Casou com Felipe VI em 2004. Contra tudo e contra todos. Os monárquicos mais tradicionais e conservadores – com a família Borbón a tomar a dianteira - detestaram-na de imediato. Já o povo, em geral, olhou com desconfiança para Letizia. Muitos não acreditaram que estivesse à altura do papel que lhe era exigido. Mas, ainda assim, foi-lhe dada a hipótese de provar o que valia. E a antiga jornalista da TVE não se fez rogada.
Provou ao longo das últimas duas décadas que, afinal, era a mulher certa para estar ao lado do atual rei. Muito poucas – mesmo as que tivessem sido criadas para ser princesas – estariam tão bem preparadas para a função como estava [e continua a estar] a mulher de Felipe VI. Determinada, devidamente empenhada e muito trabalhadora Letizia não permitiu que alguém lhe apontasse o dedo por falta de dedicação à instituição que passou a representar. Quis mostrar que não era por ser plebeia que não poderia ser tão ou melhor rainha que aquelas que nasceram de sangue azul.
"RAINHA, NÃO TE MERECEM"
Só que todo este empenho não foi suficiente para "acalmar as hostes". Mesmo dando provas de que é a melhor entre as melhores, Letizia foi vítima dos seus inimigos e detratores. Pelo menos é isto que dizem todos aqueles que acabaram por se render à antiga jornalista da estação pública de Espanha. O apresentador Jorge Javier Vázquez acaba de escrever uma carta aberta com o seguinte título: ‘Rainha, não te merecem’. Neste longo texto publicado na revista ‘Lecturas’ aquele que também é escritor, ator e produtor teatral está convencido de que o maior erro de Letizia foi ser ingénua. "Tu, que sabes o que significa o verbo ‘trabalhar’, pensavas que ao dedicares-te com profissionalismo ao ofício de reinar já estava tudo resolvido. Mas não. Esqueceste-te de algo muito importante: que ocupar um trono significa submeter-se à intriga. Ser estratega. Rir-se das graças de pessoas que detestas. Resumindo: não ser a própria pessoa na maioria das ocasiões", reflete Jorge Javier Vázquez.
O apresentador deixa também um aviso à mulher de Felipe VI: "Muitos dos que cumprimentam com um sorriso detestam-te em privado. O que acontece Letizia, e perdoa-me que te diga, é que ficaste sem público". E acaba por fazer um alerta: "Olha, rainha, não gostaria que dentro de 20 anos falássemos de ti como fazemos em relação à rainha Sofia. Parece-me que já somos mais evoluídos – como seres humanos, como sociedade – para não ter de aguentar qualquer coisa que nos façam para ver o teu filho/filha reinar." E diz ainda Jorge Javier Vázquez: "Gostaria que fosses feliz, mas um palácio é o lugar menos indicado para sê-lo." Curiosamente, não foi apenas o apresentador a dedicar o seu espaço semanal da ‘Lecturas’ a Letizia. Também a conhecida jornalista Pilar Eyre decidiu discorrer – nas páginas da mesma publicação – sobre a "solidão da rainha".
"A SOLIDÃO DA RAINHA"
Aquela que é considerada uma das maiores críticas do rei emérito, Juan Carlos, não tem dúvidas: há meses que Letizia luta contra as intrigas e conspirações que têm feito contra si. "O desamparo de Letizia durante o desfile militar [no passado dia 12 de outubro] deixa a descoberto a sua situação: há meses que luta contra os poderosos que querem destabilizá-la e minar o seu trabalho," escreve Pilar Eyre.
