António Ramalho Eanes foi Presidente da República entre 1976-1986, ou seja, fez dois mandatos. Agora, com a morte de Francisco Pinto Balsemão, Luís Osório considera que Eanes, de 90 anos, "é o único que nos resta entre os mais destacados fundadores da nossa democracia".
Na crónica 'Só Entre Nós' que escreve para o 'Jornal de Notícias' escreve o jornalista a propósito do antigo Presidente da República: "António recebeu a notícia da morte de Francisco com tristeza. Não se tinham dado bem em vida, é verdade. Não confiavam um no outro, mas quarenta anos depois de um ter sido Presidente e o outro Primeiro-Ministro, quase tudo ficara esquecido. A notícia abalou António Ramalho Eanes que escreveu, falou, abraçou os filhos de Francisco Balsemão e esteve presente na despedida de uma amizade nunca exercida."
E sublinha Osório: "Agora, é o único que nos resta entre os mais destacados fundadores da nossa democracia, talvez o mais consensual e independente, talvez o menos permeável às luzes da ribalta." E passa, então, a revelar como é o dia a dia de Ramalho Eanes.
"Eanes trabalha todos os dias, preocupa-se todos os dias com o país, tenta aprender uma coisa nova todos os dias, lê um poema todas as noites, faz telefonemas, intercede e é intercetado sempre que sai à rua – uns por o desejarem abraçar, outros por precisarem de uma palavra sua, há também os que querem falar, desabafar, dizer que no seu tempo é que era", conta o escritor.
Avança de seguida pormenores mais pessoais: "Depois, em casa, sossega com Manuela. Tratam um do outro, existem um para o outro. Mais os dois filhos e os três netos, a Joana, o António e a Madalena que, se as contas não me falham, frequentam o liceu."
Termina Luís Osório: "Imagino que, de olhos fechados, regresse à infância em Alcains, aos lagares de azeite, às estórias de lobos perdidos, aos canteiros a quem nunca faltava trabalho, ao desejo de ser médico. Com a morte de Balsemão só nos resta um. Que o tratemos bem, que o abracemos em vida, que lhe suavizemos o medo… não da morte, mas do destino do país que ama."