"Na última vez que me falou era hora de almoço e quis contar-me do tanto que tem ainda para fazer na proteção das crianças mais desamparadas", começa assim o 'Postal do Dia' de Luís Osório sobre Manuela Eanes. Continua o escritor: "Das dezenas de conversas que ainda lhe faltavam, das pessoas que precisava de sensibilizar, dos argumentos irrefutáveis, das cabeças duras de alguns, da extrema convicção com que encarava todos os princípios das manhãs."
Escreve Luís Osório: "'Sabe, Luís… os meus olhos já viram tanta coisa. Tantas crianças que assistiram à morte das mães, crianças para quem a normalidade eram os espancamentos constantes, as violações domésticas, crianças que se foram deitar anos a fio sem saber se a sua mãe poderia resistir mais um dia'", terá dito a ex primeira-dama ao conhecido escritor de forma a justificar a sua luta em prol das crianças.
O 'Postal do Dia' sobre Manuela Eanes prossegue: "Ela vai à luta todos os dias. E telefona, telefona, telefona. E chateia. Incomoda. Persiste. Não tinha de o fazer. E não gosta que se saiba. Mas faz. E vai. E assume o estatuto que tem para que ao menos a possam ouvir. 'Peço desculpa de incomodar, é a Manuela Eanes e adoraria que me pudesse dar dois minutos do seu tempo'. É isto que diz aos que não conhece. Como se fosse ela que estivesse a pedir um favor, como se não fosse uma das mais extraordinárias portuguesas, alguém que, como Ramalho Eanes, sempre fez o que tinha em cada momento de ser feito. Sem bicos dos pés, sem cinismo, sem ressentimento, com um profundo sentido de responsabilidade."
Termina Luís Osório: "Ele. E ela. Manuela que a esta hora deve estar ao telefone. 'Peço desculpa de incomodar'. 'São dois minutos'"