
Cristina Ferreira foi à prisão de Tires entrevistar Maria das Dores, a antiga socialite que está a cumprir uma pena de 23 anos por ter mandado assassinar o marido, o empresário Paulo Pereira Cruz - pai de Duarte, o seu filho mais novo - que se queria divorciar dela.
"Acho que tudo o que me aconteça de mal, eu mereço. E mereci", começou por dizer Maria das Dores, que explica que nos primeiros anos da pena viveu em negação."Três, quatro anos depois, comecei a aperceber-me de que, na realidade, tinha causado uma catástrofe. Tinha vitimizado muita gente. E tinha sido a causadora daquilo tudo. E aí comecei a sofrer, a aperceber-me do porquê. (...) Ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém. E isso, nunca me vou desculpar", disse.
Maria das Dores contou que foram os ciúmes, os maus tratos verbais e a consequente baixa autoestima que a levaram a cometer o crime, mas que amou profundamente o marido no início da relação.
"Quando o conheci foi uma paixão avassaladora (...) Idolatrava-o (…) Nós davamo-nos muito bem. Eu era casada. Contrariamente ao que se diz, eu tinha uma vida. Trabalhava num banco (…) Não cometi este crime por dinheiro. Cometi este crime por ciúme e por me sentir com a autoestima completamente em baixo. Porque eu era, simplesmente, maltratada", recorda.
A ex-socialite perdera um braço alguns anos antes, num acidente de viação onde Paulo Cruz ia a conduzir. Algo que contribuiu para o afastamento do casal. "Comecei a sentir que estava gorda (…) Fui-me apercebendo do afastamento... rejeição, em termos íntimos, porque lhe fazia confusão o braço", contou.
Maria das Dores tentou explicar o que a levou à sua decisão, embora garanta que ainda hoje não consiga perceber realmente o que aconteceu.
"Foi depois de muita, muita coisa. Muitos episódios de maus-tratos verbais. De me chamar 'Maria gorda', de dizer: 'Olha aquela tão gira'. Depois de tantas coisas feias. E de eu cada vez me sentir mais pequenina (...) Era tratada como 'não tens braço. Pesas 100 quilos'", contou.
Maria das Dores continuou na espiral descendente até tomar a derradeira decisão. "Aquilo foi um momento que eu tive. Comecei a pensar em tudo. Fiquei sem um braço. Ele não esteve no velório da minha mãe. Pensei em tudo. 'Vais-me pedir o divórcio. Vais ficar com o Duarte. Eu, se calhar, vou ficar sem nada. Eu não posso ficar sem o Duarte'. Eu sabia que ele me ia pedir o divórcio. Eu não queria. Não sei explicar. Estou tão arrependida (...) Não sei explicar o que se passou comigo".
O empresário foi morto com duas pancadas na cabeça por homens contratados por Maria das Dores. "A Maria mandou matar o seu marido", disse-lhe Cristina Ferreira.
"Sim (…) Não pensei", admitiu Maria das Dores, acrescentando: "Disse só [ao motorista] que queria que lhe batessem. E ele perguntou: 'mas bater como?' e eu disse: 'quero que o Paulo morra. Quero que o meu marido morra'. Disse isso'.
Maria das Dores mostrou-se arrependida ao longo de toda a entrevista, garantindo no entanto que não é "uma psicopata".
"Ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém. É o que sei. E eu fi-lo. Portanto, tudo de mal que me aconteça é pouco. Tenho de pedir perdão às pessoas que vitimizei. Agora, não sou uma psicopata nem ando para aí a pensar em matar pessoas", afirmou.