
Não tem estrelas Michelin, mas a sua dona é uma verdadeira estrela na Ria Formosa, em Cabanas de Tavira, no Algarve. Tanto que a sua fama se espalhou por Portugal inteiro e são muitos os turistas que ficam horas e horas na fila à espera de entrar no restaurante para provar os pratos de peixe e marisco da 'Chef' Noélia Jerónimo, a mesma que aparece na televisão e é jurada do 'MasterChef' da RTP.
A Weekend foi almoçar ao restaurante de Noélia e esteve na cozinha da mais acarinhada cozinheira televisiva do momento. Enquanto cá fora filas ordeiras de potenciais comensais esperam em pé, no passeio, junto à esplanada, a dona da casa trabalha que nem um moura no fogão para que nada falhe, e dá indicações em inglês enquanto escala um belo robalo.
CLIENTES AO SOL, PATROA NO MERCADO
Três horas antes de começar o corrupio no passeio junto ao despretensioso restaurante, que já conquistou pergaminhos de templo da gastronomia algarvia, encontramo-nos com Noélia. Impressiona-nos pela simplicidade. Pelo sorriso franco. Sem manias. Pede-nos desculpa pelo atraso. O seu carro avariou e está entregue aos especialistas da mecânica. Solicita-nos boleia até ao mercado de Tavira. Damo-la na hora. Vamos vê-la em ação às compras. Noélia é baixinha e franzina, mas, nos lugares de venda, agiganta-se e parece um general de cinco estrelas. Das bancas de peixe às da fruta e legumes todos lhe dão atenção. Todos param para escutar e satisfazer os seus pedidos. A Chef verifica, no meio da zoada do mercado, a qualidade do peixe que encomendou, como quem passa revista às tropas. E passam com distinção…
"Nenhum dos meus fornecedores se atreve a entregar-me peixe que não esteja em condições. Eles sabem que se não cumprirem os meus requisitos mando tudo para trás", explica Noélia, já no lugar do pendura do carro, com dois robalos frescos num saco a seus pés, de regresso a Cabanas. E estes são especiais, confessa, prometendo: "Vou cozinhá-los para vocês".
AS OSTRAS É QUE FORAM PASSEAR
Por culpa da reportagem, a cozinheira está atrasada. Num piscar de olhos, veste a jaleca e dispara ordens ao staff da cozinha, em português e inglês. No meio do um balé de tachos e ingredientes para confeção, onde também se cruza o técnico de refrigeração que vem dar um arranjo numa arca de congelação, um dos colaboradores pergunta a Noélia se "as ostras vieram". A Chef, sem se desmanchar, responde de rajada e bem-humorada que não: "Foram dar uma volta. Foram dar uns mergulhos na ria".
Com um dos robalos comprados no mercado de Tavira numa mão e a faca na outra, a cozinheira começa a cortar com mestria o peixe, destacando todos os sinais da sua frescura. Perguntamos-lhe se a magia que faz no fogão é resultado de muita complexidade e requinte ou se a aposta está na singeleza, sem truques na manga. "Aqui não se inventa nada. A minha aposta é na gastronomia tradicional algarvia, rica e cheia de sabores dos temperos", diz, avisando que, quem ouve estas declarações, não pense que se limita a copiar as receitas ancestrais.
UM MENU DOS DEUSES
Enquanto a cozinha fervilha de agitação, Noélia quer que nos sentemos e comecemos a comer as suas criações: um festival de gaspachos com figos, douradas grelhadas, robalos do mar fritos com migas de tomate, arrozes de limão com corvina e amêijoas, arrozes de robalo do mar com gambas do Algarve, sardinhas marinadas com maracujá, cataplanas, filetes de peixe-galo, lulas fritas e de muitas outras formas. Ah, e tudo bem regado com uma carta com mais de 400 referências de vinhos nacionais, onde nem sequer faltam uns míticos Barca Velha.