A parentalidade dos tempos modernos tornou-se mais respeitadora, sim, mais focada nas necessidades dos bebés e das crianças, também, mas, na verdade, entre toda a informação com que somos bombardeados, entre os padrões que queremos atingir e entre as necessidades que se criam e às quais sentimos que temos de corresponder, até que ponto é que não estamos a cair na nossa própria ratoeira?
O alerta é dado pelo conceituado pediatra espanhol Carlos González, que garante que, apesar de as mudanças que ocorreram sejam salutares, o excesso de informação, por vezes, acaba por desviar o foco dos pais daquilo que verdadeiramente importa. "
“Nos meus primeiros anos como pediatra, ninguém nunca me consultou para saber se uma criança estava a dormir ou não. Até começarem a sair livros a dizer como as crianças deveriam dormir, os pais não começaram a pensar que, se o bebé ou a criança acordasse, poderia ser um problema médico”, começa por explicar, acrescentando, no entanto, que o excesso de informação a que os pais têm acesso gera, muitas vezes uma enorme sensação de ansiedade, que os leva a gastar dinheiro em coaches do sono e recorrer a todo o tipo de profissionais para algo que, na verdade, pode não ser efetivamente um problema.
"Cada vez há mais livros, mais especialistas, mais páginas e vídeos na internet. Há pessoas que passam muito, mas mesmo muito tempo a ver o que se diz na internet. E a verdade é que era muito mais proveitoso passar esse tempo, simplesmente, a olhar para os filhos."
Além do perigo das tendências – que na verdade podem não se adaptar ao estilo de vida de uma família, criando frustração – o pediatra admite que o estilo de vida dos pais dos tempos modernos, que trabalham muito e têm pouco tempo para os filhos, leva a que por vezes estes se sintam inseguros na forma como educam as crianças, devido "à falta de horas de voo", e acabem por as criar mais num clima de medo do que de verdadeira aprendizagem.
"Parece que alguns pais estão muito preocupados com o facto de os filhos conseguirem sempre aquilo que querem e, de repente, por causa disso, tornam-se nuns tiranos. Não me parece que os meus pais tivessem essas preocupações. Quer dizer, é claro que os pais mandam e os filhos devem obedecer, mas as chances de o seu filho se tornar um serial killer por não prestar atenção de vez em quando são muito baixas", brincou.
