Sandra Tsiklauri, ou Alexandra, a menina que emocionou o País em 2009 ao ser obrigada a deixar a família de acolhimento para ir viver com a mãe biológica na Rússia, está a fazer 16 anos de idade esta quarta-feira, 3, e garante que quer regressar a Portugal, mas só daqui a dois anos.
Boa aluna do russo, Sandra esqueceu a língua portuguesa, que dominou até pouco depois dos 6 anos, e agora vive uma rotina tranquila em Pretchistoe, no centro da Rússia europeia. Joga voleibol, quer ser jornalista e tem um namorado.
"Recordo que a família em Portugal era grande, todos sentados à mesa. Recordo que quando vim para cá pensava ver neve mas o tempo estava como hoje", disse a jovem em entrevista à 'Nova Gente'.
A história de Sandra já nem é comentada nos círculos mais próximos. "Claro que todos recordam, mas não abordamos este tema. É uma questão familiar. Eu era pequena, penso que isso faz parte do passado. Já passou muito tempo", comenta.
Dos laços portugueses, a jovem continua a manter contato com os pais de acolhimento, Florinda Vieira e João Pinheiro. "Correspondemo-nos. Eles escrevem-me em português, eu traduzo com a ajuda da Internet e respondo-lhes da mesma forma. Temos relações normais, ninguém tem nada contra ninguém.
Sandra garante que não sente vontade de visitar Barcelos agora. "Quero ir quando fizer 18 anos para ver tudo com os meus olhos", explica.
Sobre a repercussão da sua história, a jovem confirma que leu "tudo", inclusive a onda de pedidos para que ela ficasse no nosso País. "Teria sido bom se tivessem chegado logo a um acordo", comenta.
Polémica já tem 10 anos
Vai fazer em maio 10 anos que Sandra embarcou de Lisboa para Moscovo, onde estava prestes a deixar para trás a primeira parte da sua infância.
Tinha vivido até então em Barcelos, no norte do País, com João e Florinda, que entretanto batizaram-na de Alexandra enquanto a mãe biológica, Natália Zarubina, trabalhava de empregada de balcão, de forma ilegal.
Natália, então com 34 anos, foi deportada para Rússia e assim começou uma batalha judicial de dois anos, em que ela saiu vitoriosa. O público, no entanto, pedia que Sandra ficasse em Portugal e julgava Natália pelo seu modo de vida - a mãe biológica era alcoólica.
Em Pretchistoe, a 397 quilómetros a norte de Moscovo, esperavam por Sandra os avós maternos, Olga e Serguey, bem como a irmã nove anos mais velha, Valéria, que foi sempre educada longe da mãe. O pai, o ucraniano Gheorghi Tsiklauri, também estava ilegal em Portugal e manteve distância do caso - apenas apoio a decisão da antiga companheira.
Sandra agora vive com a avó e a irmã, num apartamento com melhores condições do que a casa em que foi viver em 2009. A mãe mudou-se para Iaroslav a 125 quilómetros a sul da casa da filha e trabalha numa loja.