
Ricardo Batista Leite é médico infeciologista e está desesperado com o que viu no Hospital de Cascais. O clínico e político faz voluntariado naquela unidade hospitalar e relatou o que viveu no turno de 12 horas: "Nunca vi morrer tanta gente", lamenta, dando conta que a situação é dramática e que os médicos e enfermeiros e assistentes operacionais não têm mãos a medir.
"Estive este sábado mais uma vez como médico voluntário no serviço de urgência do hospital de cascais – mais especificamente no chamado ‘Covidário’ que dá resposta aos doentes e suspeitos COVID-19. Nunca vi tantas pessoas morrerem num só turno de 12 horas. A dor e o sofrimento são indescritíveis. A sensação de impotência por não podermos fazer mais. Vi uma colega médica a chorar depois de sair do covidário mais de 5 horas depois do término do seu turno", relata o médico, que costuma também comentar na CMTV a situação pandémica de Portugal.
"Não se conseguem acompanhar todos os doentes a todo o tempo. Um doente de cada vez. Fazem-se escolhas tão difíceis sobre quem tem maior probabilidade de morrer, faça-se o que se fizer. É devastador ver equipas de médicos forçados escolher quem são os doentes com maior probabilidade de viver para os poder assumir como prioritários. Estamos em pleno campo de batalha no qual as emoções têm de ficar de lado… mas na realidade ficam apenas recalcadas. Chora-se quando se chega finalmente ao carro no final do turno, ou a casa. Ali no covidário o foco é necessário e absoluto", diz.
O vídeo que gravou e partilhou nas redes sociais tornou-se viral e mostra como é a realidade por dentro dos hospitais, que estão à beira da ruptura perante a enormidade de casos de doentes infetados com covid. A situação é, garante, muito complicada: "O cenário é de guerra e estamos a perder. Está na hora de dizer basta."
Veja na íntegra o vídeo com o relato de quem sabe e vive por dentro o que se passa num covidário.