
Luís Aleluia, 63 anos de idade, o ator que deu vida ao 'menino Tonecas' com sucesso, nos anos de 1990 – houve episódios que foram vistos por 25 milhões de espectadores no mundo inteiro –, teve um lado mais triste na infância, de violêcia doméstica, às mãos de um padrasto alcoólico. Aos 10 anos acabou institucionalizado na Casa do Gaiato.
Aos 10 anos de idade o que havia de 'menino Tonecas' em Luís Aleluia? "Também não era um paz de alma, não era um anjinho. Era uma criança normal. O professor do Menino Tonecas era de uma bonomia e deixava o puto abusar. Na Casa do Gaiato tive professores duros que não deixavam os alunos abusar e aquilo piava mais fino. O que me fez ser melhor aluno do que o Tonecas", recorda o ator em entrevista à TV Guia.
"Sabia a tabuada, nunca levei reguadas por não a saber. Eu sou a antítese do Tonecas: gosto de estudar, de aprender e de crescer. Ainda hoje ando na faculdade, a fazer Ciências da Comunicação, e sem ser pelo canudo. O menino Tonecas tinha comicidade, era o confronto do palhaço rico, que era o professor que tinha o lacinho, e o palhaço pobre, o aluno de boné. E tinha mesmo muita piada", recorda ainda.
Luís Aleluia viveu na Casa do Gaiato durante seis anos. Anos que lhe moldaram a personalidade. Entrou para "escapar" das tareias do padrasto e libertar a mãe desse jugo. "Era uma circunstância que ocorria devido ao álcool. Não apanhava tareia todos os dias. Fui para Casa do Gaiato para a minha mãe se poder livrar desse senhor. E ainda bem que lá fui parar, porque me foi incutida uma filosofia de humanismo, de distribuição, de cooperação. Um série de valores morais com os quais cresci e que ainda hoje defendo", congratula-se.
A Casa do Gaiato funciona como uma família, com o espírito de irmãos, de partilha e, por isso, todos fazem tudo. "Fui tudo na Casa do Gaiato, faz parte da formação. Convivemos com isso, desde cedo: cozinhávamos, limpávamos. Ainda não havia 25 de Abril e já fazíamos eleições para elegermos o nosso chefe. A democracia chegou-me mais cedo do que a própria Revolução. Já havia exposição pública do que pretendiam fazer daqueles que se candidatavam a chefe maioral ou chefe de secção. E depois votávamos. Fui cozinheiro, fui para a copa, fiz camas, tomei conta dos mais novinhos, varri ruas. A dignidade através do trabalho faz parte da tua formação, do teu caráter. Quando sais da Casa e queres ter uma família, tens de arranjar um trabalho, viver dele e participares na sociedade", refere Luís Aleluia.
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