
No último verão, depois do turbilhão e do pesadelo da pandemia, os banhistas da Praia Verde, no Algarve, ficaram boquiabertos ao verem no areal, fresca e faceira, a ministra da Saúde em biquíni verde e amarelo e telemóvel pendurado ao pescoço, sempre sorridente, a passear no areal ao lado do marido. Marta Alexandra tinha mais do que razões para sorrir, apesar do marido, Jorge Manuel, não ter mostrado os dentes, à sombra do seu chapéu de palha e aba.
O casal não tem filhos, apesar de Jorge os ter tido de um casamento anterior e de a jovem ministra (47 anos) estar por conta disso prestes a ser "avó", mas acabaram no último ano e meio por andar com "uma menina" ao colo – A pandemia.
Certamente que a Covid-19 trouxe alguns cabelos brancos a Marta Alexandra, mas nada que uma boa tinta sem amoníaco, mais ecológica e saudável, claro, não resolva, devolvendo-lhe o louro natural. Já Jorge não precisa de camuflar os estragos das preocupações pelas quais a mulher deu a cara desde que o vírus se instalou em Portugal em março de 2020, pois o seu cabelo alvo não é para esconder. É currículo.
O CASAL "BARRA" EM SAÚDE
Juntos, os dois formam o casal que mais percebe de temáticas de Saúde, em especial de Gestão de Saúde, em Portugal. Jorge Manuel Trigo de Almeida Simões é barra no tema e professor catedrático convidado, com agregação, no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, mas também, na Universidade de Aveiro.
O seu nome consta no Conselho Geral da Universidade Nova de Lisboa e também no organigrama lusitano do Observatório Europeu dos Sistemas e Políticas de Saúde, uma entidade associada à Organização Mundial de Saúde (OMS). Ambas instituições com bastante 'pedigree' internacional.
Marta Alexandra Fartura Braga Temido de Almeida Simões é, contudo, o rosto mais visível de um "casal maravilha", e deita-se todos os dias com um dos maiores especialistas em Saúde Pública do nosso país.
Quase não precisamos de ser mosca para percebermos que trocam ideias e dicas em casa, quem sabe se até no travesseiro, sobre como gerir esse gigante chamado Serviço Nacional de Saúde, aturar os achaques da saúde privada, segurar os lobistas das farmacêuticas e dos equipamentos de saúde, aturar reivindicações de sindicatos e garantir que a Direção Geral de Saúde (DGS) responde atempadamente às maleitas dos portugueses. Em suma, uma medusa com muitos tentáculos.
UM CONSELHEIRO ROSA
O marido da senhora ministra, que a 15 de outubro de 2018 assumiu a pasta após a saída do antecessor Adalberto Campos Fernandes, já era um socialista dos quatro costados quando a mulher foi chamada ao palco ministerial. Um socialista conceituado e escutado pelos seus pares, tendo, inclusive, sido um dos conselheiros do falecido Presidente da República Jorge Sampaio no Palácio de Belém entre 1996 e 2006, quando este deixou o cargo e passou a pasta a Aníbal Cavaco Silva.
Depois, disso, o nome de Jorge Simões chegou várias vezes a ser apontado como ministeriável entre as hostes socialistas, tal é a sua elevada preparação em matéria de gestão de saúde.
Amigo do ex-ministro da saúde António Campos Correia, o seu nome chegou a ser ventilado nos corredores do Largo do Rato, a sede do PS, como putativo candidato ao cargo, mal os socialistas subissem ao poder, o que aconteceu em 2015, depois das desventuras da Troika.
E é precisamente em 2015, na viragem da famosa "geringonça", que o papelinho da tômbola rosa ditou que o titular da pasta da saúde seria afinal o até então responsável pela saúde os bancários portugueses. Coube a Adalberto Campos Fernandes ter o privilégio de subir ao 7.º andar do número 10 da Avenida João Crisóstomo, em Lisboa, a sede ministerial, e, uma vez mais, Jorge Simões ficou-se pela lista de possível ministro.
