
O vice-almirante Henrique de Gouveia e Melo deixou a vida discreta para passar a ser recebido nos locais por onde passa com elogios de uns e a ser chamado de "assassino" por outros. Ainda no último sábado, 14, o coordenador nacional da 'Task Force' para o Plano de Vacinação contra a covid-19 viu algumas dezenas de manifestantes juntarem-se em Odivelas para criticar a vacinação dos jovens. Críticas essas que ele chamou de "obscurantismo".
Mas afinal quem é o homem que rejeita uma carreira na política e foi chamado para pôr a vacinação em ordem nesta altura de pandemia? "Sou uma pessoa muito aborrecida na minha vida diária. Estou de tal maneira focado nas coisas que tenho de fazer que roubo a paciência às pessoas que vivem comigo", disse o vice-almirante numa entrevista recente ao 'Nascer do Sol', a mesma em que recordou a infância livre em Moçambique, e o início da paixão pelo mar.
"Eu gostava de vela, de nadar, e via no mar a grande oportunidade", disse o vice-almirante, de 60 anos de idade, explicando o que o levou à escola naval. Mais tarde inscreveu-se num curso de submarinista, para desafiar o "autocontrolo" que tanto gosta na sua personalidade. "Tenho uma vida mental que se abstrai completamente da parte física. De facto, não se podia tomar banho, mas a transpiração, o suor, os cheiros, deitar-me na cama transpirada de outro camarada não me fazia qualquer confusão".
Depois desta declaração, não é difícil imaginar alguém que não gosta de excessos. Bebe "apenas para fazer um brinde". "Não gosto. Beber e sentir que podia perder o controlo fazia-me muita aflição. Uma vez, bebi uma cerveja: aquilo era amargo. Foi a última", contou àquele semanário.
"Sempre fui muito rigoroso. Acho que a falta de rigor é falta de disciplina e falta de disciplina é descontrolo. Odeio o descontrolo", acrescentou noutro momento da entrevista.
E quando tem motivos para comemorar, Gouveia e Melo revelou qual é o cenário ideal das suas festas. "Das missões mais importantes que fiz foi essa dos 31 dias [num submarino]. Até já contei isto. Quando cheguei estão lá balões, música... Odiei aquilo. Queria ter chegado da forma mais discreta. Queria ter feito o que fiz todos os dias: chegava, ia tomar café com o meu comandante, conversávamos ali 20 minutos, eu ia para o meu gabinete, ele ia para o gabinete dele e depois ia para casa ao final do dia. Isso era o suprassumo da barbatana: ter feito aquele feito, ir beber o café e ir para casa. A festa estragou aquilo tudo".
Quando 70% da população estiver com a vacina completa em Portugal, o vice-almirante tem um plano semelhante para celebrar a meta. "Vou dormir mais cedo e profundamente. E acordo no outro dia muito mais tarde. O meu sistema está de tal forma saturado que já não sinto as coisas normais", contou.