
Em abril de 2019 ainda poucos civis sabiam quem era o então Vice-Almirante Henrique de Gouveia e Melo, de 61 anos, um futuro herói nacional em potência. Uma pandemia era, então, coisa que estava muito longe do nosso imaginário coletivo, e o graduado oficial de Marinha era, à época, mais dado a submergir no fundo do mar, e a por lá ficar muitos dias, com o submarino 'Tridente' que comandava, do que a dar nas vistas nas glamorosas festas de croquete.
Relativamente anónimo, e longe de imaginar que um dia os holofotes da opinião pública estariam apontados a si, Gouveia e Melo foi à faustosa festa de inauguração do navio oceânico World Explorer, mandado construir pelo armador e empresário de turismo e comunicação social, Mário Ferreira, nos estaleiros de Viana do Castelo, com a discreta namorada, uma ainda mais ilustre desconhecida dos portugueses em geral.
O casal, reservado, posou para a fotografia e, para a posteridade, ficou apenas a imagem de um militar da Armada com farda, lacinho e condecorações ao peito e de uma senhora com uma túnica negra até aos pés a agarrar a mala com as duas mãos - imagem que surgiu publicada na revista Caras.
Na legenda poderia bem aparecer a frase: "Vice-Almirante Gouveia e Melo e a amiga diplomata Cristina Castanheta". E o assunto morria ali, numa revista de sociedade.
Até esta semana.
Um ano e meio depois da festa no norte - onde a grande estrela foi a ex-primeira-dama de França e cantora de origem italiana Carla Bruni -, com o afastamento ao fim de 71 dias da liderança da 'Task Force' da Vacinação contra a Covid-19 de Francisco Ventura Ramos, o por quatro vezes secretário de Estado da Saúde e eterno candidato a ministro socialista da pasta, eis que emerge da sombra o seu número dois, um militar, com quase dois metros de altura, que viria a tornar-se no novo herói dos portugueses, Gouveia e Melo.
Um ano e meio depois, o herói da vacinação toma posse como novo Chefe de Estado da Armada e quem surge na tomada de posse para os cumprimentos da praxe? Um dos filhos e a atual companheira, Cristina Castanheta.
Estava quebrado o tabu, por vontade do próprio militar.
A COMPANHEIRA QUE AFINAL TAMBÉM É UMA FIGURA PÚBLICA
Mas quem é afinal a mulher misteriosa que vive com o agora Chefe de Estado-Maior da Armada, o recém-empossado Almirante Gouveia e Melo, que ainda se mantém oficialmente casado - de acordo com os registos oficiais - com a psicoterapeuta Carol Maria Olga Costeloe de Gouveia e Melo, de quem tem dois filhos, o médico Ryan Melo e o informático Eduardo Melo?
Fomos descobrir.
Filha de pai madeirense e de mãe transmontana flaviense, Maria Cristina nasceu a 19 de janeiro de 1965 em Lisboa (está por isso a poucos dias de celebrar 56 anos) e nunca se casou.
Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Ingleses e Alemães pela Universidade Nova de Lisboa, e teve entrada direta, em 1994, na carreira diplomática, onde foi adida de embaixada, depois secretária de embaixada, até ser chamada a assumir responsabilidades na área da Defesa e da Segurança Nacional em janeiro de 2004, tendo passado, durante o primeiro Governo de José Sócrates a chefiar a Divisão na Direção de Serviços das Organizações Económicas Internacionais da Direção-Geral dos Assuntos Multilaterais.
A CONSELHEIRA DE TOPO
Depois dessa última nomeação, a carreira de Maria Cristina Xavier Castanheta foi sempre a subir: passa pelos Assuntos do Mar e do Ambiente, pela área das Organizações Económicas Internacionais e em 2010 está colocada na embaixada portuguesa em Londres como Conselheira de Negócios, num posto que a posiciona como sendo a número quatro da representação diplomática portuguesa na Grã-Bretanha.
Ali fica até 2015, a maior parte do tempo a trabalhar com o conceituado Embaixador João de Vallera e em articulação com o Cônsul Fernando D’Orey Figueirinhas e o conselheiro económico Luís Miguel Fontoura.
A chegada de António Costa ao poder, em finais de 2015, faz com que Maria Cristina Xavier Castanheta, sempre próxima do universo socialista, regresse a Portugal e assuma funções como Chefe de Gabinete do Secretário de Estado da Defesa Nacional, o socialista Marcos Perestrello, número dois do ministro José Azeredo Lopes, entretanto exonerado.
Sendo quadro interno do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Cristina é requisitada pelo ministro Augusto Santos Silva, o braço direito do primeiro-ministro António Costa e um homem que conhece como poucos a máquina e os bastidores do PS, para trabalhar no seu gabinete. Em janeiro de 2020, a seu pedido, a diplomata pede a exoneração do cargo e deixa o Governo. Mês e meio depois estoira a pandemia da Covid-19 em Portugal.
Entretanto, o discreto casal continua a viver junto como namorados e Henrique de Gouveia e Melo já não reside sob o mesmo teto que Carol Costeloe, com quem casou a 22 de março de 1986 na Parede, em Cascais pela igreja e de quem nunca se divorciou.
A PSICÓLOGA DAS PERDAS
Há mais de duas décadas que Carol Costeloe é psicóloga e faz um trabalho notável no que diz respeito ao comportamento humano.
Estudou psicologia Clínica no Open University, no Reino Unido, em 2000, Counselling no ISPA, em Portugal, dois anos depois, e fez um doutoramento em Ciências da Saúde na Universitdade de Kent, novamente em Inglaterra, em 2013. Em 2020 terminou a formação em aromaterapia e reflexoterapia no Instituto Português de Naturologia.
A psicóloga Carol é mesmo muito precisa na definição do seu trabalho: "Trabalho com pessoas com problemas emocionais ou do foro afetivo, tais como ansiedade, stress, depressão, problemas relacionais em casa ou no trabalho, autoestima, solidão e à procura dum sentido para a vida". "Acompanho pessoas em luto, que seja por morte, separação/divórcio ou outro tipo de perdas. Dou apoio existencial a pessoas a lidar com uma doença grave, tal como o cancro ou outra doença degenerativa", explica, com detalhe, na sua página oficial.
Até agora Gouveia e Melo preferiu manter a relação com Cristina Castanheta o mais discreta possivel. Nunca falou sobre a mesma. Inclusivamente, numa recente entrevista no programa 'Alta Definição', na SIC, deu prioridade a falar sobre os filhos e como a mãe destes, a psicóloga Carol, foi peça fundamental na sua vida, na educação dos rapazes e para que seguisse em frente com a carreira.