Entretanto, mesmo sem o título, Jorge Simões já era um homem forte no universo da Saúde em Portugal. Poucos meses depois do PS ter regressado ao poder, Simões assume a presidência do Conselho Nacional de Saúde, onde fica até 2018, deixando a Entidade Reguladora da Saúde, seis anos depois de ter conseguido uma cadeira.
O professor catedrático que estudou a sustentabilidade do SNS e andou a avaliar a viabilidade das parcerias público privadas na saúde, é um intelectual com obra publicada e amplamente divulgada em oito livros publicados e mais de 40 artigos académicos redigidos.
ADORA UMA BOA 'BRIGA'
A entrada da mulher no ministério da Saúde obrigou o marido, Jorge Simões, a deixou um cargo na área da Saúde para não gerar incompatibilidades. Jorge Simões largou a presidência do Conselho Nacional de Saúde quando Marta assumiu o novo posto no Governo e apenas disse que o fazia por "motivos pessoais".
O marido afastou-se da ribalta em termos de funções colegiais, mas não deixou de se armar em Dom Quixote, sem o escudeiro Sancho Pança, sem lança nem cavalo Rocinante, na defesa da honra da sua donzela Marta nas redes sociais. O especialista em saúde pública tem sangue quente e ferveu bem quando viu a mulher, e a Saúde em Portugal, ser atacada. Contabilizam-se na internet, pelo menos, três investidas técnico-políticas incendiárias, todas no Facebook.
A última foi quando se virou a um médico anestesiologista conimbricense que trabalhava num hospital privado, que se chama Nuno Freitas, que deixou um desabafo no Facebook a dizer que compreendia melhor o que era "morrer de socialismo" e Jorge Simões foi aos arames: "Ó Dr Nuno Freitas, tenho muita consideração por si, mas essa de morrer de socialismo ultrapassa a seriedade com quem, em regra, trata os problemas. Já agora, uma pergunta: porque não está nos CHUC [Centro Hospitalar Universitário de Coimbra] a ajudar os seus colegas exaustos?". Estas investidas foram entretanto apagadas. Não se sabe se o facto teve o dedo dos assessores da ministra, do gabinete de António Costa ou até se não terá sido o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a meter água na fervura.
ACERTOS DE CONTAS NA NET
As outras duas, só para os nossos leitores não ficarem com água na boca ou aos papéis nas pesquisas internéticas, tiveram a ver com uma polémica sobre escassez de vacinas levantada precisamente por umas declarações polémicas do Presidente da República. "Marcelo falta à verdade quanto à vacina da gripe: ele sabe que houve um reforço de vacinas em relação aos anos anteriores". Deu bomboca e Belém não gostou, mas calou.
Em novembro de 2018, também nas redes sociais, Jorge Simões pegou-se com o famoso médico social-democrata Ricardo Mexia, então na pele de presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, e tudo por causa de um artigo sobre futebol e eleições no Benfica.
"Este homem está em todo o lado: técnico do INSA [Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge], comentador televisivo, militante anti-governo, militante ativo do PSD, presidente da AMSP, candidato à direção do Benfica. Calma! Faça algumas escolhas e pense nos conflitos de interesse!". Mexia respondeu-lhe à letra: "Tirando o militante anti-governo, que não sou, assumo todas com orgulho. E com separação de funções", disparou, em direção ao truculento Jorge Simões.
O COZINHEIRO DE SERVIÇO
Para descomprimir do peso da pasta ministerial, e para mostrar que também é uma pessoa normal, a ministra Marta Alexandra já deu entrevistas em programas de entretenimento como 'Júlia', na SIC ou 'Dia de Cristina', na TVI, onde revelou pormenores lá de casa: Que gosta de ir sozinha (e sem seguranças) às compras no supermercado; que em casa tem sido Jorge Simões a cozinhar, e até confessou ser ele melhor cozinheiro do que ela, tendo-se Jorge aplicado no fogão. Ficou-se por saber, entre tachos e panelas, qual é a receita em que Jorge Simões é, afinal, o grande especialista. Quem sabe não será "Bacalhau com Todos".