dizer e se insurgia contra o líder do Chega no Parlamento. Hoje, já ninguém sabe ao certo como a animosidade entre os dois começou, mas a o presidente da Assembleia da República transformou-se numa espécie de carrasco para Ventura com as provocações a subirem muitas vezes de tom.
Na última quarta-feira, dia 20 de março, o presidente do partido mais à direita em Portugal celebrou efusivamente o facto de Augusto Santos Silva, cabeça de lista do PS pelo círculo de Fora da Europa, não ter sido eleito deputado. "Os eleitores deram uma mensagem clara, que não o querem no Parlamento. Livraram-nos do ativo tóxico do socialismo", afirmou, considerando ter sido a vitória da "humildade sobre a arrogância."Uma semana antes, e em tom de paródia, já se tinha sentado na cadeira de Augusto Santos Silva para antever o seu afastamento, num vídeo que partilhou no Tik Tok.
@andre_ventura_oficial O melhor destas eleições é que podemos livrar-nos de Santos Silva. E pode mesmo ser o CHEGA a correr com ele da AR??
? som original - andre_ventura_oficial
Para muitos, a euforia demonstrada por Ventura prende-se mais com o facto de ter perdido um dos seus maiores opositores, que lhe fazia frente praticamente desde o início da legislatura, em 2022. Um dos primeiros desaguisados a ser tornado público aconteceu quando, no Parlamento, o líder do Chega utilizava palavras duras em relação à comunidade cigana, devido ao alegado envolvimento de um dos membros na morte de um agente da PSP. Irritado com o teor da linguagem utilizada por Ventura, Augusto Santos Silva tirou-lhe prontamente a palavra. "Não há atribuições coletivas de culpa em Portugal", atirou.Mas muitas outras disputas no Parlamento acabariam por se suceder. Numa das mais mediáticas e polémicas, em outubro de 2023, André Ventura 'atirou-se' ao presidente da Assembleia por não ter condenado as agressões e insultos a três deputados do Chega numa manifestação pelo direito à habitação em Lisboa.
"Uma última palavra para Augusto Santos Silva. Usou as suas redes sociais para criticar e condenar tudo e mais alguma coisa. Quando alguns deputados são agredidos e insultados, os seus deputados, fica em silêncio como um cobarde que é. Se é cobarde, não tem lugar enquanto presidente da Assembleia da República", disse, já fora da Assembleia.
No dia seguinte, porém, Santos Silva não deixou passar em branco o insulto e, dirigindo-se diretamente a André Ventura, nada deixou por dizer. Classificava, então, as acusações como um "discurso artificial" e disse aos deputados do Chega para se absterem de "fazer provocações" se pretendessem ser respeitados. "Quanto à expressão com que o Sr. Deputado me mimoseou ontem numa conferência de imprensa e não teve a coragem de repetir aqui, quero apenas dizer-lhe que Vossa Excelência deve ter sempre em conta que, quando me vê, não se está a ver ao espelho", rematou, perante a indignação total de Ventura, que afirmava que, a partir daquele dia, não iria respeitar mais Santos Silva enquanto Presidente da Assembleia.
"Não o reconheço como presidente e vou-me embora", disse na ocasião para se levantar e sair da sala.
@abreolhos22 "ESTOIRO" Chega de André Ventura abandona Parlamento. "Aumento a voz quando quiser porque sou deputado eleito" #chega #andreventura #presidentedaassembleia #parati #paravoce #foryou ? som original - ABRE_OLHOS
Momentos tensos que acabariam por chegar às redes sociais, tornando-se virais devido à acesa troca de palavras entre os dois.
PICARDIA NO 25 DE ABRIL Mas a lista de troca de galhardetes entre os dois é muito extensa. Nas comemorações do 25 de Abril do ano passado, um novo desentendimento entre André Ventura e Augusto Santos Silva acabaria por ficar para a história. Aconteceu durante a sessão de boas-vindas a Lula da Silva. Na altura, o Chega demonstrou o seu desagrado pela presença do presidente brasileiro no plenário, batendo nas mesas e erguendo cartazes de protesto. Perante o barulho cada vez maior, Santos Silva usou o seu tom mais firme para repreender os deputados do partido de Ventura. "Os Srs. Deputados que querem permanecer na sessão plenária têm de se portar com a urbanidade, a cortesia e a educação que é exigida a qualquer representante do povo português. Chega! Chega de insultos! Chega de degradarem as instituições! Chega de porem vergonha no nome de Portugal!"
PICARDIA NO 25 DE ABRIL
Mas a lista de troca de galhardetes entre os dois é muito extensa. Nas comemorações do 25 de Abril do ano passado, um novo desentendimento entre André Ventura e Augusto Santos Silva acabaria por ficar para a história.
Não seria a única vez que Santos Silva mandaria calar André Ventura e que este respondia, em tom de birra, que falava quando quisesse e assim o entendesse. "Que eu eu saiba, não há limite de soundbytes aqui no Parlamento", ironizou, acrescentando de seguida: "Levanto a voz quando quiser porque sou deputado eleito; por isso, se eu quiser levantar a voz, levanto".
Agora, Ventura celebra vitória ao perder um novo opositor no Parlamento, ao mesmo tempo que estuda os novos deputados para perceber quem poderá ser o sucessor de Augusto Santos Silva.