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Homenagem

Soares: morte da mulher encurtou-lhe a vida

Aos 92 anos, o coração do pai da liberdade deixou de bater. A sua saúde piorou muito desde que o seu grande amor, Maria Barroso, partiu há ano e meio. Um amor de 70 anos.
Por Isabel Laranjo | 07 de janeiro de 2017 às 17:46

Foi um amor que durou 70 anos. Feito de cumplicidades e sacrifícios. Mário Soares e Maria Barroso, aliás, casaram-se por procuração, estava o então advogado preso na cadeia do Aljube, em Lisboa. Maria tinha 24 anos; Mário 25. Tinham-se conhecido na faculdade e partilhavam os mesmo ideiais de esquerda e luta contra o regime de Salazar.

Foram os mesmo ideais que os juntaram, que os separaram por diversas ocasiões. Porém, os seus corações não mais deixaram de estar enlaçados, até ao falecimento deMaria Barroso, no dia 7 de julho de 2015, aos 90 anos, na sequência de uma queda, que lhe provocou uma hemorragia cerebral fatal.

A inesperada doença de Maria Barroso, na sequência da queda,na sala de jantar da casa onde moravam, foi um duro golpe para Mário Soares, eternamente apaixonado pela mulher, e que todos os dias a visitava no Hospital da Cruz Vermelha.A antiga atriz, professora e ativista política estava em estado de coma, não podendo comunicar com o marido.

Contudo, Mário Soares quis acompanhá-la até que o fio de vida expirou.Um golpe tão terrível que fez com que, aos poucos, também Mário Soares fosse ficando cada vez mais debilitado, até ser internado no mesmo Hospital da Cruz Vermelha, terça-feira, 13 de dezembro.

"São 92 anos de um homem que já estava fragilizado. E que ficou muito mais fragilizado depois de ter tido uma encefalite, há dois ou três anos, e e ainda mais depois de perder a sua mulher", explicou, na ocasião, aos jornalistas o sobrinho, Eduardo Barroso.

O médico estava visivelmente consternado  como estado de saúde do tio. E aponta a idade avançada – o antigo Presidente completou 92 anos no dia 7 de dezembro – como o seu principal inimigo, neste momento delicado. "Qualquer soprozinho, uma complicação, uma gripe, pode ser ainda mais grave do que no nosso caso".

Durante as três semanas que esteve internado, sempre com prognóstico reservado, o sobrinho, os filhos e netos foram visita constante do paciente Mário Soares. Dia 7 de janeiro, às 15 horas o coração deixou de bater.   

26 dias internado

Passava pouco das três da manhã, de terça-feira, 13 de dezembro, quando Mário Soares foi acometido de uma indisposição gástrica. De pronto, foi conduzido ao Hospital da Cruz Vermelha. "Neste momento está a ser assistido pelo seu médico, o Dr.Manuel Pedro Magalhães, que tem sido um grande amigo nosso. Ele falou-me há bocadinho e disse que, se calhar, íamos pôr o tio no quarto, para não estar nos cuidados intensivos, pois não vai precisar deles.Vamos ver como é que um senhor de 92 anos vai reagir a esta situação", enfatizou Eduardo Barroso.

O médico, conhecido por ser uma autoridade na área dos transplantes de fígado, volta a referir a perda da mulher como um fator de desgaste para o tio. "O facto de ele ter cortado com o seu médico assistente habitual, o facto de ter perdido a mulher, a companheira de uma vida... tudo isso temlevado o tio Mário a estar diferente".

Aliás, Mário Soares, cuja última aparição pública aconteceu no dia 28 de Setembro, aquando de uma homenagem a Maria Barroso, na sede da Cruz Vermelha, instituição à qual a antiga primeira-dama presidiu. No último mês era acompanhado em casa, em permanência, por uma equipa de enfermeiros, e tinha deixado de reconhecer algumas pessoas.

"O meu irmão Mário esteve há 15 dias em Portugal. O Mário viveu com o tio em Paris,antes do 25 de Abril,sempre foram muito companheiros e é o sobrinho que tevemais afinidades comele, quando esteve no exílio.E o tio não falou como meu irmão porque não o reconheceu", admite Eduardo Barroso.

"Portanto, agora qualquer coisa pode abalar a estrutura total.Não perdemos a esperançadequeotioreajaaesta situação mas...Não está consciente.Nãome reconhece, não sabe quem sou".

Apenas os filhos, Isabel e João Soares, permaneciam na consciência do antigo Presidente ainda mais depois de perder a sua mulher", explicou, aos jornalistas o sobrinho, Eduar dente. "Praticamente, só aos filhos reconhecia, ia dar um beijinho".

O apoio de Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente é amigo de infância de Eduardo Barroso. E, foi dos primeiros a ir ao hospital visitar o líder histórico do PS. "O Marcelo é o meu melhor e maior amigo! Disse-lhe: ‘não vás, eu ainda não fui vê-lo, vou depois dos exames, mas de facto ele veio". Só que, perante a situação clínica e estado muito debilitado de Mário Soares, os filhos, João e Isabel, preferem que o antigo Presidente não receba visitas.

"A família não quer que ninguém veja o pai, o tio, o ser humano como ele está neste momento. Ninguém gosta de devassar essa intimidade". Recorde-se que, logo após ser eleito,Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de ir a casa de Mário Soares, dar-lhe um abraço.

"Foi engraçado, porque ambos tratavam-se por Presidente.O tio respondia:‘Não, agora o Presidente é você’. O Presidente tem sido  impecável e não me surpreende". 

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