"Sozinha, gelada como um passarinho molhado. Com um gesto de resignação e um olhar triste, esta imagem do dia 12 de outubro resume muito bem, para mim, o estado atual da nossa rainha. Os soldados, o chefe da sua casa civil, até mesmo o seu marido, viraram-lhe as costas e ela encolheu-se num canto da tribuna enquanto a humidade que subia pelos seus sapatos envolvia o seu corpo e talvez também a sua alma. É verdade que a imagem durou poucos segundos, até que a filha assumiu o comando e se dirigiu a ela com um gesto protetor. Letizia apreciou tanto que parecia que a menina era ela e Leonor a adulta, mesmo tendo apenas 19 anos", é desta forma que a escritora e especialista em assuntos da realeza viu o que se passou no passado sábado quando os reis de Espanha e a herdeira do trono celebraram uma data tão importante para o país vizinho: Dia da Hispanidade.
INSÍDIO E MALEDICÊNCIA
Eyre continua a discorrer: "Depois, tornou a sentar-se docilmente na cadeira, apoiando os pés na trave para evitar o tapete encharcado e continuou o resto do desfile militar com um gesto atento e respeitoso no seu rosto magro. Letizia, luta contra os elementos há meses, e não me estou a referir exatamente à chuva. Gota a gota, as forças obscuras libertam o seu veneno. Ontem, saíram algumas fotos indiscretas do seu passado, hoje outras em que está horrível e com a expressão alterada [a revista 'Hola', considerada a publicação mais próxima da família real fez o impensável: publicou fotografias de Letizia sem maquilhagem. Mostram o seu rosto magro e envelhecido na capa]. Tudo parece destinado a desestabilizá-la e minar o trabalho que, bem ou mal, tem de levar a cabo. E os rumores, a enlouquecedora insídia, a maledicência anónima que estão por trás do seu sogro [o rei emérito Juan Carlos I]."
A conhecida jornalista catalã defende a rainha levantando uma questão pertinente: "Como vai ela querer dar esta imagem tremenda da coroa, a mesma coroa que a sua filha ostentará? Dão nomes aos seus infinitos amantes. E os óvulos [Jaime Peñafiel alegou que Letizia usou óvulos da sua irmã Erika para engravidar de Leonor e de Sofia]… é indiferente que o negues, que digas que se pode acusar a rainha de muitas coisas, mas que isso é mentira e acima de tudo impossível. Que é grotesco. A conclusão é de que ‘se o rio soa é porque água leva’ [um ditado popular muito idêntico ao ‘se há fumo há fogo’]."
EM DEFESA DE LETIZIA
Sobre os autores da suposta conspiração contra Letizia, Pilar Eyre avança: "Não sabemos quem são, mas podemos adivinhar. São poderosos, não têm limites nem compaixão e a cada dia ganham mais seguidores para a sua causa. E qual é essa causa? Destruir a monarquia? Não, destruir Letizia. Tão claro quanto isso. Letizia, a vermelha; Letizia, a feminista; Letizia, a ateia; Letizia, aquela que dominou o marido; Letizia, que não quer curvar-se, cortejar ou fazer parte do Gotha europeu. A asturiana, a "podemita" [simpatizante do partido político espanhol ‘Podemos’] infiltrada; a jornalista", opina a especialista em assuntos da coroa de Espanha. Acrescenta que este grupo de detratores querem "que se vá, que deixe o marido e as filhas, que desapareça!" Pilar Eyre não tem dúvidas que a intenção é fazer com que a rainha "se sinta encurralada e no final diga, não vale a pena e desista. Isolá-la, assustá-la, perturbá-la."
Contudo, a jornalista está convencida de que Letizia conta com o apoio de peso, o maior de todos: o do seu marido: "Menos mal que Letizia conta com um apoio importante: o marido. O facto de já não ser seu marido no sentido estrito da palavra não significa que ambos não tenham um projeto comum. Felipe percebe que, nesta batalha pelo seu futuro, precisa dela para salvar uma coroa que estava quebrada e manchada quando ele a tirou da lama há 10 anos e a ergueu de novo. Foi os dois fizeram isso, com muito trabalho e disciplina, para conseguirem passar o ceptro à filha. E o principal inimigo desse projeto no momento é o pai dele [Juan Carlos]…"
